great war

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Helô estava exausta. Fisicamente, mentalmente, psicologicamente. Exausta de todas as formas possíveis. Queria ir para casa, precisava da sua cama mais do que nunca.

Saindo do hospital, ela tratou logo de fazer o que precisava ser feito: devolver o inquérito para o arquivo. Sem saber muito bem por que, sentiu vontade de chorar. Talvez fosse apenas seu corpo gritando por um descanso, ou o alívio de ter aquele documento no lugar depois de tanto tempo, ou....

Ela não queria pensar sobre a última e mais provável opção.

Chegando na portaria do seu prédio, numa noite carioca bastante agradável com resquícios do carnaval ainda pelo caminho, ela subiu até seu prédio mecanicamente. Abriu a porta e estava se encaminhando para o quarto quando percebeu uma sombra na sala, deitada sobre o sofá.

- Tá fazendo o que aqui? – Ela soava dura, mas não entregava mais nada além disso.

- Fiquei preocupado com você, Helô – ele se levantou do sofá, olhando para ela, mas teve medo de se aproximar – Creusa me falou da missão armada, eu nunca fico bem com você nelas, você sabe.

- Sei, sei bem – ela disse irônica.

- Não, não ironiza. Você sabe que minha preocupação é genuína – ele não aceitaria que ela duvidasse disso.

- Eu sei – disse ela triste, se sentando no sofá.

- A missão era onde? – perguntou ele como quem não quer nada.

- Tô achando que tua preocupação não é bem comigo e sim e com um pedaço de papel. – ela disse firme, olhando pra ele.

Agora ele conseguia ler o olhar dela.

Decepção.

Foi como levar uma facada no peito.

- Helô... - Stenio tentou falar, mas foi interrompido pela delegada. Helô falava com ele, mas olhando para o chão. Como se evitasse os olhos do homem ao seu lado.

- Yone levou um tiro, Stenio.­- Ela o notou abrindo a boca para falar e logo continuou – Ela tá bem, pegou no ombro. Mas ela levou um tiro.

- Aconteceu algo com você? – ele quis saber, genuinamente preocupado.

Ela finalmente o olhou nos olhos. Não duvidava do amor de Stenio por ela, não duvidava da preocupação. E essa era a parte mais difícil. Ela gostava até do que eles estavam construindo de novo. Estava sendo gostoso e fácil se deixar levar.

Mas sempre tinha o "porém". Sempre tinha o "mas". Sempre tinha algo.

Talvez a exaustão dela viesse daí. Eles algum dia viveriam a experiência de um amor calmo?

- Quando Yone, estava sangrando no chão, ela me mostrou que havia pegado algo e eu vi o que era...passou um filme na minha cabeça – ela mexia inquieta as próprias mãos. A voz embargada no choro que ela queria soltar, mas não se permitiria. Não na frente dele - Eu sabia que tinha essa possibilidade, sabia que era a mais provável de todas. Mas parte de mim torcia pra que não. Torcia pra que fosse sobre a bomba. – Ela levantou os olhos e Stenio pode ver eles marejados - Torcia pra que não fosse a prova viva, ali na minha mão, de que você realmente mentiu pra mim, na minha cara, durante todos esses meses.

Ele queria falar, pedir desculpas. Se explicar. Mas a voz não saia. Havia algo na expressão de Helô que o assustava. A maneira como ela havia começado a falar sobre tudo o pegou desprevenido.

Na frente de Yone ela conseguiu se segurar a ouvir a voz dele no telefone, conseguiu ser fria e fingir que nada havia acontecido. Mas aqui eram apenas os dois.

the wine chroniclesOnde histórias criam vida. Descubra agora