Capítulo 17

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Ela nasceu sobre os gritos agonizantes e dolorosos da mãe. Dores de um parto quase sem fim.

Seus braços não tiveram forças nem mesmo para segura-la. Somente quando pôde enfim visualizar bem o rosto da menina, a Sra. Akutagawa foi em paz, deixando um marido frustrado e uma pequena criança chorosa.

A casa era grande e vazia. O homem de preto, como era chamado, tinha grandes terras em seu nome, e entregava a sua única filha tudo que podia para sua educação — deixando sempre exposto sua decepção quando descobriu que era uma menina, e não um menino.

Mesmo assim, Midori viveu sobre o aconchego de alguns dos funcionários. Três anos se passaram quando seu pai decidiu se casar novamente, dessa vez com uma garota de apenas dezenove anos, tendo ele mais de quarenta. O fato de sua família ter costumes de casamento estranhos e peculiares era conhecido, mas nada para dar medo quando se estava do lado de fora.

O nome de sua madrasta era Fumiko, e seu sobrenome era um mistério. Em menos de um ano, o filho homem tão esperado por seu pai veio ao mundo. Pele pálida e cabelos escuros como os seus, mas com pontas alvas como a de sua madrasta. No ano seguinte, mais uma menina se juntou a família, dessa vez, mais parecida com o pai. Os três filhos compartilhavam os mesmos olhos.

Midori era uma ótima irmã mais velha. Ensinava tudo que aprendia aos seus irmãos, e parecia ser alguém mentalmente mais saudável para cuidar deles do que Fumiko, que por alguma razão se desestabilizava em lágrimas algumas vezes ao dia.

Já era tarde quando estava voltando da aula de piano, sentiu um silêncio atravessar a sala junto com um vento frio. Seu pai certamente não estava em casa.

— Cheguei ! — Ela gritou, ouvindo o frenesim sair do quarto um atrás de outro.

Dois pares de pés descalços corriam para fora do quarto, aparecendo no corredor que seguia em direção a escada. Eles desceram gritando. Naquele dia, todos os empregados estavam de folga, e era o dia mais cansativo de Fumiko.

A irmã caçula pulou na mais velha, sendo praticamente agarrada para não cair. Ryunosuke ficou para trás.

— Finalmente. Achei que você moraria naquele buraco. — Seu irmão exclamou desistindo de correr a frente de Gin, recuperando o fôlego.

Midori o olhou torto.

— O que eu já disse sobre fazer comentários maldosos a respeito da condição financeira das pessoas ? Meu professor de piano é um profissional, e você, o que é ? — com o questionamento, o garoto cruzou os braços e virou o rosto emburrado.

Gin riu alto, ainda nos braços de Midori.

— Haha, bem feito ! Isso que dá ficar se exibindo pela sua habilidade. — a morena disse dando a língua para o garoto.

Ryunosuke abriu a boca, mas o olhar assustador de sua irmã o travou. Aos seus nove anos, Gin foi a única filha a não apresentar nenhuma habilidade, algo que assustou seu pai. “ Sejam úteis. Nossa família tem um legado, e nossas habilidades são o núcleo disso”, era o que seu pai dizia. Um incidente despertou os poderes de Midori e de seu irmão, mas a caçula nunca deu nenhum sinal de habilidades.

— Bem vinda. — a voz agradável e doce da moça no corrimão do corredor fez os três se distraírem da conversa.

Fumiko estava péssima. Mais magra do que depois de seus partos, olhos fundos e escuros. A mulher vestia uma saia preta longa e uma blusa clara de manga comprida. Midori sentiu a garganta secar. Sabia o motivo de tantos panos em um único corpo.

Tríade Armagedom | Bungou Stray Dogs Onde histórias criam vida. Descubra agora