RUSSO
seja sábio, já dizia aqueles que já não estão mais aqui comigo. Ao contrário de muitos eu não tenho uma história triste pra contar e justificar pra te entrado nessa vida do crime, mas a minha família tem um legado, todo filho homem tem que manter o morro de pé.
Meu primo, Matador como é conhecido, tomou o lugar do pai e ficou de frente do complexo. Meu pai e o pai dele eram irmãos pra caralho, então matador me considera um também e me colocou responsável pela boca principal. Me fazendo seguir o legado das famílias.
Bolei meu beck enquanto observava o movimento do morro pela laje, estava tudo calmo, calmo até demais, faziam semanas desde a última invasão dos canas e a atenção tinha que ser redobrada, não iríamos dar brecha. Vi a loirona do pagode descendo, toda apressada com o uniforme do colégio da favela, ja vi que fui me meter com mucilon de novo.
— Gostosinha. — Lobo falou do meu lado enquanto encarava a garota descer. Não falei nada, fiquei calado na minha, afinal quem come calado sempre tem.
Desci da laje e resolvi rondar pela favela de moto, morador de um lado pro outro indo pro seu ganha pão, crianças indo pra escola, era assim que eu gostava de ver a favela, em paz. Parei a moto em frente a escola da garota e fiquei esperando ela sair, enquanto f1 pra aliviar a mente. Tinha mandando mensagem pelo twitter e a fdp negando mo voz, ela acha que eu não tô ligado na dela.
Acabou que convenci ela a descer pra pistar, eu gostava de olhar o movimento por fora e mantia minha ficha limpa pra facilitar meu livre acesso. A novinha tava na minha mira, era dentro fácil. Já tava palmeando ela a um tempao, mas só de longe, no dia do pagofunk ela tava soltinha e cheia de má intenção, to ligado na dela.
— Coe, ta viajando ai. — Matador tirou minha atenção entrando na boca. — Pensando na loirona?
— Que mané loirona. — Coloquei os braços atrás da cabeça e me encostei na cadeira.
— Fica esperto em, mulher vale nada não, fica ai dando corda que ela vai te enfocar no final.
— Ta falando isso por que a Andressa te deu um pé na bunda? — Ri e ele mandou dedo do meio.
— Aquela filha da puta foi corajosa, é bom ela estar bem longe porque o dia que eu pegar aquela rata ela tá fudida na minha mão. — Fechou o punho. — Vai ser só na cara da filha da puta.
— Tua acha que ela tem coragem de voltar?
— É bom ela não tentar, fui o Rafael bonzinho com ela por muito tempo, mas se ela voltar, ela vai saber o motivo da minha fama de matador.
Depois de conferir um novo carregamento que tinha chegado, Matador saiu. Mais tarde sai da boca deixando no controle do 2G, quando eu não tava presente era ele que tomava conta das coisas.
Peguei minha moto e sai em direção a casa da minha mãe, que ficava no pico da favela, sempre tinha um vigia por perto, segurança da minha coroa era sempre uma prioridade. Entrei sem bater, deixei meu fuzil perto da porta e senti o cheiro de comida vindo da cozinha.
— Cheguei na hora certa. — Esfreguei as mãos. — Bênção mãe.
— Que susto garoto, só aparece assim né. — Beijei a cabeça de Dona Fabiana. — Deus te abençoe meu filho! a bibi estava perguntando de você.
— Sei que fiquei ausente esses dias, mas tava cheio de pica pra resolver. — Cocei a nuca tirando o boné.
— PAPAI. — Beatriz apareceu na cozinha, com o cabelo com trancinha e vestido de princesa. — Que saudade papai!
— Oi minha princesa, pai também tava cheio de saudade. — Peguei ela no colo beijando sua bochecha.
— Ta me apertando papai. — Ela ri se soltando. — Olha papai, minha vovó pintou minha unha.
Mostrou as unhas pintadas de rosa, Beatriz era toda vaidosa, me lembrava pra caralho a mãe dela. Me envolvi com a mãe da beatriz ela era novinha, mas era mina responsa. Nunca tivemos nada sério, mas quando ela descobriu a gravidez eu não corri, assumi e cumpri meu papel de pai.
Quando a Gabriela morreu no parto da Beatriz, ficou tudo mais difícil, eu sem jeito nenhum cuidando de um bebê recém nascido, por sorte tinha minha coroa pra me ajudar e hoje ela cria a Beatriz, e eu ajudo dando toda assistência pras duas, são os amores da minha vida e eu faço de tudo pra manter as duas fora de perigo.
Poucas pessoas do morro, quase ninguém pra falar a verdade, sabe que eu tenho uma filha e eu prezo por isso, mataria qualquer um que tentasse chegar até ela pra me atingir, seja quem for, eu passo por cima. Minha filha é intocável.
Almocei com as duas, e Beatriz falava a todo momento, e eu ficava igual um bobão prestando atenção em tudo que ela falava. Minha filha é toda inteligente, só tem 5 anos e fala igual gente grande, só orgulho da minha princesa.
— Papai tem que ir agora, mas amanhã eu volto pra passar o dia com você. — Beatriz abaixou a cabeça.
— Bibi, vovó vai fazer bolo de chocolate pra você, que tal em? — Minha filha sorriu e isso me alíviou. — Vai lá escovar os dentes.— Beatriz saiu pro banheiro.
— Que foi, ta me olhando ai. — Falei pra minha mãe enquanto colocava o boné.
— Tua filha sente tua falta, tu ficou 3 dias sem vir aqui, Leandro! A bibi ta crescendo, e apesar de eu estar sempre com ela, ela sente falta da mãe, sente sua falta. Sei que você faz o melhor que pode por ela, pela gente, e você sabe o quanto eu odeio essa vida que você leva, sabendo os únicos caminhos que isso pode te levar...
— Mãe, não começa. — Cortei. — Não se mete nisso, a senhora sabe o motivo que me levou a isso e sobre a Beatriz, eu vou me fazer mais presente. Tenho que ir agora, te amo e se cuida! Se precisar me manda mensagem e os vigias estão ai fora, qualquer coisa eles estão ai.
Beijei a testa dela, peguei meu fuzil e sai da casa da minha mãe. Fiz um toque com os caras que ficam de vigia, peguei meu cordão de crucifixo, que fica por baixo da blusa e beijei ele. Pedindo proteção a mim e aos meus, sempre.
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