Beijo

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1/?  Eu ouvir maratona?

Quando Charlotte entrou no consultório de Heidi naquela manhã de terça-feira, duas coisas chamaram imediatamente a atenção da médica com relação a sua paciente de meses. A primeira foi à expressão muito mais leve, relaxada e sorridente que Charlotte trazia no rosto. E a segunda coisa, foi o fato da loira e a esposa entrarem ali de mãos dadas, algo que nunca havia acontecido durante todos esses meses em que a neurologista já tratava de Charlotte.

- Ei! Pelo visto Pattaya lhe fez bem, não é? - Heidi estendeu a mão em cumprimento a Charlotte.

- Fez mais que bem, Heidi! - Charlotte afirmou, apertando a mão de sua médica e com os lábios espichados em um grande sorriso. - Foram simplesmente maravilhosos os dias por lá. - seu olhar vagou por um segundo a esposa que se encontrava ao seu lado. Engfa era em grande parte o motivo de estar feliz e radiante daquele jeito. Desde que abriu seu coração a ela e as coisas entre as duas se "acertaram", Charlotte se sentia imensamente feliz, em estado de graça, na verdade.

- Mas que bom isso! - a médica sorriu contente.

Durante esses meses era comum dela ver sua paciente chegar ali para suas consultas de rotinas com uma expressão para baixo e às vezes até meio mal-humorada, diferentemente, do rosto alegre e sorridente que agora via nela.

- Engfa como vai você? - Heidi se dirigiu a outra mulher que até aquele momento só observava a interação de sua mulher com a médica.

- Vou bem, Heidi. Obrigada! - sorriu a professora. Heidi podia jurar que o sorriso da outra parecia tão brilhante e luminoso quanto à expressão vista no rosto de Charlotte.

As três se acomodaram nas cadeiras e logo a neurologista quis saber de Charlotte como tinham sido essas duas semanas, que passaram desde a última consulta que se viram.

A loira lhe relatou que teve oscilações quanto a intensidade das dores e pontadas na cabeça. Tiveram dias em que sentiu dores mais leves e outros em que a dor foi mais forte e incômoda. Vieram algumas perguntas de praxe e após as informações repassadas, Charlotte contou toda animada sobre a viagem que fez com família e o quão bem lhe fizeram esses dias, tanto que enquanto esteve em Pattaya não sentiu uma dor de cabeça sequer e nem pontada alguma na cabeça.

- Isso não deixa de ser uma grata e agradável surpresa, já que essas dores e pontadas que sentia estavam se tornando quase que constantes, não é?

- Sim. Foi como se tudo que eu sentisse nem existisse enquanto estava lá. Não senti absolutamente nada de desconforto e também, ainda não senti nada desde que voltei de lá, Heidi.

A médica apenas assentiu achando curioso esse fato, porém não achou que isso fosse algo alarmante já que Charlotte se mostrava muito bem aparentemente.

- Charlotte... - Quando Heidi pronunciou o nome da paciente já não tinha mais um sorriso no rosto. - Já tenho os resultados das análises e comparações que fiz dos primeiros exames que você fez, com os últimos que atestaram a véia entupida que tem na cabeça.

- Pela sua cara não temos boas notícias, não é Heidi?

- Infelizmente não.

- Quais foram os resultados? - Engfa quem indagou.

- Os primeiros exames não mostraram nada de véia entupida neles. O que indica que não há qualquer ligação entre a perda de memória que a Charlotte teve com o quê se descobriu há poucas semanas em sua cabeça.

- Isso significa que voltamos à estaca zero, sobre o possível motivo que me fez perder a memória?

Não havia revolta ou raiva em seu tom de voz ao indagar, muito pelo contrário. Sua voz saiu calma e macia.

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