Olhando para a foto de Helô, e percebendo o quão absurdamente bonita ela estava, Stenio não pode deixar de sentir saudade do passado. Aliás, ultimamente, entre um copo de whisky e outro, entre uma taça de vinho (nunca o favorito dela) e outra, ele se pegava pensando no passado cada vez mais.
Ele sentia orgulho vendo a mulher e profissional que ela havia se tornado ao longo dos anos. Ele gostava no desafio de soltar os presos dela, gostava da ideia de, ainda que torta, existisse essa conexão entre eles.
Ele gostava, cada dia mais, de Helô.
Não era novidade ou segredo. Não havia tentativa de camuflagem de um sentimento que absolutamente todos sabiam que existia. Com Laís apoiada em sua mesa, mostrando mais um feito da delegada, ele não se preocupou em esconder a cara de bobo apaixonado. Laís sabia, talvez mais de perto que qualquer outra pessoa, que Stenio ainda amava Heloísa, talvez até mais do que ele deixava transparecer. E ela tinha certeza de que a delegada também o amava, mas ela conseguia velar melhor os sentimentos que nutria.
Desde aquela ligação de Helô no meio da noite, Stenio não sabia muito bem o que pensar. Ainda se lembrava do coração batendo acelerado com a notificação da delegada clareando a tela do celular. Sabia no fundo que a ligação em nada a tinha a ver com os presos dela. Essa era a dinâmica deles e um conhecia o outro bem demais para ele comprar essa história. Quando ela mencionou Leonor, as coisas fizeram um pouco mais de sentido.
Ele ainda não sabia dizer se era uma preocupação genuína com a prima e o histórico do advogado, ou se havia um tom de ciúmes sobre os dois envolvido na equação. Ele imagina que fosse o primeiro cenário, torcendo para que fosse o segundo.
Ciúmes ainda significaria que ela se importava com ele, da mesma maneira que ele se importava com ela.
Agora, ter a grata (e mais do que inesperada) surpresa da volta de Creusa, deixou o advogado emocionado. Creusa era uma parte fundamental da vida deles, era madrinha muito mais do que apenas no papel. Sem Creusa, ele tinha certeza de que a história dele e da morena teria sido muito mais curta. Olhando para trás, Creusa era parte fundamental de tudo isso. A vida sem Creusa e sem Helô não era a mesma coisa.
Ele sabia, também, que ir até a casa dela assim, sem avisar, era uma jogada de risco. Mas enquanto formava mais um complô com Creusita, ele não pode deixar se sentir uma ponta de esperança e nostalgia invadindo sua mente.
Não ter sido expulso pela delegada assim que ela chegou já tinha sido considerada uma vitória. Mas ao vê-la aceitando as orquídeas, se sentando no sofá aceitando a taça de vinho que vinha acompanhada da proximidade e de velhas histórias, ele achava que essa noite tinha tudo para ser uma noite memorável.
A noite onde, mais uma vez, ele estava determinado a reconquistar Heloisa Sampaio.
E, de qualquer forma, não era isso que ele tinha feito ao longo de toda uma vida? Amado, perdido, lutado e reconquistado Heloísa? Ele faria isso mil vezes se necessário fosse. Ele sabia, mais do que ninguém, que valia a pena.
Ela valia a pena.
Enquanto ele cortava uma fatia de pudim de tapioca e tentava convencer Helô que ela estava ótima e podia sim aceitar um pedaço, estranhou o silêncio de Creusa que arrumava as coisas na sala. Olhou em direção ao cômodo e viu a luz do seu celular acesa.
- Meu celular tá apitando aí, Creusa? – perguntou o advogado, logo voltando sua atenção para Helô, observando ela finalmente provar o pudim.
- Tem nada não, Dotô Stenio, eu que apertei aqui sem querer arrumando o sofá. Mas tem nada não, pode continuar ai vocês dois conversando – Creusa não podia acreditar que eles estavam separados de novo. Era absurdo para ela que duas pessoas que nasceram para ficar juntas, teimassem em não ficar. Assim que soube do divórcio e viu as flores de Stenio na mesa, ela soube que tentaria juntar os dois novamente.