Tudo o que queria

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Olive

Embrulho-me na multidão, enquanto sinto lágrimas escorrerem pelo meu rosto e sigo diretamente para onde sabia que havia álcool.

Jake

Estive uns 10 minutos à procura dela até a encontrar no pátio, onde me apercebo que bebeu o suficiente para me deixar levá-la a casa e neste momento até agradeço que tenha sido eu a trazê-la, pois assim posso levá-la. Sinto-me bué mal por esta miúda, tipo pelo que eu a fiz passar.

Foi uma viagem de carro em que cada segundo parado no semáforo fiquei a observa-la, ainda que não pudesse ver os olhos verdes dela, pois estavam fechados, podia ver o quanto estava magoada. Percebi o quão estúpida foi a forma como lhe falei; aliás, a forma como tenho lidado com ela este tempo todo.

Pego na Liv ao colo, ela cheirava estranhamente bem apesar do ligeiro cheiro a álcool. Coloquei-a na cama.

- É esta a tua prenda pra mim? Sair da minha própria festa pra te trazer a casa? - vendo que não responde depreendo que adormeceu. - O que eu não faço por ti olhos verdes.

Saí. Francamente pra minha sorte a festa já decorria a algumas horas, ou seja não demorou muito a acabar assim que voltei lá. Confesso que só regressei, pois tinha de falar com a Harper. Era a única coisa que me passava pela cabeça: minimizar a merda que tive a habilidade de fazer.

Olive

Acordei com uma dor de cabeça terrível, porém nenhuma dor se comparava àquela que senti ontem. Mas também já tomei uma atitude, é óbvio que ele não me vê como eu o comecei a ver, o melhor que tenho a fazer para o bem da minha sanidade mental é fingir que nunca senti nada quando o tinha por perto.

Nesse sentido falei com o meu vizinho assim que o vi sair de casa sorri e dei-lhe a prenda.

- Os óculos escuros são pra esconder a cara de ressaca ou pro brilho dos meus olhos não te ofuscar?

- Haha que engraçado.

- Ainda 'tás chateada com a cena de ontem?

- Bem, na verdade se alguém me trouxe a casa, calculo que devo a essa pessoa um agradecimento. Além disso eu já tinha bebido ontem e provavelmente não devia ter dito aquilo.

- Não, mas eu é que peço desculpa. Tu? Nunca podes pedir desculpa por te pôres em primeiro lugar. - um pequeno sorriso forma-se nos meus lábios.

- Toma. - entrego-lhe uma caixa (um par de fones). - Pra não ter de ouvir a tua música todos os dias de manhã quando 'tás a treinar.

- Acabas de dizer que me vês todos os dias a treinar?

- Às vezes tens uma t-shirt vestida.

- Bem então espero que tenhas aproveitado o conteúdo que viste.

- Nem um segundo. Tem um bilhete na caixa também, mas isso vês depois eu tenho de ir.

Esta última declaração não era mesmo uma desculpa: tinha o Cooper à minha espera e com a quantidade de vezes que ele tem tido tempo, depois daquela audição para um musical, não podia reduzir mais ainda a minha oportunidade de estar com um dos melhores amigos que conheço.

Na realidade fico extremamente feliz por ele, só há momentos (como este) em que tudo o que queria era ter o meu melhor amigo comigo.

Jake

Fico bem mais aliviado por ver um sorriso na cara da Liv; saber que ainda que a tenha magoado, apesar de poder assegurá-la de que nunca foi minha intenção, ela não mudam a forma de ser comigo, nem se afastou.

Ao princípio quando abri o bilhete não entendi, mas depois percebi que aquilo era uma lista de tudo o que ela tinha conseguido fazer por mim:

- Deixei de fumar
- Melhorei notoriamente as minhas notas
- Deixei de beber tanto café
- Passei a ser ligeiramente um melhor irmão
- ...

- Passei a ser uma pessoa melhor.

E quando leio aquela lista só consigo pensar no quão incompleta está, porque não há nada que aquela miúda não tenha feito por mim.

Ao ponto de se magoar a ela própria.

É tarde demais para lhe dizer que acho que estou apaixonado por uma gaja de olhos verdes, metro e meio de tentação, lábios inesquecíveis e uma alma melhor que qualquer outro elogio que posso ter dito nesta frase?

Provavelmente.

Mas eu vou dizer-lhe na mesma.

O meu vizinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora