Foram longos os minutos em que Engfa permaneceu olhando para aquele desenho, derramando mais lágrimas enquanto se questionava como seriam as coisas dali por diante. Em poucas horas daquela manhã sua vida virou de pernas para o ar em decorrência daquela repentina amnésia da esposa.
Seus filhos estavam assustados e confusos como não poderia deixar de ser em um caso tão incomum como aquele. E ela também estava igualmente confusa como eles. Porém, tentando manter-se firme por Beatriz e Thomás e também por si mesma, pois se desabasse em quem eles se apoiariam?
Uma checada no relógio de pulso e a mulher percebeu o avançar da hora. Já ia dar duas da tarde e eles sequer haviam almoçado.
Com toda aquela confusão a hora voou que Engfa nem notou. Mas também como notaria?
E como ela não estava com cabeça para preparar nada. Buscou na agenda do celular o número do restaurante delivery que Charlotte e ela costumam pedir refeições vez ou outra, e ligou para o estabelecimento. Em questão de segundos já era atendida por uma jovem de voz fina e muito bem educada. Fez o pedido de quatro refeições e logo encerrava a ligação com o almoço encomendado, com previsão de entrega para dali a uma hora, segundo estimativa da atendente.
Por mais uns instantes Engfa permaneceu na sala até criar coragem para subir e ver como Charlotte estava. Parada em frente a porta do quarto que se encontrava fechada, a morena respirou fundo antes de alcançar a maçaneta e girá-la com cuidado. Encontrou Charlotte de costas, parado em pé diante da janela do quarto. Com cautela ela deu uns passos parando diante do recamier posicionado aos pés da cama de onde chamou a esposa uma vez, fazendo a outra mulher se virar para ela. A expressão melancólica que viu estampada em seu rosto, lhe cortou o coração. Engfa sentiu uma enorme vontade de correr até a esposa, abraçá-la bem forte e lhe beijar várias vezes até conseguir dissipar aquela expressão que via nela, e lhe trazer de volta àquela outrora alegre e feliz que Charlotte sempre ostentava pela casa. Contudo, sabia que não podia fazer nada daquilo, pois a chance de ser rejeitada por Charlotte era gigante. Então só lhe restou dar mais alguns passos com a intenção de se aproximar da esposa, nas antes que tivesse a oportunidade de perguntar como ela estava, sua esposa se adiantou em questionar com certa preocupação:
- o garoto se acalmou, está melhor?A reação e as palavras gritadas por Thomás não deixaram de se repetir por diversas vezes na mente de Charlotte desde que ficou sozinha naquele quarto.
Engfa fechou os olhos e apertou os lábios com força ao ouvir Charlotte chamar o filho delas daquela forma tão fria e incomum dela se referir a Thomás. No entanto, lhe acalentou um pouco a alma ver que mesmo não se lembrando do filho, Charlotte se mostrou preocupada com o estado do pequeno. Aquilo para a morena lhe pareceu um bom sinal.
- Thomás... nosso... filho...
Engfa fez questão de pronunciar pausadamente cada uma das palavras para Charlotte, que baixou o olhar como se pedisse desculpas.
Já se acalmou um pouco. Só que ele ainda está em choque com tudo isso que aconteceu com você. Nossa outra filha também está que nem ele. Mas conversei com os dois, eles se acalmaram mais e acabaram pegando no sono lá no quarto do Thomás.
Charlotte apenas assentiu e ergueu os olhos para encontrar a esposa lhe observando de braços cruzados e semblante triste. O casal ficou em silêncio se olhando por um par de segundos até que Charlotte se pronunciou pela segunda vez.
-Me sente tão mal por ter dito ao... meu... filho... que não me lembrava dele... E me sente pior ainda por vê-lo chorar daquele jeito. Me desculpe por ter esquecido de vocês!
Ela pronunciou a última parte de cabeça baixa e com a voz em um sussurro, mas que deu perfeitamente para Engfa ouvire entender o que havia sido dito pela esposa.
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memórias perdidas
FanficDuas mulheres apaixonadas e há quinze anos juntas; filhos amorosos e carinhosos; uma verdadeira família feliz. Mas uma inexplicável e súbita perda de memória vai abalar a felicidade dessas pessoas. Sem aparente razão, Charlotte acorda em uma manhã n...