CAPÍTULO 1 - O ASSASSINATO

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"O amor é um estado de psicose temporária." (Sigmund Freud)

No trigésimo de dezembro, um grito rasgou a quietude da noite, congelando-me no lugar em que estava. Os gemidos agudos vindos da casa ao lado aparentemente despertaram o sono e a curiosidade de todo o bairro, me causando arrepios. Saí da cama com os olhos arregalados fixos na janela.

Lá fora, o bairro se reuniu em uma comoção alarmante, com várias pessoas saindo de suas casas, ainda de pijama, e se aproximando da casa. Finalmente, após vários chamados, a polícia chegou e um silêncio caiu no ar.

No entanto, minha mãe interrompeu minha curiosidade ao abrir a porta:

— Amy, saia da janela agora! — A voz firme de minha mãe interrompeu meus pensamentos, puxando a cortina para fechá-la. — Não é da nossa conta.

— Mas e se for algo sério? — Argumentei, com certa preocupação misturada à curiosidade.

— Não interfira, Amy. Já temos problemas suficientes. — A expressão tensa dela deixou claro que não havia espaço para discussão. — Vá dormir.

Revirei os olhos, mas obedeci, voltando para a cama. Enquanto ela voltava para o quarto dela. Deitei-me no meu edredom e olhei para o relógio na mesa de cabeceira, os ponteiros marcavam exatamente dez horas e vinte e cinco segundos. As luzes da viatura policial brilhavam como nunca nas cores azul e vermelho, no vidro embaçado de frio da minha janela.

Uma curiosidade martelava incansavelmente dentro de mim, para saber o que estava acontecendo na casa ao lado, e por que aqueles gritos surgiam tarde da noite, e principalmente na casa do Dr. Simon, meu médico. Mesmo não querendo desobedecer às ordens de minha mãe, era impossível ignorar a vontade de descobrir, como outras pessoas, se esse caso era apenas uma briga de casal, entre o Sr. e a Sr.ᵃ Hart, ou se os filhos deles estavam envolvidos.

Com uma necessidade quase urgente de respostas, levantei-me da cama, peguei meu casaco vermelho do armário e vesti sobre o pijama rosa bebê, fui até o canto do meu quarto e peguei minha bolsa de oxigênio, conectando os pequenos tubos de ar no meu nariz, e naquele momento, aquele oxigênio puro parecia uma droga que meu corpo ansiava. E sem pensar duas vezes abri a porta do meu quarto.

Saí para o corredor com passos leves e enfrentei com medo a porta do quarto da minha mãe, que ficava em frente ao meu. Fechei a porta com cuidado, parecendo até prender a respiração naquele momento, embora fosse uma péssima ideia.

Após isso, eu me esquivei, colocando o meu peso em um pé de cada vez, e assim desci a escada, até o andar de baixo, enquanto torcia para a mamãe, não ouvir a madeira rangendo atrás de mim.

Abro a porta da frente com cuidado, sentindo o frio cortante da noite em meu rosto. O som das sirenes ainda ecoa ao longe, guiando o meu caminho até o gramado bem cuidado da minha casa. Quando observo, vejo uma multidão do lado de fora, ambos encarando a casa e os policiais que aparentemente já tinham adentrado naquele lugar.
Vejo Parker, e sua família do outro, juntamente com as velhas fofoqueiras da vizinhança, e mesmo sabendo que poderia me aproximar, eu decido que isso não seria a melhor coisa agora, além disso, o quanto mais rápido eu puder voltar para dentro, melhor...

Caminhei mais a frente, e de repente, dois policiais saíram da casa, e pediram para que as pessoas se afastasse, enquanto várias perguntas eram feitas para eles: "O que aconteceu?", "Os nossos vizinhos estão bem?" e "Por que vocês estão isolando a área da casa?". Sem dar sequer nenhuma resposta, os oficiais, apenas cercaram toda a área da frente da casa, com uma faixa de criminal. A multidão, rapidamente, se assustou, preocupados com a gravidade da situação, e até mesmo eu, me senti interessada para saber o que de fato se passava por trás daquelas paredes de draw-all brancas.

E naquele exato momento, uma ambulância apontou no final escuro e deserto da rua, despertando a atenção de todos, e sem dúvidas, ela estacionou bem a frente da casa, enquanto as pessoas davam espaço, para os paramédicos saírem do veículo e abrirem a porta.

Eu buscava manter a minha postura fixa diante daquele alvoroço, embora a minha respiração estivesse pesada. Meus olhos vagavam pela paisagem caótica em busca de respostas, enquanto os sons opostos do ambiente ainda perturbavam meus ouvidos. Meu coração palpitava, enquanto os paramédicos entravam na casa em busca de algo, que eu detestava imaginar o que poderia ser.

Após um instante, o semblante das pessoas ao redor se tornaram de choque ou talvez medo, enquanto os paramédicos retornavam com duas macas carregadas por dois corpos. O rosto das vítimas era coberto por lençóis brancos. Mas instantaneamente deduzi que aqueles eram os corpos de uma mulher e de um homem.

Diante de tudo, o meu corpo estava imóvel, e um olhar de descrença se espalhava por todo o meu semblante. Apesar da bolsa de oxigênio e dos tubos conectados no meu nariz, aquela cena me fez sentir que era ainda mais difícil respirar, e embora eu não tivesse nada a ver com aquilo, os reflexos do medo e da tensão, eram aparentes em mim, mas não significava que eu estava realmente preocupada. Porém, essa tamanha confusão, só poderia explicar que um assassinato acabara de acontecer esta noite... mas, quem seria o culpado por ele?

°•°•°•°•°

Meus olhos permaneciam cravados naquela casa, até que inesperadamente um estalo aconteceu na minha cabeça! E aquele garoto veio à minha mente, Alex Hart.

O sujeito, era o filho mais novo da família Hart; sempre muito quieto, sombrio e solitário. Não mentirei, que sempre estive interessada no silêncio dele, mas também não nego que sempre passou na minha mente que ele seria um daqueles garotos que um dia se rebelaria. Não sei porque, mas um instinto me diz, que ele está envolvido nisso...

Após longos segundos de puro tédio, eu vi a cena que provavelmente mudaria, ou marcaria a minha vida para pior para sempre... Vê-lo naquele dia, não só intensificou a minha vontade de viver, mas também me aproximou ainda mais da morte que eu tanto queria evitar. Alex, o garoto misterioso dos livros, mas também o salvador da mocinha, agora era um criminoso e mais um com a ficha suja na polícia, e tão jovem, capaz de pegar prisão perpétua por apenas um crime, mas um que poderia influenciar toda a sua vida...

O rapaz com o mesmo capuz preto tampando o rosto, foi conduzido pela polícia até a viatura. E talvez, caçando a minha própria morte, eu encarei-o, talvez, com um ar de julgamento estampado nos olhos e nos lábios, eu sabia que era errado, mas eu me sentia bem em fazer isso. O fato de ter sido apontada a minha vida toda por não ser como todo mundo, me fez querer sentir na pele como era ser uma acusadora, e apesar de gostar da sensação, seria algo que eu não suportaria fazer a todo momento.

Observei-o, e vi suas botas sujas de sangue na sola, que se estendiam até a beirada do calçado, suas mãos, por outro lado, estavam intactas, limpas e pálidas como a neve. Seu rosto era impossível de ser visto, mas apenas os lábios e a ponta do nariz. No entanto, antes que ele entrasse no veículo da polícia, ele olhou ao redor, encarando as pessoas que proferiam comentários de ódio e filmavam toda aquela cena com os celulares nas mãos. Por outro lado, eu era a única em silêncio, assistindo ele correr com seus olhos — sem imaginar como ele enxerga — pelas pessoas, até que parasse em mim.

Naquele momento, tudo parecia congelar ao meu redor, como se o tempo parasse e a neve suspendesse sua queda enquanto eu era fixada pelo olhar do rapaz, incapaz de decifrar a sinceridade em seus olhos. Com uma pontada de medo e, ao mesmo tempo, de curiosidade, uma gota de suor escorreu pelo meu pescoço, e meu coração acelerou ainda mais. Em minha mente, imaginei uma cena de filme, em que suas mãos pálidas, escrevia o meu nome em um caderno "Death Note" — que caligrafia terrível, eu pressuponho.

O olhar sem ao menos uma trégua de Alex pareceu atravessar minha alma, deixando-me paralisada por um breve instante. No entanto, sua expressão era indecifrável, e uma aura de perturbação corria sobre a minha mente. Sem mais tempo, ele foi obrigado a entrar na viatura, e um sentimento estranho de conexão inexplicável se formou dentro de mim. Como se, de alguma forma, nossos destinos estivessem entrelaçados naquele momento fatídico. Mas eu sabia que era impossível, afinal, eu era apenas uma garota comum, lutando contra um câncer interminável, enquanto ele era o centro de um terrível assassinato.

𝑷𝒔𝒊𝒄𝒐𝒔𝒆Onde histórias criam vida. Descubra agora