quarto de hóspedes

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- Comam meus amores!
Engfa pediu aos filhos vendo que eles não haviam tocado em nada da comida em seus pratos.

Estavam apenas os três a mesa, pois Charlotte ficou no quarto e não quis sair de lá para almoçar. A mulher alegou que não tinha fome, mas a verdade é que ela tinha medo de sair do cômodo onde estava e encarar aquelas pessoas desconhecidas com quem dividia o mesmo teto.

- Estou sem fome mãe.

Beatriz fez uma careta e empurrou o prato de comida.

- Eu também, mãe!

O pequeno Thomás imitou a irmã mais velha.

- Não podem ficar sem comer nada, vai fazer mal a vocês.Comam só um pouquinho, por favor. Estou pedindo pra vocês!

A mulher empurrou o prato de volta para os dois filhos.

Bia e Thomás se entreolharam para em seguida atenderam ao pedido da mãe e devagar foram comendo a refeição posta em seus pratos.

O silêncio na mesa era enorme e só era quebrado vez outra pelo som dos talheres, quando batiam nos pratos.

Aquela, sem dúvida, foi a primeira vez que durante uma refeição na casa Austin  Waraha nenhuma palavra foi proferida enquanto estavam a mesa, algo raro de acontecer, diga-se de passagem.

Enquanto isso no andar superior da casa, Charlotte que havia se enclausurado no quarto, estava sentada no chão do cômodo com as costas apoiadas a lateralda cama e tendo a sua frente um chão repleto de fotografias espalhadas. A mulher tentava em vão achar algo que a levasse a lembrar-se de alguma coisa, a mínima que fosse.

De maneira cuidadosa, ela pôs-se a olhar de novo todas as fotografias que havia tirado dos álbuns. Ela reviu as fotos de seu primeiro casamento com Engfa onde se via claramente a felicidade estampada em seu rosto e no de Engfa; depois viu as fotografias da cerimônia de renovação de votos. A emoção genuína estava explícita nos olhos de ambas; viu então as fotos das duas épocas em que ficou grávida, bem como do nascimento dos filhos e também do crescimento deles; férias; passeios; viagens; festas em família; com os amigos; outras dela só com Engfa ou só com os filhos e muitas tantas mais. Sentia uma dor dentro de si ao olhar que tudo,todos aqueles momentos felizes e todos aqueles rostos felizes eternizados nas fotos, haviam sido apagados de sua cabeça.

Seus olhos verdes se fecharam e aquela vontade de deixar cair as lágrimas que tanto segurava, veio com uma força descomunal que foi inevitável continuar segurando-as mais. E outra vez, ela chorou naquele dia e naquele quarto. Chorou por tudo que havia perdido com aquela maldita amnésia repentina; chorou por medo de ficar assim para sempre; chorou pela tristeza que estava causando a seus filhos e a sua esposa ao não lembrar-se deles; chorou de raiva, desespero, angústia, medo; chorou feito uma garota assustada que tem pavor do monstro malvado que vem lhe assombrar de madrugada; chorou até conseguir colocar para fora toda aquela dor que sentia dentro de seu peito; chorou por longos e intermináveis minutos; chorou e chorou...

- Mãe como vão ser as coisas agora com o mamãe assim?

Beatriz enxugava as poucas louças do almoço enquanto Engfa as lavava. Só estavam as duas na cozinha, já que Thomás se encontrava na sala vendo TV como a mãe havia pedido que ele fizesse, para tentar distraí-lo um pouco.

- Sinceramente, eu não sei, filha! Tudo ainda parece tão inacreditável.

A mulher suspirou com pesar e tristeza.

- Ainda não consigo entender como a mamãe vai dormir e acorda desmemoriada desse jeito.

Aquilo realmente estava difícil de entender, por mais que houvesse uma explicação lógica.

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