Lembranças

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Ao estar dentro da sala de paredes cinzas com alguns quadros de arte abstrata enfeitando-as, e mobiliário em tons escuros, Engfa inspirou fundo sentindo no ambiente o perfume marcante da esposa.

Seus olhos passearam pelo local onde Charlotte passava maior parte de suas horas do dia e que de umas semanas para cá,vinha passando bem mais do que seu habitual. A economista vinha trabalhando intensamente para deixar as coisas ajeitadas antes de tirar suas férias. e Engfa até alertou a esposa algumas vezes sobre seu excesso de trabalho nos últimos dias, mas Charlotte dizia que estava tudo bem, que estava dando conta de tudo.

Sua esposa amava trabalhar e principalmente, ali. Involuntariamente sorriu ao lembrar do quão empolgada e feliz, Charlotte chegou no antigo apartamento que moravam, contando que tinha conseguido passar na época para a vaga de Auxiliar Financeiro daquela grande multinacional do ramo automobilístico.

"Engfa... Amor... cadê você, minha vida?" - ela praticamente berrava enquanto entrava toda esbaforida no apartamento, carregando um sorriso gigantesco no rosto.

"Meu Deus, Charlotte! Onde é o incêndio?!"

A morena apareceu na sala com Bia em seu colo enquanto lhe dava uma mamadeira de suco.

"Eu consegui, Amor!... A vaga na multinacional é minha!" - contou se desfazendo do blazer bonito para ir até a esposa. Abraçou Engfa e Bia de uma única vez. A bebê de dois anos logo reclamou do aperto, fazendo Charlotte largá-las e pegar a pequena do colo da esposa."Parabéns, amor!" - Engfa beijou a esposa. Estava tão eufórica quanto Charlotte.

"Obrigada!... Quase não acreditei quando disseram que eu fui a selecionada." - comentou após dar alguns beijos no rosto bochechudo da filha.

Com o ótimo salário que aquele emprego ia render, Charlotte já fazia planos para futuramente comprar a tão desejada casa delas, já que aquele apartamento em que viviam era alugado.

"Viu só, eu falei que essa vaga seria sua, garota dos números." - Engfa bateu no braço da loira com a fralda da filha.

Charlotte sorriu ao ouvir a esposa lhe chamar pelo apelido que lhe deu na época da faculdade. Fazia tempos que Engfa não lhe chamava assim.

"É, você falou mesmo, garota dos romances!"

- Engfa... Oi!

O chamado um tanto mais alto de uma voz feminina reverberando atrás de si, tirou a morena rapidamente de seu devaneio.

- Oi, Karol! - com um sorriso - forçado, cumprimentou a outra ao se virar e dar de cara com a secretária de Charlotte.

- Que surpresa você aqui. Cadê a Charlotte?

- Ficou em casa. Não vem hoje e nem virá pelos próximos quarenta e cinco dias. Dilson adiantou as férias dela por motivo de saúde.

- Ela está doente?

Engfa contou a secretária o problema da esposa e viu o choque estampado na face da outra mulher ao ter conhecimento

- O pessoal já sabe? - Karol se referia aos amigos mais próximos de sua chefe ali na empresa.

- Não. Só o Dilson e agora você. Gostaria de pedir que ainda não comentasse com ninguém daqui sobre isso. Eu chamei o pessoal para ir lá em casa hoje, porque pretendo contar sobre isso a eles.

- Pode ficar tranquila que não vou comentar nada.

- E quero te pedir mais outra coisa.

- Pode pedir.

- Preciso de uma caixa para colocar os pertences da Charlotte para levar pra casar.

- Vou providenciar isso agora mesmo.

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