14_ Ciúmes

2.3K 514 205
                                    

Chegamos a cachoeira cansados e ainda mais suados. É isso o que acontece quando se corre num dia de sol e calor.

O lugar estava repleto de turistas, foi até difícil encontrarmos um lugar vazio na água para conseguirmos nos refrescar. Para a minha sorte, as pessoas gostam de nadar livremente e preferem ficar no fundo, o que deixou um lugar perto de pedras para nós.

Tirei apenas a minha blusa quando me sentei na pedra onde batia água. Estava extremamente gelada, mas o gelado do tipo que te faz fazer uma careta, mas que logo seu corpo acostuma, ainda mais quando se está um calor danado.

Sucri tirou sua camisa, ficando apenas com a bermuda, e se sentou na pedra ao meu lado. Pude perceber que algumas garotas, que estavam ali juntas, cochicharam entre si enquanto olhavam para Sucri com aquele sorriso de interessada.

Observei Sucri. Eu passava tempo demais achando-o irritante que não era muito de admirar a sua beleza. E ele era bonito. Lembro de ter notado isso no instante em que percebi suas semelhanças com o personagem que eu pensei ter criado.

Nada dele parecia imperfeito. Tudo parecia combinar com tudo. O cabelo bagunçado daquele jeito que eu dá atender que ele arrumou propositalmente para ficar assim, os olhos castanhos claros que ficavam verdes no sol, o sorriso que variava de brincalhão à completamente atraente. Seu unico defeito, digo, características que geralmente seria considerada um defeito, era sua cicatriz no pescoço. Mas, também não era um defeito. A cicatriz o fazia parecer, sei lá, sério e ainda mais atraente, era como tatuagem.

ㅡ Vou dar um mergulho. ㅡ Ele jogou a blusa no meu colo.

ㅡ Vai nessa. ㅡ Embolei sua blusa e a segurei. Sucri foi até a parte mais funda, onde as demais pessoas estavam, e mergulhou. Notei que as mesmas garotas começaram a se aproximar dele, uma empurrando a outra na direção dele. Eu estava curiosa para ver como ele reagiria num flerte, não consigo imagina-lo fazendo algo sério.

Minha curiosidade foi interrompida por um cara que escorregou na pedra e caiu sentado do meu lado.

ㅡ Meu Deus, você ta bem? ㅡ O observei procurando algum machucado, mas ele começou a rir.

ㅡ Eu to, desculpa. ㅡ Ele tirou os cabelos do rosto, revelando ser alguém que tinha mais ou menos a minha idade, talvez a mesma de Sucri. ㅡ Eu te acertei?

ㅡ Não, eu to bem. ㅡ Balancei a cabeça. ㅡ Essas pedras são perigosas, você podia ter se machucado. ㅡ Ele parou de rir do próprio tombo e olhou para mim com um sorriso de vestígio da risada.

ㅡ Seria brega se eu dissesse que tive uma queda por você? ㅡ Não tive reação. Primeiro porque não entendi se ele usou do tombo para fazer uma cantada ou realmente se jogou só para me cantar.

ㅡ Seria. ㅡ Sucri apareceu, de repente. O rapaz olhou para ele sem entender a intromissão na conversa enquanto Sucri parava na minha frente, ainda dentro da água, como se tivéssemos muita intimidade.

ㅡ Quem é você? ㅡ O garoto perguntou.

ㅡ O cara que ta viajando com ela, e você? ㅡ O cara engoliu em seco como se tivesse perdido na conversa. Como o que Sucri disse fosse o suficiente para ele entender que éramos um... casal.

ㅡ Ninguém, não. ㅡ Ele se levantou da pedra e saiu dali com um olhar nada contente.

Sucri encarou o garoto com o olhar sério até perde-lo de vista. O olhar sério que eu nunca pensei que veria em seu rosto. O olhar sério que me fez repreender a mim mesma por ter me sentido atraída por ele. O fato dele estar bem na minha frente também não ajudava muito.

Até que ele virou o rosto para mim e sorriu. Aquele sorriso besta dele.

ㅡ Que que foi isso? ㅡ Arqueei uma sobrancelha.

ㅡ Isso o que?

ㅡ Esse seu olhar assassino. ㅡ Ele deu com os ombros.

ㅡ Ciúmes.

ㅡ Ciúmes? ㅡ Franzi o cenho.

ㅡ É, Morgana. ㅡ Ele parou de sorriu e passou a mão no rosto para tirar o excesso de água. ㅡ Sou apaixonado por você, lembra? Vou me corroer de ciúmes sempre que vir um cara dando em cima de você. Sei que não temos na nada, mas na minha cabeça, você é minha. ㅡ Suas palavras não soaram como possessiva, pelo contrário, soaram tão amáveis e inocentes que meu coração disparou novamente.

ㅡ Mas...

ㅡ O que não significa que vou te proibir de nada. Só intervi aqui porque vi ele beijando uma garota não tem nem dois minutos. ㅡ Ele encarou a água. ㅡ Vou tentar te conquistar, mas não vou tentar impedir se quiser se relacionar com outra pessoa. Desde que ele não seja alguém ruim. Não suportaria ver alguém te fazendo mal. ㅡ Seu olhos voltaram a focar em mim.

Ele não estava rindo, não estava zombando, nem estava com seu sorriso idiota. Ele estava... vulnerável. Seus olhos, agora verdes pela luz do sol, denunciavam a sua sinceridade. Ele estava com o coração aberto ali e eu me sentia no poder de cuidar ou machuca-lo.

Provavelmente não era algo a se pensar quando alguém está desabafando seus sentimentos, mas tudo o que eu quis foi a minha câmera. Queria fotografa-lo, bem ali, do jeito que estava. Queria ter a imagem dele daquele jeito para sempre, porque nunca me senti tão amada quanto naquele momento.

Senti os meus olhos embarcarem e arderem. Senti uma lágrima escorrer pelo canto de um dos meus olhos e limpei rapidamente, abaixando a minha cabeça.

ㅡ Ei? O que foi? ㅡ Ele se aproximou um pouco mais.

ㅡ Nada. ㅡ Minha voz saiu tremida pelo choro.

Ele não insistiu em perguntar de novo, apenas acariciou meu cabelo com uma mão enquanto a outra segurava meu ombro. Ele estava perto o suficiente para eu sentir o seu hálito, mas não consegui erguer a cabeça. Não queria vê-lo e nem explicar que estava chorando porque me senti rejeitada por toda a vida e agora alguém olhava para mim e me queria.

ㅡ Você quer voltar pro motorhome?

ㅡ Não precisa, aproveita um pouco mais. ㅡ Continuei com a cabeça baixa.

ㅡ Eu já aproveitei o suficiente. ㅡ Ele saiu da água e estendeu a mão para mim. ㅡ Vem. ㅡ Segurei em sua mão e me levantei. Ele pegou a blusa da minha mão e jogou sobre o ombro.

Sucri pegou na minha mão e me guiou até sairmos da cachoeira e nos afastarmos das pessoas. Quando já estávamos no caminho de terra, ele não soltou minha mão. Na verdade, senti diversas vezes que ele queria me abraçar, mas não o fez, apenas continuou segurando a minha mão.

Voltamos ao trailer e Sucri parou ao lado de fora.

ㅡ Você quer ficar um pouco sozinha?

ㅡ Não, nós já temos que ir. ㅡ Ele concordou com a cabeça e entrou no trailer, já fechando a porta atrás de si. Nós dois tiramos a roupa molhada e ele já foi para a parte da frente do trailer para começar a dirigir.

Eu estava no quarto quando o vi parado lá na frente. Ele estava em pé, o sorriso besta dele não estava em seus lábios, na verdade, ele parecia estar se sentindo culpado. Foi quando percebi que minha reação de choro veio logo após ele ter dito tudo aquilo. Sucri estava pensando que era culpa dele eu estar assim.

Senti que iria chorar de novo, só que dessa vez por estar fazendo mal a ele.

Segurei as lágrimas. Segurei tempo suficiente até sair do quarto correndo e ir na direção dele. Ele se assustou, mas eu o abracei. O abracei forte para que ele entendesse que ele não tinha culpa de nada. Ele não demorou a retribuir o abraço. Na verdade, assim que o abracei, seus braços imediatamente me rodearam o meu corpo, como se ele estivesse querendo fazer aquilo a muito tempo.

•••
Continua...

Amor à primeira linha IIOnde histórias criam vida. Descubra agora