- Os outros que você tá falando por acaso são minha equipe? Você acha que quando o comandante recua a tropa segue a diante? – Helô dizia andando apressada pelos corredores da casa, seguida por Creusa e Stenio em seu encalço.
- Helô... – Stenio tentou dizer calmo, tentando fazer a delegada entender, mas desde que descobriu sobre as escutas, ela havia ligado o modo automático. Ela estava com raiva depois de ter sua vida e sua casa invadidas dessa maneira.
Ele parou de andar por um momento, sem prestar atenção no que a delegada dizia enquanto ela seguia enumerando os motivos pelos quais deveria estar na operação.
- Helô – disse ele soando firme, obrigando-a a parar e olhar pra ele – você não entende, não é? Nunca entendeu.
Ela ficou em silêncio olhando para ele, a expressão de medo dominando o rosto do amado.
- Eu não tô falando com a Helô delegada, eu tô falando com a Helô que eu fui casado, eu tô falando da Helô que eu... – ele fez uma pausa, não sabia se ela estava pronta para ouvir, mas pela expressão da delegada, a resposta era não – me preocupo.
Ela suavizou a expressão, indo até ele, acariciando seu rosto enquanto o olhava, como se estivesse tentando gravar cada detalhe em sua mente.
- Eu preciso ir, Stenio. Ficou pessoal demais, arriscado demais. Eles invadiram minha casa, invadiram minha vida – ela dizia suave, a mão ainda no rosto dele, imóvel – não é atrás de mim que eles estão? Então sou EU que preciso pôr um fim nisso.
Ela se aproximou dele, depositando um beijo demorado em sua bochecha. O advogado fechou os olhos sentindo o carinho dela, implorando para que ela mudasse de ideia, para que ela ficasse ali, com ele. Segura, ao alcance das mãos. Ela caminhava em direção a porta, quando sentiu o braço sendo segurado. Virou para ele e viu a expressão triste no rosto do amado.
- Eu não quero te perder... Eu não... – ele fez uma pausa, como se tivesse imaginado um cenário na mente e ele fosse absolutamente insuportável – eu não suportaria te perder.
A verdade era que Stenio verbalizava os mesmos sentimentos da delegada. E ela apenas estava indo e se arriscando dessa forma para garantir que ela não o perdesse também. Porque ela também havia imaginado a vida sem ele durante o sequestro e havia sido insuportável. Ela se colocaria na linha de tiro mil vezes se isso significasse que ele estaria bem.
Ela voltou até ele, o abraçando forte, como haviam feito tantas outras vezes naquela mesma sala. O tom de reencontro dos abraços anteriores, substituído pelo sentimento de despedida deste.
- Você não vai me perder. Eu vou voltar – ela murmurou contra o ouvido dele, ainda mexendo nos cabelos do advogado.
- Não vai, Helô. Eu tô te pedindo, por favor, não vai – ele disse em desespero, apertando a cintura dela, aproximando os dois corpos.
- Não me pede isso. Eu preciso ir. Olha pra mim...- ela afastou o rosto do dele, fazendo-o olhar nos olhos dela – eu vou voltar. Vai ficar tudo bem.
Ela não soava tão convicta quando gostaria, mas era o que poderia oferecer no momento, A esperança e a vontade de voltar, mas a próxima frase ela disse com toda a certeza que trazia dentro de si.
- Eu sempre... SEMPRE... vou voltar pra você.
Ela o puxou para um beijo lento, calmo, amoroso. Um beijo com pedidos impossível e promessas sem garantia. Se beijavam com tudo que tinham e com tudo que sonhavam em, ainda, ter.