CAPÍTULO 16 - Á SOMBRA DO MEDO

31 8 0
                                    

No dia seguinte, despertei com uma dor de cabeça terrível. As repercussões do dia anterior ecoavam na minha mente de forma devastadora. Misturar as situações envolvendo Alex com tudo o que aconteceu com Simon gerava um sentimento terrível dentro de mim.

Embora ainda não estivesse falando com Alex, quando Simon tentou me beijar, afastei-me imediatamente, pensando nele e nos meus sentimentos. Pois, eu não via o doutor como um possível namorado, mas como amigo e cunhado, já que meu coração pertence inteiramente ao irmão dele. Por incrível que pareça, sentia que podia confiar em Alex pela sua sinceridade, ao contrário do doutor, sobre quem tinha dúvidas devido às suas atitudes incertas e aquelas benditas anotações que tanto me preocupam...

Naquela manhã, a ansiedade e a preocupação se entrelaçavam, enquanto o relógio impiedosamente marcava 8h23 e Rosa ainda não havia chegado. Minha inquietação tomava conta de mim, transformando cada segundo em uma eternidade. Eu andava de um canto a outro no quarto, enquanto meu olhar se fixava a todo momento na janela, esperando avistar sua chegada na entrada.

Com um misto de preocupação e medo, agarrei meus medicamentos e os calmantes na mesinha ao lado da minha cama, e com as mãos trêmulas e possivelmente com um rosto mais branco do que as nuvens, engoli as pílulas sentindo o gosto amargo se espalhar pela minha boca. Em seguida, com cuidado meticuloso, preparei a bolsa de oxigênio, conectando os tubos ao meu nariz, permitindo que o ar fresco começasse a fluir entre os meus pulmões, me acalmando pacificamente.

Decidida, segui para a minha escrivaninha e retirei meu celular da gaveta, decidindo ligar para Rosa e perguntar se aconteceu alguma coisa, e principalmente se ela viria. Disquei o seu número, e esperei na linha, porém, o telefone dela nem ao menos chamou. Após mais 3 ligações, obtive os mesmos resultados. Sem opção, decidi entrar em contato com a minha mãe, afinal, ela poderia saber se alguma coisa havia acontecido. No entanto, ligar para ela foi a mesma coisa que não ligar, já que o telefone em nenhum momento chamou.

- Estranho... - Sussurrei para mim mesma, colocando a tela do celular de frente para mim. Até que percebi a grande falha: meu celular estava sem rede.

Com força, joguei-o entre os travesseiros da minha cama, e desci para o andar de baixo com um nó estranho apertando meu peito, como se tudo isso fosse um presságio, o que certamente me incomodou, fazendo-me temer que algo estivesse errado.

Ao chegar no andar de baixo, com o coração quase saindo pela boca, alcancei o telefone no hall de entrada. Tirei o telefone do gancho e disquei o número de Rosa, ansiosa para ouvir sua voz tranquilizadora do outro lado da linha. Entretanto, o telefone nem ousou chamar novamente, o que me irritou profundamente.

No entanto, apesar da derrota, decidi tentar novamente, esperançosa de que ela pudesse atender nessa segunda tentativa, mas a chamada permanecia em silêncio, sem qualquer sinal de vida do outro lado. Respirei fundo, sentindo uma pontada de apreensão se misturar com a espera angustiante. Sem ter mais o que fazer, coloquei o telefone de volta no gancho, optando por aguardar um pouco mais.

- Pode ser que ela só esteja atrasada... - Desejei em voz alta.

Porém, isso não explicava o porquê de ambas não estarem atendendo. O que será que aconteceu?

Totalmente angustiada, me assentei na poltrona da sala, segurando minhas pernas entre o sofá e o peito. Os olhos inundaram-se, o sentimento de solidão aumentou ainda mais. Sempre disse que queria minha autonomia, mas crescer parece ser tão difícil e solitário... acostumei-me com essa vida, e quando tantas pessoas me deixam, sinto que não serei capaz de suportá-la como achava que conseguiria. Agora percebo que não é fácil lutar sozinha, tomar minhas próprias decisões, adaptar-me em um mundo onde sou meu único porto seguro, viver em um mundo onde ninguém se importa, onde não tenho amigos e nada para conquistar... quero me sentir livre, mas por que a liberdade significa estar só?

𝑷𝒔𝒊𝒄𝒐𝒔𝒆Onde histórias criam vida. Descubra agora