TATIANA
— Dá um tempo pra ela tati, nenhuma mãe gosta de saber que a filha ta se envolvendo com bandido, minha mãe mesmo enche o meu saco todo dia. — Karen me entregou o copo de água.
— Ela deve ta morrendo de vergonha por culpa minha, o pior foi ter sido expulsa dessa forma, ela não quer me ver e nem me ouvir mais. Eu amo a minha mãe Karen, ela é tudo que eu tenho e agora parece que eu perdi ela pelas minhas próprias atitudes.
— Sei que deve estar a maior barra, mas como eu disse, dá um tempo pra ela pensar, mãe é mãe, tia rute te ama pra caralho Tatiana, todo mundo sabe, ela pode estar magoada e com raiva agora, mas deixa a poeira baixar pra vocês resolverem as coisas. O que pensa em fazer agora?
— Sinceramente? eu não sei, preciso achar um jeito de me manter pelo menos, já que eu não tenho nada além de um dinheiro que ta na minha conta, mas que é muito pouco.
— Sabe que pode contar comigo né? pode ficar aqui em casa o tempo que tu quiser.
— Obrigada! mas eu prometo que é só essa noite, e amanhã eu vou dar um jeito. Começando por arrumar um trabalho aqui pelo morro, a questão é achar alguém que queira me dar um emprego, eu ainda nem terminei o ensino médio.
— Amanhã eu saio contigo pra resolver isso. Você já falou com o Russo?
— Não, ele me mandou mensagem e me ligou, mas eu não estava com cabeça pra falar com ele. Sabe qual é o meu maior medo? eu ter feito a escolha errada e minha mãe no final estar certa sobre tudo que ela me falou.
— Tati, sempre dizem que aviso de mãe é aviso divino, mas você tem que aprender a lidar com as próprias decisões, as vezes precisamos arriscar pra saber. Não fica se culpando e nem se lamentando, agora já foi, não dá pra mudar o passado.
— Parece até que eu cometi o maior crime, caralho. Tô tão cansada, e o pior é que em Arraial estava tudo tão bem. Só uma coisa que me tirou totalmente do sério, ou melhor, alguém.
— Tá falando do que?
— Lembra do Jn? do do baile que você viu me olhando? — Ela concordou. — Ele andou me cercando esses dias no morro e em Arraial também. Não sabe a vontade que eu tive de tacar a minha mão na cara dele, ele é um escroto, ranço daquele homem.
— Que loucura, tem homem que é baixo né. Mas agora tenta esquecer um pouco Russo, Jn, tia rute, tenta esquecer e descansar um pouco, to vendo tua cara de cansada.
— E eu to mesmo, toda essa situação me cansou. Obrigada pela ajuda Karen!
— Ta agradecendo por que? acha que eu te deixaria na rua da amargura? nunca, a coisa que eu mais prezo é pela nossa lealdade.
Depois que a Karen saiu do quarto, eu rolei pra cá, rolei pra lá e passei a noite em claro encarando a parede do quarto, quando dei por mim o dia já estava clareando. Despertei dos meus pensamentos com batidas na porta.
— Pela tua cara nem dormiu né? — Neguei quando Karen entrou no quarto.
— Não consegui, mas eu tô bem. Preciso reagir, chorar e me culpar não vai mudar nada na minha vida.
— Uhrum, muito bem. Agora levanta a bunda dessa cama, toma um banho, melhora essa cara, e vamos tomar café na padaria.
(•••)
O sol estava dando moca na nossa cabeça em plena 9:00 da manhã, descemos até a padaria e pedimos pão na chapa com queijo e guaravita, odiava tomar café. Resolvi comprar um milho de pipoca já que Karen queria inventar sessão cinema de tarde.
Estávamos sentadas na banqueta quando duas garotas entraram na padaria, as mesmas que a dias atrás estavam nos encarando na pracinha.
— Ta sabendo Luana que agora o russo tá com marmitinha nova? Parece que a Lachele foi de ralo dessa vez, ta até levando a outra pra viajar já. — A morena fez questão de falar alto pra loira que estava do seu lado.
— Deixa ela achar que ta com alguma moralzinha, aquele ali não é homem de uma só, ele é de todas e todo mundo sabe.
Respirei fundo e revirei os olhos, não gostava de dar palco pra ninguém desse morro até por saber as regras e amar muito o meu cabelo pra ficar sem, mas também não tenho sangue de barata.
— Algum problema? não querem falar diretamente pra mim? Indiretinha é coisa de garotinha frustrada, por que não fala na minha cara?
— Como é? tá falando com a gente? — A loira perguntou.
— Ue só tô vendo duas galinhas cacarejando na minha frente, quer milho quer galinha? — Abri o pacote de milho de pipoca e joguei em cima das duas que colocaram a mão pra tentar se defender.
Karen segurou minha mão me impedindo de continuar jogando e me tirou da padaria já que todo mundo estava olhando aquela cena. Nos afastamos do lugar ouvindo as duas me xingarem.
— Não aguento com você cara. — Karen riu da situação. — Aí, agora ficamos sem pipoca.
— Compro ali na barraquinha depois, não me aguentei Karen, não tenho sangue de barata.
— Sei que o sangue sobe a cabeça, mas esquece elas, você sabe como é os fofoqueiros da favela, não podem ver uma oportunidade de soltar o veneno.
Ouvi o ronco de uma moto, que segundos depois parou do nosso lado na calçada. Karen me cutucou com o ombro e eu levantei o olhar, encarando Russo na minha frente.
— Sobe. — Falou sério sem me olhar.
— Eu tô ocupada agora, Russo.
— Tatiana, sobe. — Agora mirou seu olhar na minha direção, me fazendo revirar os olhos.
— Depois te mando mensagem Karen.
Subi na moto de Leandro enquanto algumas pessoas olhavam e cochichavam. Ele saiu voado com a moto, mais um pouco eu saiaria voando. Pelo trajeto que ele estava fazendo eu já imaginava que estávamos indo pra sua casa.