Lendo o diário

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Penúltimo capítulo.

manhã seguinte, antes de ir para a Universidade, Engfa entregou a esposa um caderno e lhe explicou que ali, ela havia escrito as coisas que lhe aconteceram durante o período que ficou desmemoriada e que dias atrás, tinha lhe pedido que só lhe entregasse aquilo quando tivesse recuperado a memória e não se lembrasse de que a tinha perdido e nem o que tinha vivido nesse tempo.

- Eu escrevi isso? - ela olhou curiosa para o objeto que a outra lhe estendia.

- Sim! Sua médica te deu a ideia de fazer isso pra que você tivesse a oportunidade de saber através de seu próprio relato, o que viveu e passou.

Charlotte apenas assentiu, pegando aquele caderno de capa dura.

- Bom, eu já vou. Nos vemos mais tarde. - Engfa lhe deu um beijo rápido.

- Bom trabalho!

- Obrigada!

Assim que ela saiu, Charlotte foi até a cozinha e avisou Maria que ia estar no escritório caso a procurasse, a mulher apenas assentiu.

Após se acomodar em sua cadeira no escritório, Charlotte abriu aquele caderno. A primeira página parecia como uma introdução.

"Olá, Charlotte!

Se você estiver lendo isso agora é porque nossa memória já deve ter voltado por completo e você não deve se lembrar do que nos aconteceu nesse meio tempo em que ficamos desmemoriada. Heidi, nossa médica, deu a idéia de escrever esse "diário". Aqui escreverei o que nos aconteceu desde o dia em que despertamos desmemoriada, até onde continuarmos assim. Tentarei expressar da melhor forma possível nessas folhas, os momentos que vivemos e espero que mesmo não se lembrando dos fatos aqui descritos, você possa ao menos sentí-los ou imaginá-los.

A economista virou a página e ali estava o primeiro capítulo intitulado: "Um despertar com a mente vazia."

Ela então começou a ler...

"Era uma manhã de um dia qualquer, eu dormia, quando de repente ouvi meio que ao longe, uma voz suave e doce pronunciar um nome: "Charlotte". Depois senti uma mão macia acariciar minhas costas e novamente, ouvi a mesma voz chamar só que agora mais perto, aquele nome desconhecido por mim. Devagar fui abrindo os olhos e me deparei com a imagem de uma linda e desconhecida mulher ali perto de mim. Ela me sorria docemente enquanto seu olhar cheio de ternura me fitava.

Eu não fazia ideia de quem ela fosse!

Meio confusa e desconcertada com a presença dela, a questionei a respeito de quem ela era e também, que nome era aquele pelo qual ela me chamava. No exato instante que lhe lancei essas perguntas, vi seu sorriso sumir e seus olhos me encararem em confusão. Ela me perguntou séria se eu estava brincando com ela para lhe dizer aquilo. Prontamente, eu neguei isso e lhe reafirmei que não fazia ideia de quem ela fosse, nem que nome era aquele pelo qual ela me chamava e muito menos, que lugar era aquele em que me encontrava.

Notei que ela ficou imediatamente assustada com isso assim como eu já estava desde que despertei e nada reconheci. Olhei bem ao redor onde me encontrava e o desespero bateu em mim ao perceber que por mais que eu tentasse, não conseguia reconhecer aquele quarto e nem aquela mulher que se encontrava diante de mim.

Sentia a cabeça completamente vazia ao tentar buscar alguma lembrança nela e foi aí que meu desespero aumentou.

O que tinha me acontecido?

Por que não conseguia me lembrar de nada?

Onde estavam minhas lembranças?

Angustiada nervosa e totalmente desconcertada e desesperada por não conseguir encontrar as respostas para essas perguntas que vinham espocando em minha cabeça, eu então, caí em prantos. Enquanto chorava compulsivamente, senti aquela mulher que eu ainda nem sabia o nome, me abraçar... Segundos depois, ela também chorava junto comigo. Passamos longos minutos assim, chorando juntas e abraçadas. Depois mais calmas e sem chorar, nós começamos a trocar algumas palavras. Ela se "apresentou" a mim, disse seu nome: Engfa. E o que era para mim: Esposa. Éramos casadas há catorze anos, foi o que ela me disse, mas eu não me lembrava disso e nem de nada. Estava desmemoriada, porém, naquele momento, ainda não havia me dado conta disso."

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