O diabo veste Prada.

983 113 37
                                    

Point of view Marília.

— Eu gostaria de pedir o meu aviso prévio em duas semanas.

Eu olho por cima da montanha de papéis na minha mesa para ver Kirt, meu novo assistente cirúrgico, de pé na porta do meu escritório. Ele está torcendo as mãos. Uma gota de suor escorre pela testa dele.

— Por quê?

Seu olhar se dirige para mim e seus olhos se arregalam de medo. — Por quê?

Ele não achou que teria que se explicar. Ele está prestes a perder suas entranhas no meu tapete.

Eu jogo minha caneta na mesa e me inclino de volta na cadeira. Esta é a última coisa que eu esperava que ele dissesse. Eu pensei que nós tínhamos uma boa relação. Eu só o fiz chorar duas vezes.

— Eu sei que você é uma ótima cirurgiã. — Minha expressão deve ter mudado porque ele alterou sua declaração. — A melhor cirurgiã! Verdadeiramente! É por isso que aceitei esse trabalho. Eu imaginei que se eu te acompanhasse por alguns meses, você me daria uma boa carta de recomendação para o meu próximo trabalho. Honestamente, esse trabalho parece uma cena de o Diabo Veste Prada...

— Uma o quê?

Suas bochechas ficam vermelhas. — O Diabo veste Prada... o filme? — Meu rosto não mudou. — Desculpe, minha namorada me fez assistir no outro dia e isso realmete me ajudou a colocar algumas coisas em perspectiva. — Suas mãos começam a acenar enquanto ele explicava o enredo. — Há um chefe terrível que basicamente aterroriza todo o escritório. A personagem principal pensa que se ela for durona com sua assistente por tempo suficiente, ela poderá trabalhar em qualquer lugar que quiser.

Ele é burro demais para perceber que acabou de dizer que sou uma — chefe terrível — que — aterroriza — as pessoas. Se ele já não estivesse desistindo, eu o demitiria.

— Vá direto ao ponto.

— Oh, bem, sim. O ponto é... Eu não posso fazer isso. O estresse desse trabalho é mais do que posso suportar. Eu tenho uma úlcera no estômago. Eu comecei a desenvolver síndrome do intestino irrevitável. — Agora estou mais preocupada do que nunca que ele vá sujar meu tapete. — Não estou dormindo. Minha namorada me deu um ultimato: ou eu saio do New England Medical Center ou ela me deixa. Eu pensei que seria capaz de fazer isso até o ano novo, mas ainda faltam alguns meses para isso. Então... — Ele faz uma pausa e olha para o chão. — eu estou pedindo o meu aviso para daqui duas semanas.

Minha secretária aparece atrás dele, segurando um arquivo, o que significa que meu próximo paciente está aqui: uma menina de sete anos chamada Sophie. Em poucos minutos vou me juntar a ela e seus pais na sala de reunião para uma consulta sobre um procedimento complexo que aliviará a dor e o sofrimento que ela tem por nascer com uma curvatura grave de sua coluna.

Eu não tenho tempo para Kirt e sua úlcera estomacal.

Eu aguardo receber o arquivo.

— Eles já estão na sala de reunião. — , diz ela com um tom sem sentido.

— Obrigada.

Ela endireita os óculos na ponta do nariz e lança um olhar furioso para a parte de trás da cabeça de Kirt, o que me diz que ela provavelmente ouviu parte do discurso dele e não gostou. Ao contrário dele, ela é leal. Ela está trabalhando para mim desde que comecei aqui.

Kirt fica parado lá enquanto vou para sala de conferências. — Dra. Mendonça, Dra. MENDONÇA! Você ainda vai me dar uma boa carta, certo? — Ele grita pelo corredor. — Eu fui um bom assistente cirúrgico, não fui?

Dra. Hotshot Onde histórias criam vida. Descubra agora