Capítulo 28

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O soldado estremeceu ao reconhecer o detetive sentada na cadeira de seu escritório. Seu sorriso parecia uma singela simpatia, mas não deixou de ser temível a ele.

— Tem um tempinho para me ouvir também ? Ou prefere ligar logo para a segurança vir buscar o terrível terrorista a solta ? Ou talvez você mesmo faça esse trabalho, já que tem mais competência para isso. — Ranpo disse com uma voz dramática e teatral, apontando para o objeto na mesa.

Fukuchi não lhe respondeu, apenas andou até o telefone e o levou até o ouvido. Discou o número que dava ao andar de baixo e disse:

— Não deixe ninguém entrar no meu escritório por cinco minutos. Depois eu explico.

Quando terminou a ligação e se virou, viu as sobrancelhas de Ranpo levemente arqueadas.

— Só cinco minutos ?

— Não é o suficiente para você me convencer ? — para a surpresa do comandante, seu questionamento foi respondido com um sorriso aberto.

— Não poderia ser melhor.

Fukuchi se sentou com a cadeira ao contrário e riu com a cabeça entre os braços cruzados.

— Você não muda, menino. Continua o mesmo desde que nos conhecemos. — o velho refletiu lembrando-se perfeitamente do garoto anos atrás pulando e gritando com Fukuzawa.

Ele não podia mentir para si mesmo, sentia inveja da capacidade de Fukuzawa de aturar birras como aquela. Mas a verdade é que entre todos aqueles arquejos e reviradas de olho, havia no espadachim um sentimento de proteção e dever sem tamanho, o qual o próprio tentava equilibrar. Para Fukuchi, não seria uma surpresa se acabasse lutando com seu amigo de infância por causa do garoto à sua frente.

— Você também não, comandante. O presidente já disse que sóbrio ou bêbado não muda muito o seu perfil. Como na comemoração de um ano da Agência que você mijou no letreiro. — o momento assombrou a lembrança do velho como uma mancha de tinta espalhada na água.

Sua mão tampou seu rosto com vergonha.

— Desculpa por aquele dia. Pode falar o quanto quiser. — Ele permitiu, ouvindo apenas a risada de Ranpo.

— Não precisa. A questão é que naquele dia o presidente me explicou porque ele confiava em você. Se ele me disse aquilo, então só me resta aceitar e me unir a você para destruir a Decadência do Anjo.

— E acha que vou aceitar assim ? Sem meios melhores para me convencer ? Estou decepcionado. — o homem bradou com um olhar afiado.

A Ranpo só restou encostar as costas na cadeira e bocejar.

— Eu bem que poderia induzir você psicologicamente, ou ameaçar, até mesmo usar alguma habilidade para controla-lo, mas não estou fazendo isso por um pedido do presidente. — o rapaz se levantou e deu passos até o velho, com as mãos no bolso e semblante neutro, mas interior receoso — “Apenas confie no Fukuchi.” Foi oque ele me disse. Eu vou na mesma direção que o presidente, e por isso não duvidarei de você.

O homem suspirou e fechou os olhos. Levantou-se e tomou em suas mãos o casaco dos cães de caça, o jogando por cima dos ombros.

— Precisamos sair daqui sem chamar atenção.

• • •

Atsushi estava em dúvida se olhava ao seu redor ou para a saída do cais. Apesar de ter a certeza de que havia feito uma boa encenação e despistados alguns operadores, ainda estava atento com a movimentação no navio.

Um arrepio percorreu sua espinha e ele voltou a encarar o cais, e foi lá que avistou os dois indivíduos que se aproximavam em passos desalinhados. Fukuchi era o que andava mais depressa, enquanto Ranpo caminhava com sutileza e tranquilidade, mas ainda em um ritmo semelhante. Sua mão foi até o ouvido, ligando o comunicador e causando um ruído ao ouvido de Atsushi antes de falar.

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