Rutura

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Olive

Saiu bruscamente sem dizer nada, vi-o subir as escadas e pouco depois desce-las com um maço na mão; ainda o chamei, contudo ele voltou a ignorar-me e saiu de casa, por isso segui-o até ao pátio.

- Jake vá lá desculpa. Provavelmente exagerei. - permanecia de costas para mim, observei-o dar uma longa passada no cigarro. - Odeio que me ignorem! - disse já novamente sem paciência para as crises existenciais dele.

Vira-se encurralando-me contra a parede e fixa-se no meu olhar, de repente o telemóvel dele vibra, ele deixa de me encarar e pouco depois de ver seja o que for que ele viu no telemóvel beija-me.

Afasto-o e limpo a sua saliva dos meus lábios.

- Passaste-te?? - pôs as mãos à cabeça, suspirou fundo, porém posteriormente encarou-me.

- É melhor ires pra casa. - respondeu baixo deixando aquele espaço; segui-o quando desceu as escadas (que ao que parece levavam a uma adega de vinhos mais caros que o meu próprio carro), eu continuava a tentar falar com ele, contudo assim que o vi pegar numa garrafa tive de intervir.

- Não, não, não. - agarrei o vinho. - Nós não fizemos um acordo pra eu te deixar enterrar assim, neste momento 'tás à minha responsabilidade.

- Olive baza a sério. - retorquiu, neste momento já num tom de voz mais calmo. Sim ele tinha batido no fundo.

- Quando é que os teus pais voltam com a Saddie? - encostou-se a uma parede e abriu uma garrafa.

- Daqui a dois dias. - disse dando o primeiro gole.

- Vai tomar um banho e ai de ti que bebas mais! Eu já volto.

Basicamente fui buscar o meu telemóvel para avisar a Nora que chegaria mais tarde a casa, não liguei aos meus pais pois sabia que com o trabalho deles é raro que me atendam na hora; entrei na cozinha dele e tentei fazer alguma cena com os ""alimentos"" que tinha, quando terminei foi ver se ele já estava no quarto. Encontrei o quarto pois era o único que tinha a porta aberta, era diferente do que eu observava da minha janela (não que o fizesse regularmente); como seria de esperar havia roupa espalhada por todo o lado, foi enquanto inspecionava aquele espaço que olhei para as fotografias com a Harper, «ui será que é por isso que ele tá assim?» ocorreu-me, contudo depois também me veio à cabeça... o beijo. 

Este rapaz deixa-me demasiado confusa.

Desloquei-me até à adega novamente; ainda lá estava, no entanto desta vez encontrava-se num estado mais deplorável.

- Rapaz eu só te pedi que não bebesses mais. - ajoelho-me ficando ao seu nível, dado que permanecia encostado a uma parede, agora de capucho na cabeça.

- Olive vai te embora. - pediu-me num tom "cordial".

- Agora já fiz o jantar pra nós os dois.

- Eu 'tou mal, não te quero magoar a ti também. Não a ti. - despenteei-lhe o cabelo tentando fazê-lo sorrir um pouco novamente, vi-o fixar-se no meu olhar.

- Não te preocupes comigo. - sorri. - Fiz uma espécie de massa com cenas que tinhas no frigorífico. - puxei-lhe a mão na tentativa de o ajudar a levantar-se do chão; ergueu-se ficando diretamente frente a mim, lá voltava eu a ter de lidar com a nossa diferença de alturas, ainda por cima de perto como naquele momento pior a minha situação.

- O beijo... - tentava falar, interrompi-o.

- 'Tou mesmo com fome, podemos ir comer? - não me respondeu com palavras apenas deitou a cabeça pra trás, fechou os olhos e suspirou, naquelas condições eu presumi que ele aceitasse ainda assim agarrei-lhe a manga da sweat e puxei-o comigo. 

Observei como só se movimentava minimamente coerentemente quando eu o guiava, era essa a nossa relação de proximidade neste momento: ele era um espaço escuro confuso aos olhos de uma luz que o tentava iluminar. 

Aconselhei-o:

- O melhor é ires pôr essa tua cabecinha - bati-lhe com um dedo na testa. - debaixo de água. Eu espero.

- Não eras tu que 'tavas a morrer de fome? - conseguiu questionar-me, ainda que ligeiramente desorientado.

- Vai só, antes que eu me arrependa.

O meu vizinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora