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1984


"Não posso escolher como me sinto, mas posso escolher o que fazer a respeito"



Como em todos os dias, a casa dos O'hara estava silenciosa. Era domingo e Elizabeth estava como em todos os outros, no ateliê de sua mãe.

Não tinha conseguido dormir na noite anterior, por algum motivo se sentia inquieta, aflita e ansiosa. E não se devia a apenas a volta de seu pai depois de nove meses fora. Tinha algo a mais. E o que melhor do que a arte pra acalmar um artista?

Tinha passado a madrugada toda alí. Tinha pintado dois quadros e estava no terceiro. Os dois primeiro tinham sido coisas normais pra si. Uma paisagem e uma pessoa. Essa sendo Jonathan Byers.

Mas a pintura de agora... Era confusa. Não costumava planejar o que pintar, apenas ia seguindo seus instintos. Assim como sua mãe a ensinou. Mas aquela pintura... Tinha algo errado.

Era um céu avermelhado, com uma tempestade de raios, e uma enorme sombra negra. Não tinha uma forma específica, ou era o que achava.

Teria continuado os questionamentos sobre a pintura, se não tivesse ouvido barulho de carro e logo a porta de entrada. Reconheceu rapidamente o barulho. Só uma pessoa abria a porta daquele jeito.

Com um suspiro desanimado, a adolescente retirou o avental que usava pra proteger suas roupas e saiu do ateliê, trancando a porta e guardando a chave na pequena corrente, a pendurando no pescoço. Sempre usava como colar, levando pra todo lugar. Não confiava em ninguém pra entrar naquele cômodo. Ninguém tinha o direito de invadir o espaço que um dia dividiu com sua mãe. O espaço onde ela morreu.

Elizabeth se organizou antes de descer as escadas. Garantindo que não tinha nenhum sinal de pintura em suas roupas ou pele. Seu pai ainda abominava a arte.

A testa da adolescente franziu quando ouviu passos diferentes. Não era apenas seu pai. O que a deixou confusa.

Ela paralisou na escada quando viu mais duas pessoas no hall de entrada junto de seu pai. Sentiu a respiração trancar e a voz de sua mente praguejar bem alto.

Arthur: Elizabeth. Essa é a Nádia e seu meio irmão Rafael.

A garota sentiu a pressão abaixar de uma vez, pra subir rapidamente em seguida. Ela analisou a situação. Aquelas pessoas. E depois todos os últimos anos. A conclusão que chegou a fez querer vomitar.

Nádia: é um prazer conhece-la finalmente querida. Estava ansiosa pra nos mudarmos logo pra poder conhece-la.

Aquela voz e aquele sorriso não a convenceram. Ela sentiu sua cabeça girar e se apoiou no corrimão da escada, a palidez a alcançando, fazendo o homem mais velho se aproximar.

Arthur: Elizabeth?

Parou quando recebeu aquele olhar da filha. O olhar que nunca tinha visto nem recebido. Com dificuldade, a adolescente deu as costas e subiu as escadas de novo, indo direto pro seu quarto. Antes de conseguir fechar a porta, seus joelhos cederam e ela foi ao chão. Ouviu os passos rápidos e pesados, e logo a aproximação da figura masculina.

Arthur: filha? O que foi?

A garota olhava pro chão, os cabelos na frente do rosto escondiam os olhos marejados.

Lizzie: você... Tinha outra família... Esse tempo todo...

Ela ouviu o suspiro do homem, mas não conseguiu erguer o rosto pra ele.

Arthur: você é muito jovem pra entender Elizabeth.

Lizzie: a minha mãe morreu!

Sua voz quebrou e ela finalmente ergueu o rosto pra olhar pro homem.

Lizzie: ela morreu... Por sua causa... Ela descobriu não foi? Foi por isso que você fugiu...

Arthur: eu não fugi Elizabeth.

As lágrimas desceram pelo rosto da garota e um soluço deixou sua garganta.

Lizzie: somos tão ruins assim... Pra você precisar de outra família? Ou tudo isso foi pra ter um filho homem?

Arthur: você ser mulher nunca foi o problema Elizabeth.

Ele tentou tocar o rosto dela, mas a garota se afastou e desviou o olhar.

Arthur: não está pronta e nem em condições de termos essa conversa...

Ergueu a garota a força, a levando até a cama. Elizabeth se afastou do toque dele assim que chegou a cama, se sentando e evitando o olhar.

Arthur: comeu hoje?

Lizzie: não finja que se importa.

O homem apenas suspirou.

Arthur: vou pedir pra Nádia trazer comida pra você depois.

Lizzie: não se atreva... Eu não quero.

Ela ouviu ele respirar fundo. Sabia que estava chegando perto do limite, mas sinceramente, não se importava.

Lizzie: não quero ver a cara dessa mulher ou daquele cara...

Arthur: ele é um ano mais novo que você.

Ela apertou as mãos na colcha da cama, tremendo. Um ano. Ele começou uma segunda família depois de um ano que nasceu.

Lizzie: eu não me importo.

Arthur: ele está passando por alguns problemas Elizabeth.

A garota se virou pra ele irritada agora.

Lizzie: você não entendeu ainda que eu não me importo?! Eu não ligo! Não ligo pra ele, para aquela mulher, ou para você! Por mim vocês todos podem se fode-

Não chegou a terminar a última palavra, o impacto da mão em seu rosto a interrompeu. Ela sentiu a ardência e ouviu o estalo, o anel de prata cortou seu lábio.

Arthur: não me faça me arrepender ainda mais por ter tido você... Você está na minha casa, vivendo a sua boa vida as minhas custas. Então não seja uma ingrata imunda como sua mãe.

As lágrimas desceram pelas bochechas da garota, mas o homem pouco se importava com aquilo.

Arthur: coma ou não. Só pare de me fazer gastar dinheiro com a droga do hospital.

Assim ele deixou o quarto batendo a porta com força. Elizabeth sentiu aquela sensação no peito. O aperto, a angústia. Sentiu a antecipação e com as poucas forças que tinha, correu até o banheiro, vomitando tudo o que ainda restava em seu estômago.

Tonta e enxergando tudo borrado, ela deixou mais lágrimas escorrerem, os soluços deixando sua garganta e a fazendo sentir falta de ar.

Se sentia perdida. Condenada.

Quando achou que as coisas estavam melhorando... Deveria ter percebido. Nada bom durava muito naquela casa.

Sua mãe era a prova disso.

Estava decepcionada.

Decepção? É o sentimento de tristeza, descontentamento ou frustração pela ocorrência de fato inesperado, que representa um mal; desilusão, desapontamento.

Encostada na parede do banheiro, abraçada as pernas, Elizabeth olhava pra outra parede. Decepcionada com o mundo.



















[Não revisado]

Começou a segunda temporada, estão prontos?






















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