Através da minha janela

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Olive

Passei o nosso diálogo todo a olhar para o telemóvel. Era mais fácil, quer dizer vá lá, só tem 17 anos mas a estrutura dele era... impressionante. As madeixas claras, a profundidade dos seus olhos azuis, até o maxilar do rapaz, os lábios eu prefiro não pensar e esforcei-me ao máximo para nem sequer reparar, além disso ele tinha pequenas sardas no nariz. Saiu sem dizer nada a ninguém, aliás acho que foi eu a única que o viu ir embora, já que mais tarde quando estava sentada no sofá a falar com a Gwen por mensagens, ouço os pais perguntarem por ele.

- Saiu à 1 hora. - respondi.

- Liv querida, sabes se ele fui para casa? - questionou-me a mãe dele.

- Não faço ideia. Foi se embora sem dizer nada.

«Também não tinha de dizer só o conheci há 1 hora e meia» pensei para mim, por outro lado ser educado é de graça. Levantei-me, despedi-me da pequena Saddie e dos pais dela e fechei a porta do quarto. A primeira coisa que fiz foi pegar no papel com o número dele que deixei em cima da mesa, amaçá-lo e deitá-lo no lixo. Uma voz pergunta:

- Queres que to dê de novo? - virei-me para a janela; a única luz era a do caminho entre a minha casa e a dele e o brilho do cigarro que ele fumava.

- 'Há quanto tempo é que 'tás aí? E tavas a espiar-me?? - mantive alguma distância da janela

- Não. 'Tava a observar a vista que a minha janela tem. - constato:

- Fumas.

- Algum preconceito com vizinhos que fumem?

- Desde que o fumo não chegue a mim.

- Nem um bocadinho princesa. - disse expelindo o fumo quase para perto da minha janela

- Eles sabem?

- Nope.

- Então a próxima vez que fizeres isso de propósito talvez eles fiquem a saber. - sorri-lhe sarcástica e francamente desagradada.

- Agradecido. - respondeu-me irónico, fazendo igualmente um sorriso desagradado.

- Agradecida 'tava eu se pagasses o arranjo do meu carro.

- Eu disse que pagava.

- Amanhã de manhã vais com o meu pai?

- Não posso.

- E podes quando?

- À tarde.

- O meu pai trabalha.

- Vens tu comigo. - disse-me dando uma passada no cigarro; não lhe respondi logo pois precisei de pensar.

- Ok. - a minha mãe bateu à porta, fechei desesperada a cortina.

- Era só para te trazer um copo de leite antes de dormires.

- Obrigada mãe. - respondi com um sorriso forçado.

- Dorme bem Livi. - deu-me um beijo na testa.

- Tu também.

Assim que se retirou coloquei a mão no peito com o susto que tinha levado e voltei a desenrolar a cortina.

- Livi? Que tal o copinho de leite?

- Cala-te vai mazé' dormir.

- Que menina. - disse-me puxando o cigarro.

- Posso deixar a janela aberta e vestir-me em paz?

- Podes deixá-la aberta à vontade. Eu fico aqui.

Ignorei-o, fechei logo as persianas, tirei o vestido, a maquilhagem, fiz a minha skin care noturna antes de ir para a cama e pus o meu uniforme na cadeira do quarto para vesti-lo logo de manhã. 7:02 da manhã e lá estava a tocar "P.I.M.P" do 50 Cent, seria possível eu ter 8 horas de sono sem ser acordada por este estúpido? A música nem estava assim tão alta mas eu tenho um sono muito leve. Aproveitei o meu pique de energia derivado da vontade de gritar e preparei-me.

O meu vizinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora