Heloísa não pensou que poderia se apaixonar novamente, embora ainda estivesse na dúvida se o que sentia no momento era, de fato, paixão. Era definitivamente algo novo e, embora gostasse da sensação, talvez fosse recente demais para tentar nomear com algum sentimento.
O convite para o primeiro jantar surgiu de maneira despretensiosa. Havia conhecido Caio quando ainda estava na Polícia Federal, mas ambos tinham o código de não namorarem parceiros de trabalho. Tudo mudou quando ela resolveu se especializar em crimes digitais e voltar para a Polícia Civil. O homem resolveu chamar a delegada para um jantar e, pela primeira vez em muito tempo, ela se sentiu empolgada com a ideia. Ela ainda sentia os impactos de Stênio na vida dela e, estava começando a se acostumar com a ideia de que provavelmente, este sentimento sempre a acompanharia.
Stênio era o amor que ela nasceu para sentir, mas que eles não conseguiam fazer acontecer.
Depois do recasamento e do nascimento do neto, ela achou que as coisas finalmente poderiam dar certo entre eles. Como estava dando desde que o advogado começou a pedir uma nova chance. Agora, mais maduros, ela tinha certeza de que poderiam fazer dar certo. Até tudo voltar a desabar.
Com o fechamento do caso do tráfico internacional de pessoas, a Doutora Delegada Heloísa Sampaio Alencar ganhou notoriedade e, por consequência, mais trabalho. Os horários cada vez mais malucos, somados a preocupação constante em como o neto estava sendo criado, tomavam todo o tempo da delegada. Quando ela decidiu se especializar numa nova área de atuação, foi a gota d'agua. Stênio a acusava de sempre priorizar o trabalho, ela o acusava de não a entender. Nesse jogo de acusações, o casamento foi, aos poucos, acabando. Até resolverem que, talvez, o divórcio, seria a melhor opção. Estavam separados fazia alguns meses, embora a papelada ainda estivesse correndo, faltava apenas a formalização.
Agora, deitada em sua cama, após alguns encontros finalmente bem-sucedidos com o policial, Helô fazia uma retrospectiva de sua vida. De fato, sempre havia sido focada no seu trabalho e ela não via isso como um problema. Ela tinha um sonho e sabia exatamente onde queria chegar. Sempre batalhou por isso e se orgulhava de cada coisa que havia conquistado. Mas quando refletia sobre sua vida amorosa, sabia que tinha deixado muitas oportunidades passarem. Descobrir que foi traída por Stênio, na época, havia destruído a delegada. Por muitos motivos.
O trabalho dela era desconfiar das pessoas, fazia isso como ninguém. Mas ela confiava puramente em Stênio, acreditava ter encontrado nele o grande amor da sua vida. A traição ter vindo de onde ela menos esperava, havia machucado mais do que o ato em si. A traição veio de um lugar onde ela se sentia segura, onde ela se sentia amada. Talvez fosse algo que ela nunca conseguiria de fato superar.
Depois disso, foram sucessivas tentativas malsucedidas de algo. A arma e o distintivo sempre afastavam os homens e era, muitas vezes, frustrante tentar embarcar em novos amores. Ela estava cansada demais para isso.
E não estava preparada para quando Stênio começou a tentar reconquistá-la. Ela tentou resistir, tentou manter distância, mas as constantes tentativas do advogado tornavam tudo isso muito difícil. Ela tentava dizer não, e sempre terminava em sim. Ela dizia para manter distância e eles acabavam no quarto. Era irritante saber que eles funcionavam tão bem juntos. Era irritante saber que Stênio conhecia o corpo dela como ninguém.
Era irritante a incapacidade de Heloísa Sampaio em deixar de amar Stênio Alencar.
Nesses mais de 30 anos que um estava na vida do outro, eles já haviam esgotado tentativas e chances. Era hora de seguir em frente. Caio era um bom homem, ela o conhecia. O admirava em seu trabalho e sabia que a admiração era mútua.