Capitulo 1 - Zarto x Lóra

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Os dias amanheciam bonitos e ensolarados. Como moravam na base da Cordilheira Noar, o ar era fresco e úmido. Aquela era a época perfeita para o combate entre mãe e filho. Só assim Lóra veria se seu filho Zarto atingira realmente a maioridade. Porém, ambos só conseguiam pensar no passado.

A casa onde moravam havia sido construída pelos pais de Zarto havia muito tempo. Por isso, era humilde e pequena, feita de tábuas de madeira retiradas da floresta que os rodeava. Uma pequenina mesa redonda ficava no meio do cômodo. Ao anoitecer, a mesinha era encostada no canto para que a malha de palha na qual eles dormiam pudesse tomar o lugar no centro da casa. A porta não era mais que um trançado de cipós e galhos colocados na posição de entrada.

O jovem nunca conhecera seu pai. Sabia apenas seu nome, Iro. Sua mãe não gostava de comentar o assunto e nem o deixava pensar sobre possíveis maldades ou negligências que o pai pudesse ter feito a eles. Ela havia lhe ensinado a ler, escrever e manejar a espada desde que tinha dez anos. Ele já estava bem forte e próximo de alcançar seu objetivo de derrotá-la e assim, ter a permissão para descer a montanha. Como estava crescendo, ganhava confiança e se embrenhava cada vez mais na floresta e nas montanhas. Os animais não se preocupavam mais com sua presença.

Quando fez quinze anos, ganhou de presente de sua mãe um animal de estimação: um tigre dentes-de-sabre. Antes de dar o presente, ela disse:

-Zarto, achei esse animalzinho na floresta. Ele deve ter sido abandonado pela mãe. Ele é seu se prometer cuidar muito bem dele. - Lóra sorriu e Zarto lhe deu o abraço mais forte que podia. Sua mãe pôde sentir o amor que ele sentia por ela e a força que ele ganhava com tanta rapidez.

-Claro que prometo mãe. Sempre vou cuidar dele. Não vou deixar que ele se machuque, mas, caso isso aconteça, cuidarei da sua ferida. O Deus Liotan é testemunha.

Zarto brincou com seu novo amigo a semana inteira e Lóra aceitou dar um descanso aos treinamentos. Zarto deu a ele o nome de Gyar. O animal parecia gostar do nome e passava praticamente o tempo inteiro atrás de seu dono. Zarto percebeu que sua mãe também gostava, e muito, da presença do novo companheiro, mas preferiu não comentar. Ele percebeu que ela estava mais serena e calma. No entanto, logo, Lóra resolveu retomar e intensificar o treinamento.

Zarto não entendia a necessidade de tanto treino com espadas. Sabia que precisava aprender a se defender, mas sua mãe era incansável. Os treinos incluíam também estudos sobre anatomia humana, português, matemática, iniciação aos primeiros socorros e medicina alternativa, mas a prática com espadas era predominante. Ele aprendia onde e por que atingir cada ponto estratégico do adversário, onde matá-lo, imobilizá-lo ou inutilizá-lo.

Os anos se passaram e Zarto estava cansado. Ele queria uma explicação. Um dia, conversou seriamente com sua mãe sobre o assunto.

-Mãe, eu sei que preciso aprender a me defender das ameaças aqui da floresta e das montanhas, mas eu tenho certeza de que poucos animais poderiam me derrotar, pelo menos facilmente. Ele escolhia as palavras cuidadosamente.

-Por que há essa necessidade de que fiquemos cada vez mais fortes? - Lóra suspirou e com um sorriso triste respondeu.

-Meu filho, admito que este dia até que demorou a chegar, afinal, você já tem vinte anos e treina desde os dez. Eu queria ter tido essa conversa com você há mais tempo, porém, foi mais fácil para mim não tocar no assunto. - Lóra estava apreensiva e nervosa. Gyar se aproximou, se esfregando nas suas pernas e deitou a seus pés pra acalmá-la e dormir.

-Eu deveria ter falado antes, mãe. Há muito tempo penso nisso. - Zarto estava chateado e começava a levantar a voz, quando Lóra disse:

-Como eu poderia saber que você pensava nisso, se não me disse nada? - Zarto foi pego de surpresa. Não sabendo o que responder, sua mãe continuou:

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