Capítulo 11 - Suzanne

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          Naquela noite em que abri a porta da casa de meu Senhor Christopher, para recepcionar o Sr. Hugo Hunter e Henriqueta Borges, uma jovem que começava a dar os seus primeiros passos no mundo em que eu já havia descoberto há alguns anos, eu percebi que ela estaria presente em nossas vidas.

          É algo em que não encontramos explicações ou descrições, alguns diriam que é o universo conspirando, que tudo já está escrito, que é o destino. Não sei se tudo já está escrito para nós, acredito que existam sim conspirações do universo, como foi o que aconteceu na primeira vez em que fui apresentada ao meu Senhor. Nesse momento ao estar me recordando daquela noite,  que foi meu aniversário, eu estou com uma profunda dor em meu peito, uma imensa tristeza invade meu ser de uma forma avassaladora.

          Não tenho palavras para descrever a imensa falta que a presença do meu Senhor, do meu Christopher está me fazendo, mas eu precisava vir aqui na historia de Henriqueta, que não deixa de ser também parte de minha historia e também por conta desta parte estar me fazendo ter coragem para viver, não apenas uma vida em morte uma vida de espera, mas uma vida na qual estou tendo a sensação de viver, talvez esteja soando bem estranho isso, mas é a forma que neste momento consigo me expressar.

          Tenho me preparado a meses para poder vir aqui, estar agora onde estou, nesse salão onde vivenciei imensas alegrias, descobertas sobre mim mesma, onde eu vi o desabrochar de Henriqueta como posse do Senhor Hunter, onde por incontáveis vezes eu me sentei, onde estou sentada nesse momento, junto à poltrona do meu Senhor, minha cabeça recostada em sua perna, sentindo sua mão acariciando meus cabelos, sentindo o puxar da guia me mostrando que meu Senhor desejava algo, desde um copo d'água até o seu desejo por mim.

          Relutei muito em estar agora como estou, usando a coleira que usei durante o seu funeral,  apesar de saber que muitas e muitas pessoas que estavam presentes não conseguiriam entender o significado daquele adorno em meu pescoço, pois uma grande parte dos que compareceram não eram frequentadores ou conhecedores do meio BDSM, muitos eram pessoas ligadas ao ramo de construção, muitos só me conheciam do meio de trabalho, sei que muita gente deve ter estranhado, muitos devem ter comentado, mas isso não importa agora e muito menos importou naquele momento, um momento em que eu demonstrava a todos, se entendessem ou não, quem realmente eu sou, a posse submissa do Senhor Christopher.

          Mas eu dizia que havia relutado muito em estar como estou agora, sentada ao chão, junto à essa poltrona e com a minha mais bela coleira, que é exatamente a que eu usava quando conheci Henriqueta que agora é Queta de Hunter, uma filha para mim, que me deu dois belos netos, um deles meu afilhado e a outra que leva o meu nome, mas também que se tornou minha amiga, confidente, parceira de sessões com nossos Donos, que saudades desses momentos, pelo menos agora um pequeno sorriso surge em meu rosto ao lembrar-me da primeira vez em que estivemos em momento de imensa intimidade, com Henriqueta ainda grávida de seu primogênito, sim tenho muitas e belas lembranças de nós quatro juntos.

          Encostei minha cabeça, como sempre fiz quando Christopher estava sentado nessa poltrona, tomando seu conhaque, fumando seu charuto, uma luta contra quem travei com todas as minhas forças, uma luta em que tive punições e as aceitei, mas que foi uma bela luta isso foi e de muita alegria no dia em que ele deixou de lado aqueles charutos. Mas agora não encontro mais as suas pernas para apoiar, descansar a minha cabeça e aguardar por um toque, uma carícia de seus dedos. 

          Quando eu perdi o Christopher naquela manhã meu maravilhoso mundo desmoronou, lembro de estarmos em uma sala íntima da casa, onde costumávamos ficar após o jantar, conversando, namorando, assistindo ao noticiário ou até mesmo vendo um filme, chamávamos de nossa sala baunilha, era um filme de ação eu estava bem interessada e envolvida com a trama e em determinado momento ele me disse que iria deitar, lhe disse que queria terminar de assistir ao filme, ele segurou meu rosto com suas mãos me beijou carinhosamente e me desejou uma boa noite. Aquele foi o último momento em que ouvi a sua voz, em que recebi um beijo dele, não demorou muito e o filme acabou, fui me deitar e na manhã seguinte ao levantar ele já não estava mais lá.

          Após o funeral e todos os ritos de praxe eu só afundei, fiquei deprimida, confesso que cheguei a pensar em ir atrás dele, mas não tive coragem para isso, precisei que Henriqueta viesse para cá com o Dono dela e seus filhos, precisei ser forte para assumir os negócios do Christopher.

          E está sendo muito difícil fazer o que eu me preparei arduamente para fazer ao vir sentar-me para escrever algo sobre as mudanças ocorridas em minha vida desde que recepcionei Henriqueta, pensava que eu precisava fazer isso até mesmo como um ritual de passagem. 

           Mas agora eu tenho somente o couro que a reveste essa poltrona de tantos prazeres e belas lembranças, couro esse que nesse momento me parece áspero e duro, nesse instante eu já não consigo ler direito o que estou escrevendo, meus olhos estão embaçados, meu nariz escorrendo e uma imensa saudades que me engole. Está me sendo impossível continuar me desculpem, quem sabe em outro momento eu possa conseguir, eu preciso disso.

 Está me sendo impossível continuar me desculpem, quem sabe em outro momento eu possa conseguir, eu preciso disso

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