05》🇰🇷 ▪︎ 🇰🇵

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Ando pelos corredores daquela fábrica horrível, tudo por aqui me dava nojo.

Desde as paredes infiltradas pretas até as salas feitas para nem se ver a luz do sol, é nesse ambiente que é feito o trabalho escravo pelos norte-coreanos. Sim, trabalho escravo, não consigo enxergar isso como uma "mão de obra digna" como os mesmos dizem ser.

Mesmo estando aqui há quase um ano inteiro não consigo perceber se eles dizem isso por medo ou por lavagem cerebral. Eu tenho que conviver fingindo gostar desse governo, sendo simpática com todas as pessoas que abusam dos mais pobres; tenho que aturar essa hierarquia que é mil vezes pior do que a de meu país.

Esse país conseguiu me deixar com traumas indescritíveis. 

Cumprimento o "segurança" do prédio, que em minha visão, era apenas um soldado que estava lá para averiguar que ninguém sairia nem um milímetro da linha.

É claro que existem pessoas boas, em todo lugar do mundo é assim. Há pessoas ruins em ambientes bons e vice-versa; mas a diferença é que aqui as máscaras não caem, eles vivem num personagem eternamente.

A parte boa é que não preciso esconder meu sotaque, todos sabem que sou da Coreia do Sul. 

A verdade sobre o país mais fechado do mundo nos deixa ainda mais incrédulos, todo país tem seus prós e contras, mas aqui podemos enxergar muito mais contras. 

Saia da bolha e em troca ganhe uma estadia num campo de concentração.

Precisamos ser cautelosos vinte e quatro horas por dia… antes de vir para cá já tinha visto relatos de desertores que diziam pensar que o governo pudesse até ouvir o que se passava em suas mentes… devo admitir que por alguns segundos também achei ser possível, isso é em consequência de minha mente nem tão sã desde que cheguei aqui.

Agora já do lado de fora do prédio em que trabalho, pego minha bicicleta — já que carros são só para pessoas importantes e militares de alta patente — e começo a pedalar até minha casa.

Devo admitir que essa era minha parte favorita da Coreia do Norte, as ruas são desertas por conta da falta de veículo, então eu não precisava me preocupar em prestar tanta atenção ao meu redor. Aqui também tem o ar bem fresco sem poluição, as montanhas ao redor junto das árvores me davam uma sensação de paz, apesar de não ter vivido sequer um minuto sem medo aqui.

Vinte minutos depois chego em casa, abro o pequeno portão passando a bicicleta e o fecho deixando-a no lugar de sempre. Pego minhas chaves destrancando a porta e mal chego a abri-la quando sou surpreendida ao ligar a luz.

— Já voltei, ficou com saudades? - pergunto a pequena criança que agarrava minha perna num abraço e confirma balançando a cabeça. Pego-a no colo abraçando de volta e deixo um beijo em sua bochecha. — Desculpe a demora, prometo não me atrasar amanhã.

Entrelaço meu dedinho no dela, que ainda se segurava em meu pescoço com medo que eu fosse embora. Rio colocando-a no chão e pego em sua mão, indo até a mesinha rosa dela.

— O que minha Ye Sol fez hoje? - vejo alguns desenhos e sorrio. — Somos nós duas aqui?

Novamente balança a cabeça e acaricio seu cabelo, notando seu pequeno sorriso. 

— Trouxe um presente pra você.

Pego minha bolsa tendo meus movimentos seguidos atentamente por ela e tiro uma caixa de giz. Seus olhos se arregalam e entrego a ela, que sorri de orelha a orelha se agarrando em mim novamente. 

Rio com seu entusiasmo e digo:

— Vou fazer a comida enquanto você desenha, tá bom?

Dou um beijo em sua cabeça após a menor me deixar ir e me levanto, chego na cozinha pegando os ingredientes para o jantar ao mesmo tempo em que olhava pela janela.

Os norte-coreanos chegavam de seus trabalhos nas fazendas e os poucos estrangeiros que também moram aqui vinham das fábricas, uma única casa que ficava de frente para a minha estava vazia desde que cheguei, mas ninguém se atrevia a chegar perto. Há alguns meses fiquei sabendo pelo meu vizinho que se tratava da moradia de um militar de alta patente.

Desde que cheguei aqui avaliei as pessoas e as casas, já que sabia que o hacker que procurava parecia estar por perto. Porém, não sei em que raio de quilômetros ele se encontrava, o que dificultava ainda mais a busca.

E apenas adiava ainda mais meu retorno para a Coreia do Sul.

Meu olhar se volta ao ver alguém acenando para mim do lado de fora e vou até a janela, vendo meu vizinho:

— Boa noite, camarada! - Jeongin sorri ao me cumprimentar, segurava suas ferramentas que usava na fazenda. — Tudo bão? Tão precisando de algo?

— Boa noite, camarada. - aceno de volta colocando um sorriso em meu rosto. — Tudo certo por aqui, se precisar de ajuda só dar um toque!

— Um toque! - ele gargalha alto. — Ocês do sul são engraçado demais, ! Tô me indo, camarada. Inté!

Rio colocando os legumes na sopa e aproveito que leva um tempo até cozinhar, então vou até Ye Sol que ainda desenhava e me sento ao seu lado brincando com ela.

Os vizinhos daqui são muito prestativos e gostam de se ajudar, Jeongin é um exemplo disso, o mesmo me disse que veio do interior para Kaesong e começou a trabalhar na fazenda. Seu sotaque caipira aparece quando está animado demais, até hoje tenta mudar isso, diz que estando agora numa cidade com mais pessoas deveria ser mais "educado". Como se vir do interior o fizesse ser menos digno de algo, isso é uma coisa que tento sempre falar com ele, tirar esse complexo de inferioridade que sente ao interagir com os outros.

Depois de trinta minutos volto a cozinha terminando a comida, faço um pouco de carne numa outra panela e pego dois potes colocando a sopa neles. Despejo toda a carne na sopa de Ye Sol entregando a ela, que comia com cuidado para não se queimar. Faço companhia comendo junto dela e ao terminar, seguro sua mão ajudando-a a escovar os dentes e a tomar banho na bacia grande.

Brinco com Ye Sol fazendo bolhas enquanto ela ria e após terminar, a cubro com a toalha levando-a no colo até o quarto que dormimos juntas. Seco seu cabelo depois de ajudar com seu pijama e me deito no cobertor no chão ao seu lado até que ela pegasse no sono.

Por sorte ela sempre pega rápido no sono e eu aproveito para me levantar com cuidado, fechando a porta do quarto em seguida.

Coloco um casaco de frio já que o vento a noite estava um pouco gelado e pego meu canivete que guardava no alto do armário. Abro a porta dos fundos lentamente tentando fazer o mínimo de barulho possível e vou até a adega de kimchi.

Por estar escuro não pude notar antes, mas um lado da porta estava aberta sendo que sempre deixo fechada. Puxo meu canivete abrindo-o e desço com cuidado as poucas escadas que tinha ali.

Andando um pouco mais para dentro vejo um homem de costas para mim mexendo nos potes, como se procurasse algo.

Numa fração de segundos puxo sua blusa o trazendo para perto e coloco a faca em seu pescoço, tapando sua boca para que não gritasse. Depois de alguns segundos tiro a mão e seguro forte seus braços, perguntando em seguida:

— Quem é você e o que faz aqui? - sussurro perto de seu ouvido. — Se tentar alguma coisa arranco seu pescoço fora agora mesmo.

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Jeongin caipira 👉👈😳

❤ Até o próximo capítulo ❤

Between Red and Blue | Hwang Hyunjin |Onde histórias criam vida. Descubra agora