LIII. Long way

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A confusão na mente de Sirius já havia começado muito antes de ter as garras de uma lobisomem em seu pescoço e a ex pretendente a noiva de seu irmão aparecer.

Começou no momento que despachou as corujas de volta com as cartas para os filhos e o afilhado. Ele ficou longos minutos encarando a janela mesmo após as aves sumirem no horizonte, paralisado, pensando em tudo e nada ao mesmo tempo.

Nem mesmo trocou de roupa para tirar o pijama de seu corpo. Voltou diretamente para a cama e deitou-se abraçado a um travesseiro, os olhos desfocados na direção da mesa de cabeceira. Pensou nas cartas, em Karina, no diário. Também não pensou em absolutamente nada. Estava completamente desconexo da realidade.

Uma hora se passou.

Duas horas.

Três horas.

Sirius não se moveu. Continuou abraçado ao travesseiro da mesma forma.

Na quarta hora, a primeira lágrima veio, silenciosa e dolorida.

Ele não almoçou.

Quando a ficha caiu outra vez, mais lágrimas vieram. A ideia de que Karina realmente não esperava voltar viva e por isso deixou memórias literais era dolorosa. Muito dolorosa.

Sirius sempre dizia que não deixaria algo acontecer com ela, mas ele não cumpriu isso. Ela sabia que ele não conseguiria, não é?

Ele não conseguiria salvá-la. Ele não conseguiu.

Como não salvou Regulus. Como não salvou James e Lily.

Foi quando o primeiro grito de dor veio junto a um Sirius transtornado.

A dor extravasou por cada um de seus poros, cada fio de voz que saiu de sua boca.

Ele desmoronou completamente, como as ruínas que ele estava desde que perdeu tudo, desde que foi preso. Não estava pensando, seu corpo não respondia mais aos seus comandos.

Ele jogou o travesseiro para o outro lado do quarto. Suas mãos puxaram os próprios cabelos enquanto chorava. As luzes já apagadas piscaram. Objetos voaram das cômodas.

A magia tão instável quanto suas emoções.

Sirius saiu do quarto e rumou para o escritório. Lá, ele ficou parado, apenas encarando o local e lembrando-se de todo o tempo que Karina passou ali.

Ele conseguia vê-la trabalhar naquela mesa rodeada de livros. E então essa imagem era substituída pela visão de seu corpo caído. Via ela sorrir quando levava algo para que comesse enquanto trabalhava. E então via o rosto desacordado e sem vida em seus braços.

Não saberia dizer exatamente o que fez. Sua mente não estava trabalhando direito. Não sabia o que procurava quando abriu as gavetas, ou quantos livros caíram quando ele desabou contra uma estante e foi ao chão.

E então, mais uma vez seu corpo agiu por conta própria. Ele voltou para o quarto e revirou gavetas e o guarda-roupa, ainda tão instável que quebrou uma das portas. Vestiu roupas de Remus largas demais para seu corpo atual.

Ele pegou o restante de poção polissuco e bebeu um gole. Pegou o dinheiro trouxa que Remus guardava e guardou no bolso.

Quando percebeu, já estava parado em frente a uma floricultura. Comprou um grande buquê de violetas e seguiu para o cemitério.

E então, ali estava, mais uma vez em frente ao túmulo dela.

Deixou as flores e sentou-se no chão, as lágrimas caindo sem cessar. A lembrança do velório o invadiu no mesmo instante, o momento que deixou flores sobre o caixão que fora enterrado.

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