Helô estava exausta, em mais uma sexta feira saindo da delegacia ela se pegou negando outro convite de Yone para irem juntas ao bar. Ela não se sentia no clima para nada. Além da exaustão física, o pedófilo que seguia no anonimato estava tirando o sono da delegada. Tudo que ela precisava era um bom descanso e um bom vinho.
Pegando suas coisas, ela se encaminhou para fora da delegacia a passos lentos, deixando a exaustão tomar conta do corpo dela. Percebeu uma pessoa parada apoiada em seu carro e o seu coração acelerou com medo inicialmente, até ver de fato quem era.
Stenio olhava para ela, com o buquê de flores na mão, um sorriso largo no rosto. Mas o sorriso foi dando ar à um olhar preocupado enquanto ele observava o semblante da delegada.
Ela queria fingir que não o queria ali, mas isso era cada vez menos verdade. Ultimamente, tudo que ela queria era Stenio perto, ao redor dela, na órbita dela. Ela se aproximou dele em silêncio, chegando cada vez mais perto, ele estendeu o buquê para que ela o pegasse.
Helô olhou para o buquê e olhou para Stenio, fechando os olhos enquanto sorria para ele. Ignorando as flores, ela chegou ainda mais perto, enlaçando a cintura dele com as mãos, repousando a cabeça no pescoço do advogado enquanto o abraçava em silêncio.
Stenio demorou alguns segundos para entender o que estava acontecendo. Não esperava que ela fosse ficar irritada, já haviam passado dessa fase. Mas Helô não era do tipo que fazia demonstrações públicas de afeto. Ele colocou o buquê no capô do carro e a abraçou de volta, levando uma das mãos até o cabelo da delegada fazendo um leve carinho, depositando um beijo na cabeça dela.
Helô era forte, sabia disso. Mas era bom saber que não precisa ser forte sozinha o tempo todo. Aqui, nos braços de Stenio, o mundo parecia um lugar muito mais suportável. Os problemas pareciam menores, as coisas ganhavam perspectiva.
Era isso que importava. Eles importavam.
O advogado não teve coragem de quebrar o silêncio ou se mexer, ficou ali, esperando o tempo dela, esperando por Helô... como já era hábito.
Quando ela me mexeu e deixou um beijo no pescoço dele, respirando fundo, ele percebeu que ela estava pronta para ir.
- Vamos pra casa? – ele perguntou fazendo um leve carinho no rosto dela.
- Vamos – ela respondeu baixo, querendo negar quando ele estendeu a mão pedindo as chaves do carro – e o seu carro?
- Vim de uber pra gente ir embora com o seu – ela não pode deixar de sorrir. Ele realmente pensava em tudo. Ele entregou o buquê para ela e pegou as chaves das mãos da delegada.
Quando estavam a caminho de casa, Heloísa descansava a cabeça no vidro do carro, olhando a cidade de maneira distraída. Os bares cheios de pessoas, a vida acontecendo por todos os cantos. Provavelmente muitas estavam conhecendo o amor de suas vidas naquela noite, outras cometendo os maiores erros do mundo.
Ela olhou para Stenio ali, dirigindo o carro dela depois de tanto tempo, com o mesmo sentimento morando dentro dela há mais de 30 anos. Ela de fato não queria estar em bar algum, ela já havia conhecido o amor da vida dela e nesse momento, ela só queria estar com ele.
Foi apenas quando Stenio olhou para ela confuso que ela percebeu que o encarava. Ela esticou o braço apenas o suficiente para fazer um carinho no cabelo dele. Não questionou quando percebeu que o carro não ia em direção à sua casa.
Hoje, ela iria para onde ele quisesse.
Até mesmo para o cartório. Mas jamais falaria essas palavras para ele.