35_ Não vou deixar você!

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Meu coração parecia que ia sair pela boca quando pulei da cama e corri na direção da cozinha. Sucri, que estava lavando louça, olhou para mim assustado.

ㅡ O que foi? O que houve?? ㅡ Ele secou suas mãos rapidamente e me fitou preocupado.

ㅡ A Arizona me ligou, disse que alguém roubou um motorhome no leste da Pensilvânia e que agora a polícia está parando todos os trailers que passam na pista. Precisamos chegar em Nova York logo, se nos pararem, tudo pode dar errado. E eu não vim de tão longe para dar tudo errado aqui, quando estamos tão perto de chegar! ㅡ Estava indo na direção do volante quando senti sua mão agarrar o meu pulso e me fazer parar. Olhei para ele com o meu rosto queimando. Eu estava nervosa, estava com medo, parecia que o chão poderia desabar sob os meus pés a qualquer momento e eu sabia que desmoronaria junto.

ㅡ Morgana? Se acalma. Você não pode dirigir assim. ㅡ Minha respiração estava desregulada. Parecia que o meu corpo todo estava entrando num estágio de Pânico que nunca experimentei na vida. ㅡ Dirigir nesse estado e provocar um acidente é pior do que ficar aqui e ser pegos pela polícia. ㅡ Comprimi os lábios tentando conter todo aquele desespero. ㅡ E acho melhor você trocar de roupa. Se formos parados por alguma patrulha, não acho que vai querer receber um policial vestida assim. ㅡ Encarei a camisola que eu tinha até me esquecido que estava vestindo. ㅡ Se acalma, ta bom? ㅡ Suas mãos apertaram os meus ombros e eu concordei com a cabeça. ㅡ Quer que eu dirija um pouco?

ㅡ Nem pensar. ㅡ Balancei a cabeça e voltei ao quarto para pegar uma roupa descente. ㅡ Por mim, você ficava escondido dentro da cama daqui até Nova York.

ㅡ Não vou fazer isso, parece até um caixão. ㅡ Ri tirando uma roupa da mala.

Troquei a minha roupa, fiz uma trança no meu cabelo e voltei para o banco do motorista. Sucri não se escondeu, mas ficou sentado no chão da cozinha lendo um dos livros que eu tinha trazido. O livro que tinha algumas cenas hot, que ele ficava chocado quando lia.

ㅡ Você acha que vamos conseguir? Acha que tudo vai dar certo? Que você vai conseguir voltar? ㅡ Soltei as perguntas que perturbavam a minha mente.

ㅡ Não pensa nisso. ㅡ Ele respondeu. ㅡ Pra falar a verdade, não estou tão preocupado.

ㅡ Como pode não estar? Eu estou quase dando um treco! Se a polícia nos parar, acho que meu nervosismo estragaria tudo. Iriam pensar que estou transportando Hitler clandestinamente. ㅡ Sucri soltou uma risada.

ㅡ Minha princesa, presta atenção... ㅡ Meus olhos estavam focados na estrada movimentada, mas meus ouvidos ficaram surdos para todo o resto. Minha mente se focou na voz dele. ㅡ A gente sempre soube que tudo podia dar errado. Assim como é na vida. As coisas sempre dão errado. Nossa linha de chegada na vida é a morte, e mesmo assim as pessoas vivem, riem, se divertem, amam, criam laços, criam momentos, mesmo sabendo que tudo isso no final leva a morte. Eu sabia desde o início que tudo poderia dar errado nessa viagem, é arriscado. Mas... Tentei focar no processo. No durante. Essa viagem foi a melhor coisa que me aconteceu e, mesmo que tudo dê errado, eu não me arrependo. Não me arrependo do dia que fomos a cachoeira, da noite que fomos na festa de Halloween, dos domingos que assistimos Brooklyn 99 no SBT, das músicas que ouvimos e cantamos juntos enquanto dirigíamos, das discussões bestas por causa de motivos mais bestas ainda, do beijo que demos no meio do campo de flores, de cada vez que sumi e desapareci, mesmo que aquilo tenha doído, dos dias que passamos no México porque o Motorhome quebrou e eu tentei realizar sua fantasia romântica secreta... ㅡ Tive medo de causar um acidente, pois meus olhos começaram a embaçar com as lágrimas. Pisquei os olhos várias vezes até elas rolarem e eu conseguir ver a pista com clareza de novo.

ㅡ Tudo pode dar errado. ㅡ Sucri continuou. ㅡ Mas, gostei de como tudo aconteceu. Gostei de como você conseguiu me fazer apaixonar por você a cada dia mais. Gostei de poder te demonstrar tudo o que eu sentia e ama-la por todos esses dias. ㅡ Aquilo tudo era triste demais. Por mais que eu também tivesse gostado de cada momento, não estava pronta para o clímax de reviravolta e tristeza. Droga, Montgomery, pra que isso? Por que minha história com Sucri não pode ser uma daquelas comédias românticas sem toda essa tensão e sem envolver polícia ou cadeia? Por que não nos esbarramos no corredor da faculdade ou derrubei café na blusa dele? Por que não viramos melhores amigos ou até mesmo inimigo e tivemos um belo Enemies to lovers? Mas, não! Temos que enfrentar realidades paralelas, viagens clandestinas, dores e talvez a cadeia.

Uma localização foi enviada para o meu celular. A foto do perfil era de uma garota de pele clara e cabelos bem pretos ondulados.

A mensagem dizia que era a Arizona. Ela disse para encontrarmos com ela naquele lugar, que ela e o marido nos esperariam de carro. Assim, deixaríamos o Motorhome e já não seríamos um alvo fácil da polícia.

Meu coração se acalmou um pouco com a ideia. Talvez as coisas não dessem errado. Talvez tudo certo, afinal.

ㅡ Depois que eu descobrir de quem foi a culpa de eu ter vindo parar nessa realidade, vou acertar tantas vassouradas... ㅡ Disse apertando o volante.

ㅡ Que isso, Morgana? Do nada? ㅡ Ele riu de novo.

ㅡ Ah, fala sério! Se eu não tivesse vindo pra cá e tivesse tido uma vida comum na sua realidade, teríamos nos conhecido na cafeteria e nada dessa loucura estaria acontecendo. E eu não teria sido excluída a minha vida toda. Quando eu descobrir de quem foi a culpa de eu ter vindo parar aqui... ㅡ Sucri pareceu se divertir com o fato de eu estar nervosa, o que não me incomodou, porque sua risada me acalma num nível absurdo.

Expliquei para Sucri o plano da Arizona e segui dirigindo.

Eu já estava no estado de Nova York quando o engarrafamento começou. Torci para ser apenas pelo fato de estarmos perto da cidade grande, mas logo a frente vi que tinha uma patrulha fazendo os carros passarem e devagar e verificando os trailers. Tinham apenas dois na minha frente.

ㅡ Sucri... ㅡ Minha voz mal saiu. ㅡ Polícia...

ㅡ Droga. ㅡ Sucri se levantou. O medo me tomou novamente. Estávamos tão perto. Tão perto! O lugar onde Arizona me disse para encontra-la não estava longe, era só alguns metros a frente. Eu acho que até podia vê-los!

Estávamos numa cidade pequena. Logo a frente tinha o que parecia ser uma loja de conveniência e um posto de gasolina ao lado. Tinha um carro parado lá e um cara asiático e duas mulheres estavam paradas olhando na nossa direção. Uma delas parecia demais a garota da foto.

Não, não pode ser agora... Estamos perto demais!

Faltava apenas um carro na nossa frente quando ouvi um barulho de algo caindo no chão. Olhei para trás e vi Sucri se contorcendo no chão, tendo uma daquelas coisas.

ㅡ Não, Sucri! ㅡ Corri em sua direção. Meus joelhos falharam e eu caí ajoelhada ao seu lado. ㅡ Vem, por favor... ㅡ As lágrimas inundaram meus olhos enquanto eu tentava ergue-lo para levar até o quarto. ㅡ Você precisa se esconder.

ㅡ Não... Consigo. ㅡ Sua voz mais pareceu um sussurro.

ㅡ Sucri, por favor, você precisa... ㅡ Caí ao seu lado. A dor tomava o meu coração e a alma de forma que eu só queria deitar no chão e chorar.

ㅡ Vai, Morgana... ㅡ Ele sussurrou.

ㅡ O que?? ㅡ Meus olhos se alarmaram.

ㅡ Eu não... ㅡ Ele continuava se contorcendo no chão. ㅡ Eu não consigo, por favor, vai. Foge.

ㅡ Eu não vou te deixar aqui! Sucri, pelo amor de Deus! ㅡ Carros estavam buzinando atrás de nós, Sucri gemia de dor, minha mente era uma bagunça e meu coração estava a ponto de se quebrar em dezenas de pedaços.

ㅡ Morgana... ㅡ Ele implorou, mas ignorei. Foi quando batidas soaram na porta atrás de mim e eu congelei.

ㅡ Morgana? É você? Sou eu, a Arizona. ㅡ Palavras femininas em inglês soaram e eu corri para abrir a porta. Lá estava ela e uma outra mulher de pele escura e cabelo cacheado. ㅡ Ai, meu Deus... ㅡ Disse após ver Sucri no chão.

ㅡ Leva ela... ㅡ Sucri implorou.

ㅡ Eu não vou deixar você!

ㅡ A polícia está vindo! ㅡ A outra mulher disse.

Os minutos seguintes foram como um borrão para mim. As duas mulheres me tiraram de dentro do motorhome e me arrastaram para fora da pista, se escondendo dos policiais que, segundos depois, entraram no trailer.

Eu não conseguia ouvir nada, nem sirenes, nem vozes, nem nada. Só o choro entalado na minha garganta enquanto via os policiais tirarem Sucri de dentro do motorhome como se fosse um boneco. Ele estava desmaiado.

O levaram até um ambulância que estava parada junto as viaturas e Arizona me colocou dentro do carro que seu marido já estava no volante. Nosso carro partiu para longe da ambulância, dividindo meu coração ao meio.

•••
Continua...

Amor à primeira linha IIOnde histórias criam vida. Descubra agora