O bom clima, as risadas e a leveza no ar daquele bairro se esvaíram no instante em que Sucri caiu de joelhos no chão e desmaiou de tanta dor.
Pessoas saíram de suas casas e vieram até nós tentar ajudar. Uns dois caras o pegaram e perguntaram o lugar que estávamos ficando enquanto algumas mulheres tentavam me acalmar.
Crianças, que segundos atrás estavam brincando na sala de suas casas, agora estavam paradas na frente de suas portas, olhando toda a situação com uma expressão de preocupação.
Tudo ao meu redor pareceu mais triste no momento em que Sucri sucumbiu.
Levaram-no de volta ao hotel que estávamos ficando. O colocaram na cama do nosso quarto e tentaram me tranquilizar dizendo que ele ficaria bem. Também sugeriram levá-lo ao hospital, mas Sucri não tinha um documento sequer, a não ser a carteira de motorista. E também não adiantaria nada. Que hospital poderia tratar um bug entre realidades causado por um livro idiota?
ㅡ Ele já deve acordar, não se preocupe. Descanse também. Vocês estão viajando e ele devia estar cansado. ㅡ A senhora, dona do hotel, tentou me tranquilizar no corredor. Observei Sucri pela porta do quarto. Ele estava deitado sobre a cama com uma expressão serena no rosto, como se não tivesse se contorcido de dor a uns minutos atrás. ㅡ Ele já não está desmaiado, só está dormindo.
ㅡ Obrigada. ㅡ Me esforcei para sorrir, mas tenho certeza de que meu sorriso parecia mais triste do que outra coisa.
Ela deu um tapinha leve no meu ombro e se afastou pelo corredor. Abracei meus braços quando me virei para a porta do quarto com as luzes apagadas e fitei Sucri sobre a cama.
Ele parecia tão frágil. Tão... Vulnerável.
O que me quebrava era o fato dele dizer com toda convicção que passaria por isso tudo, mesmo sabendo que sofreria, só para me encontrar.
Entrei no quarto, fechei a porta atrás de mim e me escorei nela. Me doía muito vê-lo daquela maneira. Me doía vê-lo sentindo tanta dor a ponto de desmaiar. Eu não acho que eu valia tanto assim para ele passar por isso.
Precisávamos chegar logo aos Estados Unidos. Precisávamos resolver logo tudo isso. Eu não vou aguentar vê-lo sofrer assim de novo.
Algo dentro de mim machucou o meu peito. Um sentimento forte se uniu ao medo de perde-lo e, acima disso, ao medo do mundo perde-lo. Hoje ele desmaiou de dor, o que vai ser da próxima? E se ele...
Apertei os olhos com força. Lágrimas rolaram pelo meu rosto. A dor do meu peito parecia tão física que pensei ter levado um soco ou coisa parecida. Foi como se tivessem arrancado algo de dentro de mim a força.
Abri os olhos encontrando o mesmo quarto escuro. As janelas estavam abertas, mostrando relances de casa coloridas e um mar agitado. A lua brilhava refletida no mar. Em volta, tudo era escuro. Exatamente como eu estava me sentindo. Parecia que tudo dentro de mim estava escuro.
Foi quando Sucri começou a se mexer. Não só se mexer, como se debater sobre a cama.
ㅡ Não... Não... ㅡ Ele sussurrava.
Me aproximei dele, subi ao seu lado na cama e toquei os seus ombros.
ㅡ Sucri? Sucri, acorda. Está sonhando... ㅡ Balancei os seus ombros até ele abrir os olhos e olhar pelo quarto com um desespero horrível no olhar. ㅡ Sucri? ㅡ Seus olhos pousaram em mim.
Quando percebi, ele estava me abraçando. Me abraçando de uma maneira angustiada, como se tivesse vivido um inferno nos últimos minutos.
ㅡ O que aconteceu? ㅡ Ele perguntou quando nos separamos.
ㅡ Você... ㅡ Puxei o ar com o nariz e senti mais lágrimas escorrerem. ㅡ Você não se lembra?
ㅡ Eu... ㅡ Seus olhos passearam pelo quarto, pela cama, por suas roupas brancas, pelo buquê de quatro flores sobre a cômoda. ㅡ Aconteceu de novo? ㅡ Eles focaram em mim e eu assenti.
ㅡ Você desmaiou, Sucri. Sentiu tanta dor que desmaiou. ㅡ Passei a mão no rosto para secar as novas lágrimas. ㅡ Eu não quero te ver passando por isso de novo, precisamos chegar logo aos Estados Unidos.
Sucri suspirou de uma maneira pesada. Ele passou uma de suas mãos por seu rosto de uma maneira tão frustrada que mal parecia o mesmo bobo que estava viajando comigo.
ㅡ Será que... ㅡ Quebrei o silêncio composto apenas pelo som de nossas respirações pesadas. ㅡ Se isso acontecer de novo e você... E você desparecer, você volta para sua realidade? Você volta e fica bem?
ㅡ Eu não sei. Mas, eu não quero isso.
ㅡ Por que? Se você voltar... Não vai mais passar por isso, Sucri. Eu não quero mais te ver sofrer!
ㅡ Eu ainda acho que vim te buscar e quero cumprir com isso. Não me importo com essas dores. Não volto sem você. ㅡ Disse como o belo teimoso que era.
ㅡ Mas, Sucri...
ㅡ Você mesmo disse que quer ir comigo, Morgana. Disse que acha que pode ter vindo de lá e que você pode ter família lá. Eu não vou embora sem você. Se esse livro me escolheu para buscar você, não vou falhar nisso. ㅡ Disse com convicção.
ㅡ Mas, por que, Sucri? Por que passar por tudo isso por mim? A dois meses atrás você nem me conhecia. Por que fazer tudo isso por mim? ㅡ Soltei as perguntas que estavam perfurando o meu coração.
ㅡ Eu não sei, Morgana! Eu só sinto que faria tudo por você. ㅡ Seus olhos estavam alarmados. Seu peito subia e descia de maneira pesada enquanto ele respirava. ㅡ A dois meses eu não te conhecia, mas aí... Conheci. Conheci a versão que o Montgomery apresentou de você e me apaixonei. Conheci a você verdadeira quando o Montgomery me trouxe pra cá e só me apaixonei mais. Eu não consigo te tirar da cabeça. Nos primeiros dias, quando te conheci na cafeteria e você ficou trocando olhares comigo, tive certeza de que aqueles olhos não sairiam do meu pensamento tão cedo. Toda vez que eu olho pra você, algo em mim se sente completo. Eu me sinto feliz, mesmo estando nessa situação de merda. Mesmo sabendo que eu posso cair no chão de tanta dor a qualquer momento. ㅡ O quarto virou um borrão aos meus olhos. As lágrimas quentes se acumularam nos meus olhos a medida que Sucri dizia cada palavra. ㅡ A verdade é que nunca senti nada assim por ninguém. O que sinto por você só parece crescer mais a cada dia. É por isso que quero e vou passar pelo que for se eu puder fazer algo por você. Se for para você ir para a minha realidade, se for para viver no seu verdadeiro lugar, se for para encontrar sua família, se for para te fazer bem, eu vou te levar e não vou desistir. Mesmo que você vá e nem fique comigo. Eu só não quero ir embora e te deixar sem ter feito nada por você.
ㅡ Mesmo que não consiga me levar com você... ㅡ Puxei o ar com dificuldade. ㅡ Já vai ter feito muito por mim.
Me aproximei de Sucri e o abracei. Ele se deitou na cama e eu o abracei, apoiando minha cabeça sobre o seu peito. Seus braços me envolveram como um lar novamente e ali pude respirar direito.
ㅡ Por que acordou tão assustado? Com o que estava sonhando? ㅡ Perguntei sem olha-lo.
ㅡ Eu não me lembro de quase nada.
ㅡ Do que se lembra?
ㅡ Você não estava lá.
•••
Continua...
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Amor à primeira linha II
RomanceSEGUNDO LIVRO DA SÉRIE MONTGOMERY E se você escrevesse uma história de amor na qual você é a personagem principal e inventasse o cara perfeito que se apaixona por você? E se, de repente, ele saísse magicamente do livro e caísse no seu quarto?