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Eu nunca imaginei que um dia eu estaria sentada a ponto de conhecer pessoas novas que se dizem meus verdadeiros pais.

Isso é tão diferente.

As pessoas não gostam de sair da sua zona de conforto e quando em apenas um dia você descobre que as pessoas que te criaram não têm nada haver com você isso é o cumulo.

Ontem a Helena me levou para dormir em um hotel no qual o quarto dela era em frente ao meu. Minha casa estava sendo revistada por policiais e eu pedi (não tão) gentilmente para eles não bagunçarem nem destruírem.

À noite não consegui dormi, minha mente estava rodeada de perguntas e suposições.

Como é possível eu nunca ter suspeitado que eu não fizesse parte da família Kafil? Talvez porque eu os ame tanto que nunca liguei para isso, minha vida estava sempre boa.

Porque meu pai queria tanto uma filha? Eu nunca os questionei por irmãos. A única coisa que não entendia era se "meus pais" se amavam tanto porque "minha mãe" foi morar com os Incas.

Quando me levantei pela manhã fiquei me olhando no espelho para ver as minhas diferenças da família Kafil, mas depois meus pensamentos voaram para como deviam ser meus pais de sangue.

- Podemos conversar? –Helena perguntou sorrindo para mim.

- Claro.

Ela se sentou ao meu lado no sofá.

- Eles já estão aqui.

- Vão entrar agora?

- Eu queria falar com você antes. Estava conversando com eles e disseram que estão dispostos a te registrar com o sobrenome deles e te dar tudo.

- Como assim tudo?

- Casa, amor, dinheiro, carinho. Essas coisas.

- A única coisa que eu quero deles é que me deixem em paz. –Suspirei.

- Eu acho meio difícil afinal foram muitos anos longe de você. A saudade deve ser muita. –Fiquei calada mexendo nos meus dedos. –Rock, por favor, imagina o quanto eles sofreram sentindo sua falta.

- Porque eu? –Helena franziu o cenho não entendendo a pergunta. –Porque eu fui à sequestrada? E minhas irmãs? Talvez eles nem gostassem de mim.

- Isso é uma coisa que você tem que ouvir deles.

- Ok chega. Acaba logo com isso, deixa eles me verem.

Helena sorriu e se levantou saindo da sala logo depois.

Minhas mãos começaram a soar. Eu não queria ficar nervosa, mas não dá para segurar.

Eu não quero uma família nova.

Fechei os olhos com força quando ouvi a porta ser aberta.

Um casal entrou na sala, eles eram um pouco velhos. E não tinham nada haver comigo.

A senhora arregalou os olhos e colocou a mão na boca, ela tinha pele branca, cabelos loiros um pouco castanho na raiz. O senhor tinha cabelos castanhos escuro com uns fios brancos, olhos castanhos, pele branca e era um pouco gordo.

- Oh Deus. –A loira correu até mim e me puxou para um abraço no qual eu dificilmente correspondi. Foi como "vou colocar meus braços aqui por obrigação".

Ela está aí com a filha perdida e eu posso ser essa filha, mas não quero dar falsas esperanças para ninguém.

Logo senti que o senhor nos abraçava e depois de uns minutos com eles me sufocando me largaram olhando para o meu rosto.

Lágrimas gordas molhavam o rosto da senhora, uma até acabou caindo no meu all star sujo.

- Tem certeza que é ela? –Uma voz grossa soou pela sala.

- Claro que sim. É ela!

- Está tão diferente

- Sim, mas continua sendo a nossa pequena. –Levantei minha cabeça e me assustei com eles tão perto me analisando.

- Vocês se importam. –Pigarreei me afastando.

- Desculpa.

- Vou deixa-los a sós. –Helena avisou antes de fechar a porta.

O casal ficou me encarando sem falar nada e eu revirei os olhos.

- Não sou o que vocês esperavam não é? Dá para ver que não sai da sua barriga, senhora.

- Não! Você é minha filha, eu sinto isso. –Ela sorriu.

- Eu não quero te dar falsas esperanças. Pelo visto já sofreram tanto.

- Passamos anos imaginando como você estaria já chegamos até a achar que você estava morta, mas você está aqui!

- E queremos fazer o teste de DNA. –O senhor falou.

- Por mim tudo bem.

Isso com certeza vai resolver tudo.

- Vou falar com a senhorita Loto. –O suposto meu pai saiu da sala me deixando sozinha com a mulher.

- Não preciso de exame de DNA para saber que você é minha. –Ela resmungou.

- Qual o seu nome? –Perguntei.

- Karen. Aquele é o meu marido Geoff e você é a Veronica.

- Não. Eu sou Rockli Kafil.

Ela me olhou por um tempo e assentiu. Logo a Helena entrou na sala dizendo para a seguirmos que ela ia nos levar para o hospital e finalmente nós saberíamos se sou filha deles ou não.

°°°°

- O resultado sairá daqui a 24horas. –A médica nos avisou.

- Quer tomar um café conosco Rockli? –Karen perguntou.

- Isso já está indo muito longe. –Resmunguei.

- Por favor, queremos te conhecer melhor. Mesmo que não seja nossa filha parece ser uma boa menina. –Ela disse.

Olha nos seus olhos foi uma armadilha, eles imploravam.

- Acho que não será um problema. –O casal sorriu para mim. –Helena eu posso voltar para minha casa depois?

- Pode sim.

- Okay.

- Amanhã depois da escola eu vou te pegar para irmos ao médico ver o resultado do exame. –Assenti. –Boa saída.

- Tchau.

°°°°

- O que houve com seu cabelo? –Geoff perguntou.

Eu assoprei meu chá antes de falar.

- Alguma coisa errada com meu cabelo?

- Ele é colorido.

- E daí?

- Isso é coisa de adolescente Geoff. Quantos anos você tem mesmo, doce? –Karen disse.

- Dezesseis.

- Viu, é uma mocinha.

Revirei os olhos mentalmente rindo.

- Você mora muito longe daqui? –Ela perguntou.

- Não muito. É só pegar um ônibus.

- Podemos te levar para lá. Aliás, porque você não dorme na nossa casa? Nós nos mudamos e tem o quarto de hospedes... –Karen começou a tagarelar.

- Não! –A interrompi. –Eu vou para a minha casa. Não aconselho vocês a pensarem muito nisso eu tenho quase certeza que não sou filha de vocês.

Alone TogetherOnde histórias criam vida. Descubra agora