CAPÍTULO SEIS

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KILLIAN ROSSI

Eu observava a forma que ele estava encolhido contra o armário do vestiário, talvez ele tenha algum trauma? Bem possível.

Me aproximei com calma.

Vendo que possivelmente não era um trauma, talvez uma crise?

— Lucian? — O chamei, mas ele não se moveu, eu percebia a sua respiração pesada e seu olhar fixo ao chão cinza do vestiário — Luh? — Tentei novamente chamando a atenção do loiro.

— Você está me ouvindo? — Ele apenas me encara — Eu sei, você deve estar sentindo o ar indo embora, mas você tem que respirar fundo. Sinta o ar, sinta os seus pulmões o sugando e depois o solte pela boca. Com calma.

Ele franziu o cenho confuso.

— Não me olhe assim, parece que tem algo no meu rosto — Falo por costume — E eu não tenho um belo rosto feito você, eu queria ter, mas não tenho.

— Ma-mas você é bonito.

— Você acha?

Pergunto me aproximando mais dele e me sentando devagar em sua frente, sendo acompanhado por seus olhos.

— S-sim.

— Pelo menos alguém.

— Desculpe por isso.

— Não precisa pedir desculpas, não é totalmente sua culpa ficar assim. Você quer conversar?

— Eu não sei se você está disposto a me ouvir, eu não quero incomodar.

— Você não irá me incomodar.

Ele dá uma risada forçada.

— Isso é oque você fez..., mas quando eu começar a contar sobre a minha vida, você irá me mandar calar a boca.

— Então sem conversa?

— Não quero desabafar.

— Tudo bem, mas eu posso desabafar com você então?

— Você?

— Sim, eu sinto minhas costas doendo por estar guardando muitas coisas. Você estaria disposto a me ouvir? Uma pessoa melancólica e desconhecida.

— Você não é um desconhecido, trabalhamos juntos.

— Você trabalha na cozinha e eu como garçom...

— Isso não muda nada, somos da mesma equipe.

— É gentil da sua parte dizer isso, Lucian.

— E é gentil da sua parte vir me distrair, Killian.

— Mas posso contar um pouco sobre mim? Talvez, após ouvir toda minha história você sinta pena de mim e vire meu amigo.

— Eu não viro amigo de pessoas por pena, acho isso errado demais.

Dou um pequeno sorriso para ele.

— Então vamos lá...

Comecei falando o meu nome para ele e dizendo minha idade. E contando um pouco sobre minha infância, até chegar no começo da minha adolescência.

Eu tinha doze anos quando perdi meu pai, as coisas em casa não ficam muito fáceis depois da morte dele. Minha mãe entrou em depressão e quando eu completei quinze anos, ela se matou deixando eu e meu irmão para trás.

— Você tem um irmão?

— Tenho — Respondo.

Eu o percebi que por coincidência meu irmão mais velho também se chamava Lucian, o fazendo dar uma pequena risada.

Bom, voltando...

Minha mãe havia vindo a óbito quando eu tinha quinze anos, meu irmão, Lucian, tinha acabado de completar dezoito anos e tomou a responsabilidade por mim. Ele se desdobrou, entre a faculdade, trabalho e cuidar de mim. Um peso.

Claro, que eu não dava trabalho para Lucian. Na verdade, eu evitava dar mais problemas ao meu irmão.

Quando eu completei dezoito anos eu consegui um trabalho em um café perto de casa. Terminei a escola, e estava pronto para entrar em uma faculdade, mas as mensalidades estavam em um valor absurdo e nem um ano do salário que eu recebia pagava a mensalidade.

— E oque você queria fazer?

— Veterinária ou gastronomia.

— São bem diferentes, você não acha?

— Sim, mas eu amo animais. E amo cozinhar.

— Mas no fim você vai ter que decidir um. Você não pode ficar com os dois.

— Na verdade, eu não posso ter nenhum.

— Por que não? Você ainda é jovem, pode ter os dois se quiser.

— Eu tenho vinte e seis anos, eu não tenho mais idade para isso.

— Para estudar?

— Sim.

— Não existe idade para estudar, Killian. E se você quer forma em uma maldita faculdade, você vai lá e vai se forma. Sei que no começo vai ser difícil, mas você tem que acreditar em si.

— É talvez você tenha razão.

— É talvez eu tenha... — Ele diz suspirando.

Aquela pequena conversa se acaba em menos tempo que começou, e só uma coisa fez a gente sair daquele silêncio desconfortável:

— Parece que vocês estão bem.

Eu reconheci a voz imediatamente, mesmo a escutando menos de três vezes.

O dono do restaurante.

Levantei minha cabeça encarando seus olhos alterna sobre nós, enquanto ele parecia possuir uma expressão ameaçadora enquanto cruzava os braços em cima do peitoral.

Gostoso e ameaçador, não pera, quer dizer-

Será que é por isso que dizem que as pessoas da familia Black são perigosas?

UMA NOVA VIDA PARA O CAPO - A FAMÍLIA BLACK - LIVRO 3Onde histórias criam vida. Descubra agora