Dexter
Segui o meu tratamento com fisioterapias, remédios, muita força e luta.
Eu queria voltar a andar a todo custo. Talvez eu arranjasse um emprego e me mudaria com a Helena para longe dos meus pais. Com certeza procuraria por Lara e morariamos nós três em uma casinha simples, a levariamos juntos para a escola, criaríamos ela com muito amor.
Eu pensava na história que minha mãe havia contado sobre o dia que Helena foi deixada na nossa porta, em uma cesta. Tinha um bilhete da mãe e ela usava uma pulseirinha com o nome, a data de nascimento e a sigla da cidade onde morávamos antes. Se a mãe era pobre, como chegou a Miami? No bilhete, a mãe pedia que cuidassemos da bebê, pois ela não teria condições de dar um futuro a ela.
E onde estaria o pai dessa criança? Eu jamais abandonaria uma mulher grávida, muito menos um filho meu. Fiquei imaginando como seria casar e ter filhos com Lara e com quem o bebê se pareceria.
Helena já estava com 8 anos. Super inteligente e ligada a mim.
Naquele ano eu voltei para casa dos meus pais a fim de poder cuidar da pequena. O senhor Paulo, meu pai, voltou a trabalhar, era personal treiner em uma academia para soldados e minha mãe, Ester, era dona de uma empresa de arquitetura e urbanismo, onde meu pai também era sócio. Quando um estava em casa, o outro estava na empresa, apesar de mal pararem para descansar.
Acho que foi por isso que minha pequena irmãzinha adotiva se ligou tanto a mim.
O meu tratamento finalmente tinha evoluido e eu voltara a andar quase 9 anos apos o tiro. Estava contente e agora poderia correr com Helena, procurar por Lara e sair dessa casa.
O primeiro encontro com o senhor Paulo foi no dia em que entrei pela porta de casa andando sozinho. Queria fazer uma surpresa e não havia ligado. Ele me olhou com lágrimas nos olhos e me abraçou. Sentamos no sofá, só nós dois e conversamos sobre aquela manhã.
- Filho, peço de todo coração que me perdoe. Não previ aquele tiro, não queria ter te deixado paraplégico. Você é meu único filho. E eu o amo mais do que tudo. Fiquei atordoado quando vi aquela garota mulambenta no teu quarto. Tantas delas tentaram nos dar o golpe do baú. Não planejei nossa briga e me culpo milhões de vezes todos os dias por tudo que te aconteceu. E em todos esses anos, não fui te visitar pois não conseguia te ver daquele jeito e saber que a culpa era minha. Te peço perdão e te recebo de volta, de braços abertos. Dê-me uma segunda chance filho! - Disse-me ele chorando.
- Eu sofri muito quando acordei naquela cama, sem poder me mecher e descobrir que havia sido atingido por um tiro disparado por meu próprio pai. Sobre Lara, ela jamais se interessou pelo meu dinheiro. E se teve um motivo pelo qual quis levantar daquela cama esse motivo é ela. E por interrupção sua nunca mais a vi. Creio que você não quis me causar mal algum, mas que agiu sem pensar e esse erro poderia ter tirado a minha vida. Espero realmente que o senhor tenha mudado e que Helena tenha o contrário da minha criação. Quero fazer uma faculdade, trabalhar e assim que eu me estabilizar levarei ela comigo.
- Não nos tire nossa segunda chance, filho. - Pediu ele.
- Estou cansado. Vou subir e dormir um pouco. - Levantei-me e sai.
No meu quarto, pensei em tudo que tinha ouvido e percebi que Helena não foi adotada por meu pai por pena ou pra dar amor à ela, mas sim para que ela fosse a prova de que ele mudou para que eu o perdoasse. Ele continua fazendo tudo errado.
No dia seguinte me matriculei em uma faculdade, medicina como eu sempre sonhei. Começaria no próximo mês. Consegui um emprego, contratei um advogado e dei entrada com os papéis para requerer a guarda de Helena.
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Duas vidas
RomanceMeu nome é Helena. Fui abandonada pelos meus pais aos dois anos de idade. Nunca me preocupei em conhecer meus pais biológicos até eu precisar de um transplante de rim.