it was always you

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Ela não odiava aniversários. Mas gostava um pouco menos deles agora. Aos poucos, as celebrações que eram cheias de gente, com jantares ou festas, foram dando espaços as comemorações silenciosas e um pouco mais retraídas.

Muitas coisas haviam acontecido com Helô nos últimos anos, algumas ela ainda tentava organizar dentro de si. Sentia a bagunça, a confusão. Nos anos anteriores havia uma angústia que ela não conseguia entender de fato de onde vinha, uma inquietude que apesar da felicidade que ela acreditava sentir, se fazia presentes. Essa angústia hoje não morava dentro dela, como se ela já não tivesse muitos cacos para colar.

Era uma sensação estranha, mas ela não sabia de onde vinha.

Não tinha organizado nada para seu aniversário esse ano. Queria apenas a paz da própria companhia. Acordou cedo, colocou uma roupa leve e foi fazer aquilo que fazia todos os anos neste dia: caminhar pela praia.

Ela gostava de olhar o mar, sentir o pé na areia, sentir que todo o resto era pequeno perto daquela imensidão. Enquanto caminhava pela areia descalça, ela observava as pessoas correndo ou fazendo caminhada, algumas se aventurando já dentro do mar. Mas o silêncio ainda reinava por ali. Pegou uma água de coco e se sentou na areia. Pegou o celular na mão e viu as infinitas mensagens lhe desejando "feliz aniversário". Havia as pessoas mais recentes, como Yone, e até as mesmas antigas como Jô, Barros, Maitê...

Sentia falta deles todos os dias, mas era sempre bom relembrar que mesmo na ausência física, ainda restava o carinho destas pessoas. Era gostoso pensar que não importava o tempo, essas pessoas carregavam um pouco da Helô dentro delas, assim como ela carregava cada um deles dentro de si.

Drika e Pepeu lhe desejavam feliz aniversário em mais um vídeo cantando ao lado do neto. Eles haviam crescido e ela precisava admitir, Drika havia se tornado uma linda mãe. Como se a relação conturbada dela com Helô, tivesse levado à filha a fazer escolhas diferentes agora. Elas haviam se reaproximado, mas viviam melhor a distância.

Estava imersa em seus pensamentos quando sentiu alguém se aproximando dela. Fechou os olhos e sorriu de leve, não precisava olhar... sabia quem era. Ela sempre saberia quem era.

- Feliz aniversário, delegada ­– sussurrou Stenio próximo ao ouvido dela, se abaixando e abraçando a delegada pelo pescoço, beijando a cabeça dela.

Ela não respondeu imediatamente. Soltando as coisas que tinha na mão ali na areia, ela segurou o braço dele com as suas mãos, como havia feito à poucos dias atrás no apartamento do advogado. Se permitiu aproveitar o silêncio, sentindo o abraço dele. Era a primeira vez em três anos que ele a abraçava no aniversário dela.

Ela havia sentido saudade.

- Obrigada – disse ela por fim, puxando a mão dele para si e depositando um beijo dela.

Ele se afastou, se sentando ao seu lado na areia, perto o suficiente para que ela pudesse encostar a cabeça no ombro dele.

- Como me achou aqui? ­ - perguntou ela, olhando para frente, acompanhando o movimento das ondas.

- Você é uma criatura de hábitos, Helô...faz isso todo ano – ele ficou em silêncio por um tempo – não sabia se algo havia mudado nos últimos três anos, mas esperava que não.

Ela conseguiu sentir o peso das palavras dele, em como ele havia sentido falta desses momentos tanto quanto ela. De estar junto, comemorar as datas festivas, passear no parque ou na praia quando desse vontade. De estarem na presença um do outro.

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