15_ Natal e Halloween

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Sucri começou a dirigir e saiu com o motorhome depois que eu voltei para o quarto e comecei a pesquisar sobre o tal Montgomery. Infelizmente, não tinha nada além do que estava no livro da tal Molly.

Reli a história da Arizona novamente, mas, dessa vez, prestei mais atenção nos detalhes. Eu não tinha parado para pensar em como deve ter sido difícil para ela. Ela estava em outra realidade, vivendo a vida dos sonhos, conheceu o cara que amava e tudo estava indo perfeitamente bem para ela, mas teve que desistir de tudo para salvar a vida do cara, e sabendo que ele não se lembraria dela após sair.

Não consigo imaginar como foi para ela voltar pra cá sem nada e se encontrar sozinha no orfanato de novo. Ela não tinha ninguém. Eu ainda tenho a Lud, mas ela não tinha ninguém. Tenho medo de procura-la tentando arrumar a minha vida, mas a fazer sofrer por se lembrar de tudo isso. E se ela decidiu esquecer? E se ela deixou toda a história do Montgomery para trás e eu aparecer, trazendo tudo a tona novamente? Espero estar fazendo a coisa certa.

[...]

Eram quase nove da noite quando Sucri estacionou o motorhome em outro camping, só que agora em Brasília. Ele tinha dirigido o dia todo e só fez uma pausa para almoçar.

Eu estava com o macarrão no fogo quando ele se levantou da poltrona do motorista e esticou o corpo. Percebi que havíamos parado e olhei parla trás de mim, para olhar a janela. Esse camping era um pouco maior, mas uma média lagoa ocupada um bom espaço do gramado verde. Diferente do último que paramos, ali era quase um estacionamento, pois todos os motorhomes eram estacionados um ao lado do outro, e não aleatoriamente.

E bem diferente do clima da noite passada, a noite estava fresca e com vento de chuva.

ㅡ Eu não aguento mais ver asfalto. ㅡ Sucri passou as mãos no rosto e eu me levantei para ver o macarrão. Era a primeira vez que eu estava usando o fogão do trailer e, sinceramente, tive medo de explodir tudo. ㅡ O que acha de irmos dar uma volta no centro?

ㅡ Agora?

ㅡ Não, vamos comer primeiro porque se não eu desmaio. Depois vamos. ㅡ Eu concordei com a cabeça sem demonstrar muita emoção, mas por dentro estava dando graças a Deus. Eu tinha ficado oito horas dentro daquele motorhome e precisava sair, nem que fosse um pouco.

Nós dois jantamos e logo depois nos arrumamos para ir até o centro. Não sabíamos onde era e nem o que tinha lá, muito menos se tinha alguma coisa aberta. Mas, arriscamos. Seria melhor do que continuar trancados daquela lata de sardinha retrô e arrumadinha.

Como não conhecíamos nada, fomos perguntando às pessoas. Quando percebemos, estávamos no que parecia ser o centro da cidade. Altos prédios, lojas e restaurantes ainda abertos, para a nossa sorte. Haviam bastante pessoas andando para lá e para cá, sem contar que eles estavam começando a enfeitar a cidade para o natal. Outra coisa que eu estava preocupada demais para perceber. Estávamos em dezembro! Era o mês do natal.

ㅡ Precisamos enfeitar o motorhome. ㅡ Comentei observando a imensa árvore que estavam colocando numa praça.

ㅡ Que? ㅡ Sucri perguntou confuso.

ㅡ Precisamos enfeitar o motorhome. Eu não tinha percebido que estávamos tão perto do natal. Eu adoro o natal. E amo enfeites. ㅡ Apontei para as decorações.

ㅡ Você diz... hoje?

ㅡ Não precisa ser hoje. ㅡ Dei com os ombros. ㅡ Mas, o mais breve possível. ㅡ Voltei a caminhar e ele se apressou para me alcançar.

ㅡ Fala aí, casal bonito! ㅡ Um rapaz que nunca tínhamos visto na vida nos parou na calçada. Ele estava em frente a uma universidade e segurava uns panfletos na mão, não só ele, como mais cinco ou seis estudantes também estavam na mesma calçada fazendo a mesma coisa, cada um com uma blusa de uma cor. ㅡ Vocês são novos na cidade? ㅡ Ele falava como aqueles jovens de filmes teen, sabe? Geralmente o quaterback do time, que namora e líder de torcida.

ㅡ Estamos só de passagem. ㅡ Sucri respondeu.

ㅡ Vão ficar até amanhã? Porque amanhã começa a competição das irmandades e fraternidades aqui da UnB e nosso primeiro desafio é ver qual fraternidade lota mais uma festa. Não se preocupe, será supervisionada, então não terá nada ilegal, eu acho. ㅡ Ele nos entregou o folheto colorido e festivo. ㅡ A festa começa às nove, no prédio da fraternidade Alpha, o vermelho. ㅡ Indicou um dos prédios dentro do campus. ㅡ O tema do nosso Halloween, então venham fantasiados.

ㅡ Valeu. ㅡ Sucri respondeu novamente antes de voltarmos a caminhar com os folhetos nas mãos. ㅡ Você quer ir?

ㅡ Festa de universidade? Acha que é uma boa ideia?

ㅡ Acho que é uma aventura. É pode ser legal pra você. Podermos escapar da festa e dar uma olhada na universidade. Você mesma disse que não sabe ainda o que quer cursar. ㅡ Apertei o papel em mãos. ㅡ E vai ser supervisionado.

ㅡ Se formos, vamos fantasiados de que? Nunca fui a uma festa de halloween, as pessoas usam mesmo fantasia de bruxa, anjos e demônios? ㅡ Contorci o meu rosto numa careta.

ㅡ Não, Halloween é para usar a criatividade. ㅡ Ele parou de andar. ㅡ Quer saber? Eu tenho uma ideia. Pode deixar comigo.

ㅡ Deixar com você? Quer que eu confie a você algo que eu vou vestir em público? ㅡ Cruzei os braços.

ㅡ Ta querendo dizer o que com esse deboche todo? Eu sei fazer algumas coisas viu, não sou imprestável, não. ㅡ Ri do seu drama, mas parei quando senti gotas pingarem em mim.

Eu sabia que aquele vento era chuva.

A chuva começou de repente e sem aquela primeira fase fraquinha, foi direto para a fase gotas grosas, rápidas e pesadas. Estávamos num lugar aberto, então corremos para um que tivesse uma cobertura, o que não adiantou nada, porque só nessa corridinha, ficamos encharcados.

[...]

ㅡ Abre isso, Sucri! Abre! ㅡ Minha voz soava em meio ao barulho da chuva forte.

ㅡ To abrindo, to abrindo! ㅡ Ele gritou empurrando a porta do motorhome para dentro e finalmente conseguimos entrar e sair da chuva.

ㅡ Eu vou tomar banho primeiro. ㅡ Corri para dentro passando por ele, mas logo senti sua mão segurar o meu pulso.

ㅡ Não, eu vou! ㅡ Ele me puxou para trás e passou na minha frente, mas agarrei sua blusa e o puxei para trás também.

ㅡ Não, Sucri! ㅡ Eu estava rindo. Estava rindo tanto daquela situação que nem sei como ainda conseguia gritar com ele.

Sucri escorregou no chão que nós molhamos com nossos tênis molhados e caiu, o que me deu uma vantagem e eu passei em sua frente. Estava quase chegando na porta do banheiro quando sei ele me puxar pela cintura. Não sei como ele conseguiu levantar tão rápido, mas o seu toque em minha cintura me desestabilizou e eu acabei escorregando... e o levando junto.

Sucri segurou atrás da minha cabeça para que eu não a batesse no chão. Quando abri os olhos, ele estava por cima de mim. Seu rosto estava próximo ao meu, sua mão por de trás da minha cabeça e a outra na minha cintura.

Meu coração batia tão forte que eu quase conseguia senti-lo sobre o peito. Meus olhos não conseguiam desviar dos seus. Eu estava a ponto de entrar em colapso quando os olhos deles desviaram dos meus e focaram nos meus lábios.

•••
Continua...

Amor à primeira linha IIOnde histórias criam vida. Descubra agora