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Wednesday

Eu estava um pouco ansiosa de fato, sem saber por qual fato, como se qualquer tensão nervosa do meu corpo pudesse se fazer presente, me mostrando cada fibra que existia sobre os meus músculos, não tendo motivo necessário para isso de fato, eu apenas encontraria uma paciente longe do meu consultório, em um local público, pelo motivo que a mesma havia tido um pequeno surto e uma pequena crise sobre o que eu abordava ser algum tipo de distúrbio ou transtorno, eu tiraria aquilo a limpo quando ela chegasse, mas esse era o problema, ela não chegava nunca.

Tudo bem, faltava dez minutos para as três, horário no qual eu havia combinado com ela, talvez eu tivesse chegado cedo demais ou talvez tivesse com uma certa expectativa em vê-la, descartando isso no mesmo segundo, por que eu teria expectativas em encontrá-la? Sendo que eu a via todas as quartas em meu consultório, não havia motivo plausível para aquele sentimento, e eu não perderia o meu tempo tentando entendê-lo.

Duas e cinquenta e oito, foi verificado por mim mais uma vez, e ao longe pude ver Enid se aproximar com calma e sem pressa, ela não estava com seu sobrinho, o que me deixou mais nervosa ainda, pois ter a criança ali me daria algo em distração, caso em algum momento ficássemos em um silêncio meramente desconfortável de alguma forma. Mas tratei de mudar a minha expressão facial de desesperada para amigável, e feliz com a sua presença, o que eu realmente estava, em algum lugar dentro do meu ser, eu estava. Ela havia chegado às três horas, em ponto.

Tão pontual que até me assustava um pouco.

- Enid - cumprimentei com um sorriso pequeno, ela me deu um aceno simples e mediano, puxando a cadeira e se sentando em minha frente - Fico feliz que tenha vindo.

- Você me chamou, e eu vim.

- Não, eu te convidei, e você veio - a corrigi, ela deu de ombros.

- É a mesma coisa.

- Não, não é. Você teve o livre arbítrio de querer vir ou não, e você veio.

- Pensei que conversaríamos como duas pessoas normais, não como uma psicóloga e uma paciente.

Me assustei com sua resposta curta e direta, mas logo tratei de ignorar aquilo, ela era assim, eu ja havia entendido, Enid não enrolava com as suas palavras e muito menos com o que pensava, ela apenas dizia e se doesse o problema claramente não era dela, ela só não parecia se importa ou não ter um sentimento de afeto, tirando o qual direcionava ao seu sobrinho, sendo sua única exceção.

- Bom...eu devo admitir que é estranho ter uma conversa com um paciente meu, fora do meu consultório - abordei com cuidado, finalmente tendo os seus olhos nos meus - Então me desculpe caso eu não seja a melhor pessoa para conversar, eu não prático conversas sociais com tamanha frequência.

- E quem pratica conversas sociais hoje em dia? - respondeu, um pouco irônica, ela estava certa ninguém mais conversava pessoalmente, e se conversava, era tão falso, tão esquisito.

- O que aconteceu com você ontem?

- Eu já falei.

- Me falou sobre os cereais, mas não me explicou o motivo da sua aflição.

- E você acha que eu sei? - a sua voz havia ficado baixa, como se ela sentisse a dor ou o peso de alguma coisa, daquela coisa relacionado sobre o ocorrido no dia anterior - Só tenho vontade de arrumar, e quando não fica certo, e quando não fica padronizado,dói, é como se me machucasse. Vermelho com verde não combina, eles não podem ficar um ao lado do outro, assim como flocos pequenos devem ficar longe dos flocos grandes...é só...uma grande confusão.

- Como você se sente caso...eu faça isso? - alcancei um guardanapo o colocando de uma forma torta sobre o nosso meio, Enid o olhou, vi os seus dedos se reprimirem, descendo provavelmente até as suas pernas, esfregando as palmas sobre o tecido da calça, seus olhos se fecharam, sua cabeça inclinou um pouco, como se ela segurasse o ar e de fato ela segurava.

Peguei o exato momento que ela liberou o oxigênio de seus pulmões, abrindo os olhos e arrumando o guardanapo no nosso meio, uma, duas, três vezes, até que estivesse de uma forma perfeita para ela, e depois que terminou de fazer aquilo estralou os seus dedos, nervosamente, os escondendo novamente abaixo da mesa, percebendo os meus olhos nela, o tempo inteiro nela.

- Me...me desculpe...

Enid tinha transtorno obsessivo compulsivo.

- Está tudo bem, você não precisa me pedir desculpas, você não fez nada de errado - tratei de acalma-la, os seus olhos pediam por socorro, por ajuda, e começou a me doer o seu olhar sobre mim, aquilo era mais doloroso que uma possível facada.

- Isa não entende isso, ninguém entende isso...eu também não entendo. As vezes cansa ser assim, pra falar a verdade, todos os dias são cansativos. E eu só queria acabar com isso de uma vez.

- Eu posso te ajudar com isso. Essa sensação, isso que você tem não ira embora, mas pode amenizar.

- Minha irmã diz a mesma coisa, mas não...não ameniza, nunca amenizou.

- E se fizermos da forma certa? Acha que pode dar certo? - meio duvidosa ela me encarou, as suas órbitas caindo para o centro da mesa, aonde ainda havia o pequeno pedaço de guardanapo sobre o nosso meio, a sua incerteza me atravessou e eu apenas não contive a vontade de segurar sua mão, meus dedos descansando covardemente sobre os seus, sem apertar, apenas caindo ali, o que me fez ganhar os seus olhos nos meus novamente - Eu posso te ajudar, mas eu preciso que você queira se ajudar também, porque apenas uma pessoa trabalhando é extremamente cansativo. O que você acha?

- Eu quero que você me ajudou...por favor...

- Então vamos fazer isso da forma correta, sem desistir, temos esse acordo?

- Não posso desistir?

- Não, você não pode desistir. Se você desistir, eu desisto também.

Essas palavras a deixou um pouco mais pensativa, tentando entender aonde estava se metendo e se deveria fazer aquilo, ela tinha que fazer aquilo...por ela...ela tinha que ficar bem e eu tinha que ajuda-la a ficar bem, custe o que custar, eu tinha que fazer aquilo.

- Eu não vou desistir de mim, Wednesday - sussurrou, eu apertei meus dedos sobre a sua mão e sorri esperançosa com aquilo.

- E eu não desisti de você, Enid.

The Psychologist - WenclairOnde histórias criam vida. Descubra agora