𝑹𝑰𝑺𝑬 𝑶𝑭 𝑫𝑹𝑨𝑮𝑶𝑵𝑺 • 𝒈𝒐𝒕 𝒇𝒂𝒏𝒇𝒊𝒄𝒕𝒊𝒐𝒏

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DAERON TARGARYEN

No centro da Praça do Orgulho havia uma fonte de tijolos vermelhos cujas águas cheiravam a enxofre, e no meio da fonte erguia-se uma monstruosa harpia feita de bronze martelado. Empinava-se até seis metros de altura. Tinha rosto de mulher, com cabelos dourados, olhos e dentes de marfim. A água jorrava de seus seios pesados. Mas, no lugar dos braços, possuía asas, suas pernas eram as de uma águia, e atrás tinha a cauda enrolada e venenosa de um escorpião.

— A harpia de Ghis. — Disse-lhe sor Jorah. — A Antiga Ghis caíra há cinco mil anos, suas legiões foram despedaçadas pelo poderio de Valíria, suas muralhas de tijolos, arrasadas, suas ruas e seus edifícios, transformados em cinzas e brasas por fogo de dragão, os campos, semeados com sal, enxofre e crânios. Os deuses de Ghis estavam mortos, e seu povo também, esses astaporinos são mestiços. Até a língua ghiscariana estava quase completamente esquecida, as cidades escravagistas falam o Alto Valiriano de seus conquistadores, ou aquilo em que o tinham transformado.

— Mas o símbolo do Antigo Império ainda resiste aqui. — Disse Visenya, referindo-se a harpia. O monstro de bronze tinha uma pesada corrente pendurada das garras, com uma algema aberta em cada extremidade.

— A harpia de Ghis tem um relâmpago nas garras. Esta é a harpia de Astapor. — Constatou Daeron.

— Diga à prostituta westerosiana para baixar os olhos. — Resmungou o senhor de escravos Kraznys mo Nakloz para a jovem escrava que falava por ele. — Eu negocio carne, não metal. O bronze não está à venda. Diga-lhe para olhar para os soldados. Até os fracos olhos púrpura de uma selvagem do poente são certamente capazes de ver como as minhas criaturas são magníficas.

O Alto Valiriano de Kraznys era tortuoso, carregado com o rosnado característico de Ghis e temperado aqui e ali com palavras de calão de um comerciante de escravos. Daeron e Visenya compreendiam-o bastante bem, mas sorriam e se faziam de tolos. Visenya olhou sem expressão para a escrava, como quem se interroga sobre o que ele teria dito.

— O Bom Mestre Kraznys pergunta, não são magníficos? — A garota falava bem a língua comum, para alguém que nunca estivera em Westeros. Com não mais de 18 anos, tinha o rosto redondo e achatado, pele morena e olhos dourados de Naath.

— Podem ser adequados para as minhas necessidades. — Respondeu Visenya. Tinha sido sugestão de Jaehaerys que ela falasse apenas em dothraki e na língua comum enquanto estivesse em Astapor. — Fale-me de seu treinamento.

— Eles agradam à mulher westerosiana, mas ela não os elogia, para manter o preço baixo. — Disse a tradutora ao seu dono. — Quer saber como foram treinados.

Kraznys mo Nakloz inclinou a cabeça. Aquele senhor de escravos cheirava como se tivesse tomado banho em framboesas, e sua protuberante barba vermelha e negra brilhava de óleo. A mão direita empunhava um curto chicote de couro.

— Todos os porcos westerosianos são assim tão ignorantes? — Protestou ele, e Daeron agradeceu mentalmente por Jaehaerys não estar ali. Seu tio avançaria contra o mestre de escravos em sua primeira insolência. — O mundo inteiro sabe que os Imaculados são mestres de lança, escudo e espada curta. — Dirigiu a Visenya um largo sorriso. — Diga-lhe o que quer saber, escrava, e depressa. O dia está quente.

Isso, pelo menos, não é mentira nenhuma. Pensou ele. Um par de jovens escravas encontrava-se atrás deles, segurando por cima de suas cabeças um toldo de seda riscado, mas mesmo à sombra, Daeron sentia-se um pouco tonto, e Kraznys transpirava abundantemente. A Praça do Orgulho parecia estar cozinhando ao sol desde o nascer do dia. Daeron conseguia sentir o calor dos tijolos vermelhos sob os pés mesmo através do solado de suas botas. Ondas de calor subiam desses tijolos, estremecendo o ar e fazendo com que as pirâmides de degraus de Astapor que se erguiam ao redor da praça quase parecessem fazer parte de um sonho.