38_ Eu te amo

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Uma semana se passou desde que tudo deu errado.

Eu não vi ou falei com Sucri desde aquele dia e tenho passado os últimos sete dias lendo livros que a Arizona tem aqui. Ela me deixou ficar num quarto até tudo se resolver e eu optei por não ficar na minha realidade. Minha realidade era triste demais e eu tentei escapar e me distrair lendo os livros dela.

Para uma garota que levava meses para terminar de ler um, eu li três só essa semana. Chorei nos três, mas não acredito que tenha sido porque eles eram tristes demais, acho que eu só queria chorar mesmo e usei os livros de desculpa.

Minha mãe me telefonou todos os dias dessa última semana. Ela me atualizou sobre tudo o que aconteceu na vida dela, tudo para me distrair e me fazer evitar de pensar no Sucri e em como tudo está ruim. Eu também contei a ela tudo o que tinha descoberto e foi aí que choramos juntas. Ela disse que sempre soube que um dia eu iria embora, mas não pensou que estivesse tão perto.

Eu pedi desculpas a ela por abandona-la e desejar ir para outra realidade, mas ela me deu uma bronca terrível por estar me desculpando. Disse que se eu voltasse para casa, me deixaria de castigo. Ela sabia o quanto eu sofri nessa realidade e tudo o que queria era que eu voltasse para o meu lugar e disse feliz de verdade uma vez na vida.

Faltavam cerca de três dias para a véspera de Natal. Eu estava em Nova York, tinha nevado a semana toda e agora a chuva caía forte lá fora, limpando a neve que ainda restava pelo chão. Todo o Brooklyn estava enfeitado e o clima de natal pairava por todo lado. Era para ser um momento feliz. Era para ser o melhor momento da minha vida, passando o Natal em Nova York. Mas, eu não conseguia nem sair daquele quarto.

ㅡ Morgana?? ㅡ Tisha praticamente arrombou a porta do quarto, me fazendo dar um pulo da cama. Arizona veio logo atrás dela, parecendo tão confusa quanto eu. ㅡ O julgamento do Sucri é hoje! ㅡ Meu corpo inteiro entrou em pane. ㅡ Se ele for mesmo condenado, suas chances de vê-lo de novo e... Toca-lo, serão mínimas. Precisamos fazer alguma coisa. ㅡ Arizona tapou a boca com a mão. Meus olhos começaram a arder e o meu coração a pulsar rápido feito um louco.

Estava acontecendo de novo. Tudo estava dando errado. Tudo estava desabando.

Droga, Montgomery! Faz alguma coisa!

Senti uma lágrima escapar por meus olhos no instante em que Tisha olhou para a tela do celular e atendeu a uma chamada com certa urgência no olhar.

ㅡ Oi, tio! O que foi?? ㅡ Me levantei da cama e me aproximei dela. ㅡ O que?? É sério?? ㅡ Os olhos dela se alarmaram. Meu coração parecia que ia explodir no peito. ㅡ Ta bom, já estamos indo. Em qual hospital? ㅡ Se houve um momento em que cheguei mais perto de desmaiar, foi nesse. Quando ouvi ela dizer a palavra hospital.

Tisha finalizou a ligação e olhou para mim.

ㅡ Encontraram o Sucri desmaiado na cela. Ele não acordava, então o levaram ao hospital. A notícia é ruim, mas pode ser a sua chance. Meu tio está lá com ele e disse que você vai poder entrar. Vai poder vê-lo e toca-lo. É a sua chance, Morgana! ㅡ Ela exclamou.

Não sei dizer exatamente o que aconteceu daquele momento até o que chegamos ao hospital. Parecia que eu estava grogue, alta. Eu não conseguia raciocinar direito. Tudo em mim parecia ter parado de funcionar. Aquela era a minha chance de voltar com Sucri para sua realidade e a minha ficha só caiu quando eu estava sozinha no quarto de hospital com ele.

O quarto branco e sem uma cor parecia combinar com o tom de pele dele. Sucri estava pálido em cima da cama. Tisha, Arizona e Mason ficaram do lado de fora, mas conseguiam ver parte do quarto pelo vidro da porta. O tio da Tisha me deixou entrar no quarto por uns minutos antes que chegasse mais alguém.

O caderno estava nas minhas mãos. Eu estava parada na frente da cama, olhando para ele com os olhos cansados e pesados de tanto chorar. Ele parecia estar dormindo.

Me aproximei dele e me sentei na cadeira ao lado da cama. Peguei em sua mão e isso o fez abrir os olhos devagar e olhar para mim. Ele se esforçou para abrir um sorriso fraco.

ㅡ Acho que tive uma daquelas coisas de novo. ㅡ Ele pareceu querer rir, mas não conseguiu. ㅡ Você ta bem?

ㅡ To. ㅡ Assenti sem tirar os olhos dele.

ㅡ Não parece.

ㅡ Você também não. ㅡ Ele abriu um sorriso no canto dos lábios.

ㅡ Já sei como vou levar você. ㅡ Ele tossiu uma vez e voltou a me olhar. ㅡ Escreve que você vai. Mas... Eu não. ㅡ Franzi as sobrancelhas.

ㅡ O que?

ㅡ Eu to fraco, Morgana. Não consigo te levar. ㅡ Ele tentou mexer o corpo, mas isso rendeu uma careta de dor em seu rosto. ㅡ Meu tempo deve ter acabado.

ㅡ Do que você... ㅡ Arregalei os olhos quando entendi sua proposta. ㅡ Eu não vou fazer isso! Não vou te deixar de novo.

ㅡ Linda... ㅡ Seus olhos cansados me encararam. ㅡ Não podemos voltar juntos, eu não consigo. ㅡ Pensar na possibilidade de ele não sobreviver partiu os pedaços já partidos do meu coração. ㅡ Volta você.

Neguei com a cabeça. Neguei várias e várias vezes.

Batidas na porta me fizeram olhar para trás. O policial indicou o pulso dizendo que meu tempo estava acabando e eu encarei Sucri.

ㅡ Eu disse que te levaria de volta de um jeito ou de outro. É a sua chance de ser feliz. De viver no lugar que você pertence e de conhecer sua família. ㅡ Tossiu mais uma vez. ㅡ Esses últimos dias foram os melhores da minha vida. Você já fez muito por mim. Por favor... Vai.

ㅡ Sucri... ㅡ Agarrei a caneta com força em minha mão.

ㅡ Eu te amo, Morgana. ㅡ Apertei os olhos. ㅡ Te amo demais.

Mais batidas soaram na porta e eu me concentrei no caderno em meu colo. Posicionei a caneta no lugar e comecei a escrever.

" Tudo tinha dado errado, mas não precisava continuar errado para nós dois. Um de nós merecia ser feliz e por isso voltou para sua realidade...

Encarei Sucri novamente, me inclinei e lhe dei um último beijo.

ㅡ Eu também te amo. ㅡ Sussurrei.

" Sucri voltou para sua realidade, da mesma forma que um dia saiu. "

A chuva forte que caía lá fora deixou que um raio caísse por perto, fazendo um estrondo soar.

Sucri começou a desaparecer, como acontecia quando ele tinha aquelas coisas, só que... Sem dor.

ㅡ Morgana... ㅡ Ele olhou para suas mãos já quase transparentes. ㅡ Morgana, não! ㅡ Seus olhos me encararam com desespero antes que eu abaixasse a cabeça e fechasse os olhos.

ㅡ O que está fazendo aqui?? Cadê ele?? ㅡ A porta foi aberta com certa agressividade. Abri os olhos e encarei a cama vazia. ㅡ Cadê o garoto?? ㅡ Olhei na direção da porta. Era um outro policial, um mais velho e muito nervoso.

ㅡ Eu não... ㅡ O tio de Tisha adentrou a sala e se espantou ao não ver Sucri sobre a cama. ㅡ Ele estava aqui, eu não sei o que aconteceu.

O homem começou a xingar e a dizer coisas que não prestei atenção. Eu permaneci imóvel em meu lugar até o momento em que me levantaram e me algemaram por motivos de ter ajudado Sucri a fugir. Tisha e Arizona pareceram confusas e desesperadas enquanto o policial me levava, já eu, parecia estar anestesiada. Tudo era um borrão a minha volta. Mas, o que importava, era que Sucri havia voltado para sua casa e agora não sofreria mais aqui.

•••
Continua...

Amor à primeira linha IIOnde histórias criam vida. Descubra agora