CAPÍTULO 3 - UM CENÁRIO DA MEMÓRIA

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No dia seguinte, o frio persistia implacável, e mesmo assim, vi-me compelida a dirigir-me ao hospital para cumprir minha rotina de exames diários. Sem delongas, chegou o momento em que a Dra. Rachel nos convocou para sua sala. Com nervos à flor da pele, minha mãe e eu adentramos o consultório e nos acomodamos diante dela.

— Olá, como vai a minha paciente favorita? — Perguntou a doutora.

— Indo — Respondi, — E a senhora?

— Indo também — Sorrimos, enquanto ela perguntava como minha mãe estava se sentindo.

— Bem, graças a Deus — Ela respondeu.

Dito isso, doutora Rachel deu um sorriso, ajeitando o jaleco branco, e continuou:

— Bom, vamos ao que interessa. Amy, realizamos os exames normais necessários e observamos um considerável aumento da doença em seus pulmões. Efetuamos um raio-x abrangente e constatamos nódulos significativamente maiores do que na última avaliação. Em consequência, será necessário aumentar a intensidade da sua quimioterapia. Adicionalmente, planejamos a inserção de um cateter venoso central em uma das principais veias do seu tórax para otimizar a administração do tratamento — explicou a médica, — Embora você possa sentir algum desconforto inicial, com o tempo, isso se tornará mais suportável. — Ela concluiu.

Talvez, sentindo-me à beira da escuridão ou de um túnel sem fim, eu sorri, demonstrando pena de mim mesma, pois parecia que nada estava mudando, exceto os estágios da minha doença que progrediam a cada dia mais.

— Há algo mais, doutora?

— Sim. Infelizmente, com o aumento da quimioterapia, sintomas mais fortes podem surgir. Como a perda dos pelos pubianos, infecções respiratórias, dores e até mesmo aumentar a sua queda de cabelo. — Ela afirmou, — E antes que piore, teremos que tomar medidas drásticas para conseguir um doador o mais rápido possível.

Aquelas notícias abalaram a minha mente, pois eu estava realmente por um fio da morte. Ter que lutar todos os dias e fazer o impossível para se manter viva é extremamente frustrante. Questionei-me se não seria mais fácil desistir?

­ — Em qual estágio eu estou? — Perguntei.

— Estágio IIIA. — Ela respondeu, enquanto eu seguia em silêncio, pensando na minha real preocupação, até que ela transpareceu em minhas palavras:

— Você acha que eu viverei?

— Temos esperança que sim. — Disse a doutora, enquanto eu apenas concordava com a cabeça.

Minha mãe acariciou as minhas mãos, me confortando por toda aquela triste notícia. Afinal, ela deve estar se sentindo péssima também, de ver que sua filha está se deteriorando. Sem dizer nada, nós nos despedimos da doutora e saímos do hospital. O trajeto para casa estava sendo calmo e tranquilo, ninguém se atrevia a dizer nada, enquanto eu apenas encarava as pessoas, as ruas e os carros passando do vidro do carro. Minha mãe dirigia, conversando com o seu chefe pelo telefone, — algo totalmente errado para ser franca.

Ela havia perdido algumas horas do trabalho para me levar ao hospital, o que gerou certas complicações para terminar o seu projeto recente.

— Mãe? — Chamei.

— Só um momento... — Sussurrou ela, terminando a conversa com seu patrão, quando depois de alguns segundos ela disse:

— Pode falar, Amy.

— Quero macarrão com queijo. — Pedi, com um tom manhoso, enquanto ela sorria.

— Você está parecendo uma criança falando! — Ela afirmou, com um tom brincalhão.

𝑷𝒔𝒊𝒄𝒐𝒔𝒆Onde histórias criam vida. Descubra agora