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Depois de ter chorado praticamente o domingo inteiro, cá estou eu na segunda-feira de manhã com os olhos inchados e toda bagunçada. Leonardo me ligou e procurou várias vezes, mesmo eu dizendo pra ele não fazer isso. Mas o que eu podia esperar de alguém como ele?

Contei tudo pra Melanie, ela ficou preocupadíssima.

— Você precisa ir, Shelby. — minha amiga me aconselha ao telefone.

— Eu sei, mas eu quero mudar de emprego, agora. Que merda! — mastigo o baguete que achei guardado no meu armário da cozinha, enquanto choramingo mais um pouco.

— Mas não dá, você sabe. Sabe mais disso do que eu. Como vai pagar sua faculdade? E as contas? E as trufas com recheio de morango? E as roupas da Shein? — Mel pergunta do mesmo jeito que eu fiz com ela em uma situação antiga parecida.

— Você tá certa. — levanto do sofá decidida, ou quase. — Te amo, Mel.

— Também. Agora vai trabalhar! — ela grita e eu desligo.

Me arrumo de forma desleixada, não tirando a decepção da mente nem por um segundo. Depois que escovo os dentes, coloco uma bala de cereja na boca e saio de casa com minha bolsa no ombro.

Paro meu carro no estacionamento do restaurante já me sentindo péssima de antecedência — não acredito que minhas playlists não funcionaram, esse é definitivamente um dos dias mais merdas da minha vida.

— Shelby! — Leonardo exclama meu nome quando nota minha presença.

— Ah, não. — termino de arrumar meu rabo de cavalo e sigo andando, tentando ignorar o loiro.

— Tem como a gente fal-

— Não fui clara quando disse que não quero olhar na sua cara, Leonardo?!

— Precisamos conversar, não dá pra resolver tudo com uma mensagem de texto, garota! — ele me segue, eu nem sei onde estou indo, só quero fugir.

— Dá sim. Eu decidi que se for pra falar disso cara a cara com você, eu prefiro morrer. Agora dá licença! — fico de frente pra ele.

— Não... — Leonardo estava prestes à falar, mas desiste dando um suspiro quando eu passo por ele esbarrando em seu ombro.

— O que tá acontecendo com vocês? Deu pra ouvir tudo. — Yolanda pergunta quando eu chego na cozinha, o pessoal me olha junto com ela, esperando uma explicação.

— Nada.

— Oi, gente. — na mesma hora, Rebecca chega. Eu desvio o olhar. — Tudo bem por aqui?

— Sei lá, a Shelby e o Leonardo estavam... — alguém diz mas eu saio da cozinha antes que termine.

O tempo passa e eu faço de tudo pra ficar ocupada à cada minuto que passo aqui. Estou quase fazendo o trabalho dos meus colegas.

— E um suco de maracujá sem gelo. — o cliente acaba de fazer seu pedido, eu anoto. — Espera, pode descartar esse. Quero um de goiaba sem gelo.

— Certeza? — pergunto seriamente.

— Sim.

— Ok. Só isso? — olho o pedido inteiro anotado no papel.

— Sim.

— Em alguns minutos eu trago. — saio e antes que consiga andar dois metros sequer, Leonardo se aproxima.

— Dá pra parar de me ignorar? — ele insiste.

— Me deixa trabalhar, Leonardo. Você já disse que fez o que fez. Então pronto, tá resolvido! — resmungo antes de me afastar dele.

Depois de pegar mais pedidos e servir aquele cliente, vou até o banheiro e encontro Rebecca. Felizmente ela não fala comigo, apenas retoca seu batom no espelho e sai naturalmente. Eu sento no vaso sanitário e uma angústia invade meu interior.

𝐖𝐇𝐘 𝐖𝐎𝐔𝐋𝐃 𝐈 𝐃𝐀𝐓𝐄 𝐘𝐎𝐔? [leonardo dicaprio]Onde histórias criam vida. Descubra agora