Há apenas uma Marília Mendonça.

522 89 18
                                    

Point of view Maraisa.

Quase Marília desistiu de tudo...

Eu não achei que chegaríamos aqui: em pé na sala de cirurgia, a segundos de começar a cirurgia de June. A sala está quieta, tensa. O zumbido baixo e o bip periódico das máquinas são as a únicas coisas que quebra o silêncio. Eu estou olhando para Marília, esperando por um sinal.

Não é só ela e eu na mesa de operações hoje. Há um segundo cirurgião conosco, um amigo de Marília que completou sua especialização com ela, Dr. Mitchell. Ele pegou um voo noturno para estar aqui a tempo, e está trabalhando de graça. Na verdade, todos nós estamos; foi parte da negociação que a Dra. Mendonça fez com o hospital.

Os outros cirurgiões da coluna vertebral estão na galeria de observação agora, observando-nos como falcões. Seus advogados estúpidos sentam-se atrás deles tão alegres quanto os quatro cavaleiros do apocalipse, mas fora isso, a galeria está vazia. É estranho considerar que este é um caso característico na carreira de Marília. Os residentes deviam estar trepando uns sobre os outros para conseguir um lugar na primeira fila.

Marília segue meu olhar e balança a cabeça, adivinhando corretamente meus pensamentos.

— Eles não querem uma audiência no caso de eu falhar. — Ela ri sarcasticamente. — Na opinião deles, quanto menos testemunhas, melhor.

— Dra. Mendonça? — O anestesista coloca a cabeça ao redor da cortina. — Existe uma razão para o atraso?

Nós já concluímos o tempo limite. Não há razão para estarmos aqui parados, mas não sou Marília. Eu não coloquei minha carreira na linha para levar este caso. Eu poderia ter lutado com unhas e dentes para ficar aqui com ela, mas se as coisas correrem mal, não é o meu nome nesse quadro de cirurgias. Não sou eu quem vai procurar os pais, procurando por boas notícias sobre a filha deles.

Marília limpa a garganta e olha para o relógio. — Certo. Se todo mundo estiver bem, vamos começar. — Ela estende a mão, palma para cima em direção a mim. — Maraisa, lâmina dez.

Eu fui a primeira a conhecer June quando seus pais a trouxeram para o hospital. Naiara precisava voltar ao trabalho e eu era a pessoa mais indicada para acompanha-los. Fiquei surpresa com o quão feliz ela estava, sentada em uma cadeira de rodas ao lado de seus pais. Feliz e magra, tão magra que poderia ser carregada por um vento forte, mas havia uma ferocidade em seus olhos com os quais eu podia me identificar.

Eu fiquei naquela sala enquanto Marília explicava a eles os desafios que eles enfrentariam na realização da cirurgia. Não só veio com uma enorme quantidade de riscos, mas além disso, seria extremamente caro.

Depois de anos pagando por tratamentos contra o câncer hipotecando sua casa, pegando empréstimos e estourando os cartões de crédito, os pais de June não estavam em condições de oferecer muito, mas Marília estava determinada a não deixar que isso a impedisse.

No topo de tudo isso, nós ainda tínhamos o hospital para enfrentar. De volta ao seu consultório, Marília, Naiara e eu trabalhamos incansavelmente, tentando chegar a uma solução que não envolvesse Marília ser processada pelo hospital. Eu poderia dizer que ela estava no seu limite, então eu falei, lançando uma sugestão simples e implacável.

— Por que os outros médicos e a equipe jurídica não a conhecem? São eles que não querem fazer a cirurgia. Por que você tem que dizer a ela que não? Faça-os fazer isso.

Demorou um pouco para convence-los, mas Naiara e eu, conseguimos que os três cirurgiões estivessem na sala de conferências. Dr. Goddard foi o mais fácil de influenciar, embora tecnicamente eu prometesse a ele que seria só ele e eu lá e talvez houvesse alguns gestos sugestivos que eu não me orgulho.

Dra. Hotshot Onde histórias criam vida. Descubra agora