Between Red and Blue | Hwang Hyunjin |

36》🇰🇷 ▪︎ 🇰🇵

Os dias em Jeju foram cheios e divertidos. Fomos em muitos pontos turísticos que eu sequer sabia que existiam — Hyunjin havia feito várias pesquisas sobre esses lugares —, se não fosse por ele nós com certeza ficaríamos só na praia, e isso seria um desperdício considerando que a ilha é extremamente bonita em qualquer lugar. Apesar disso, o tempo passou rápido demais e agora já tínhamos chegado há alguns dias em Busan.

A praia de Busan que eu havia visitado apenas uma vez durante minha vida toda morando aqui parecia a mesma, mas enquanto eu procurava conchas com Ye Sol e Hyunjin, pude perceber que a única que mudou por aqui era eu mesma.

As lojas próximas continuavam coloridas, os letreiros brilhavam ainda a noite e as mesmas barraquinhas de comida ainda exalando um cheiro maravilhoso. 

Era bom voltar e ver novamente o mar.

Termino de abotoar minha camiseta branca de manga longa e gola V, a colocando por dentro da minha calça de alfaiataria preta. Resolvo deixar o cabelo solto mesmo e pego minha bolsa pequena, colocando a alça no ombro.

— Uau! - escuto Hyunjin e me viro, vendo-o na porta do quarto. Me levanto da cama rindo sem graça. — Eu sabia que essa roupa ia ficar linda em você.

— Tenente, devo admitir que você tem um ótimo gosto. - digo enquanto ele se aproxima de mim sorrindo. 

— É claro que eu tenho, afinal, você é minha namorada. - ele passa os dedos pelo colar que havia me dado ainda na Coreia do Norte, segurando delicadamente o pássaro esculpido por ele mesmo. — Acho que não combina tanto com o conceito das suas roupas.

— Por quê? Eu gosto. - seguro o colar depois que o homem solta, e continuo dizendo enquanto ele abre a gaveta da cômoda: — Além de ter sido um presente seu.

— É por isso que eu vim com um plano B. - franzo o cenho sem entender. — Comprei isso pra você.

Pego a caixa de veludo branca ainda hesitante, passando os olhos dela para o homem que parecia feliz e inquieto esperando que eu a abrisse. Puxo o topo da caixa revelando um colar prateado com um pingente que lembrava um sol, junto dele um par de brincos pequenos de ponto de luz. Não sei o que me deixou mais chocada: os acessórios lindos ou o nome da loja em que foi comprada. Pandora era uma marca de luxo cara, na qual eu nunca gastaria meu dinheiro suado.

— Eu sei o que vai dizer. - Hyunjin sorri convencido. — É lindo, não é?

— Lindo e deve ter sido caro. - balanço a cabeça ainda incrédula. — Não sei se dev-

— Nem pense em não aceitar. - o homem cruza os braços. — Pensei em você e logo quando eu vi o pingente de sol, pensei na Ye Sol… vai ficar maravilhoso em você.

Não tenho a chance de falar nada, Hwang já colocava meu cabelo para o lado e tirava o colar. Ele pega a caixinha da minha mão e tira o outro colar que eu estava usando, ajeitando em meu pescoço o novo e prendendo o fecho.

— Ficou perfeita, você sempre está linda. - sorrio com seu elogio e seguro o pingente. — Agora sobre os brincos… devo colocar também ou já é grandinha o suficiente pra isso?

— Aish. - resmungo rindo e pego os brincos, colocando enquanto olho no espelho. Me viro para ele passando as mãos em sua cintura e o encaro. — Obrigada.

— Não precisa agradecer. - o homem me beija e acaricia minha bochecha. — Lembre de me ligar ou mandar mensagem quando quiser ir embora, vou te buscar no mesmo instante.

— Tá bom, ligo sim.

— Acho que tá na hora. - ele encara seu relógio de pulso. — Vou te deixar lá e vou levar a Sol numa sorveteria que ela queria ir.

— Certo. - sento na cama calçando meus saltos pretos. — Não deixe ela comer muito, se não pode ficar doente.

— Sim senhora.

[...]

Mais uma vez eu estava parada naquele mesmo portão de entrada da escola, era um tanto quanto amedrontador voltar aqui, mas ao mesmo tempo sentia que era a coisa certa a se fazer. Entro me direcionando ao salão, os balões azuis e brancos remetiam às cores da escola, as mesas bem decoradas com taças bonitas deixavam esse lugar diferente, nem parecia ser o local que eu odiava estar.

As pessoas conversavam entre si felizes por reencontrarem colegas antigos, relembrando momentos de uma época não tão distante. Caminho lentamente tentando fingir não estar ansiosa e pego uma taça da bandeja que um funcionário carregava. Sério, realmente contrataram garçons para um encontro assim? O normal seria estar num restaurante comendo panceta de porco junto de uma cerveja.

Cheiro o líquido e percebo ser vinho, bebo um pouco e suspiro encarando os cantos, não demora muito para ouvir uma voz masculina me chamar:

— Yoomi? - me viro encarando o homem alto e franzo o cenho, sem saber quem era. — Não lembra de mim? Sou Choi Soobin, do clube de robótica.

Não deixo de ficar boquiaberta ao perceber o quão diferente ele estava. Choi costumava ser muito mais baixo do que agora e suas bochechas eram cheias, assim como seu porte físico. Mesmo estando agora alto e mais magro, continua tendo uma aparência tímida e bonita igual antigamente.

— É, eu mudei. - ele ri e sorri abertamente, como se soubesse o que eu estava pensando. — Quase ninguém me reconhece.

— Desculpa, não era minha intenção ficar encarando… foi um pouco rude. - peço e sorrio de lado, bebendo mais um pouco de vinho. — Aliás, eu não mudei muito? Você me reconheceu mesmo depois de tanto tempo.

— Ah, mudou sim. Como posso explicar? - o homem coloca a mão sobre o queixo, me encarando. — Não tem como não reconhecer seus olhos, a única diferença neles é que agora têm alegria. Você tá feliz, Yoomi. - sua afirmação me pega de surpresa, coloco a taça quase vazia na mesa ao lado e volto minha atenção à ele.

— As coisas melhoraram depois de um tempo em Seul, tive um tempo bem difícil por aqui. - digo sentindo minha voz falhar, mas me recomponho.

— Sempre me arrependi depois que foi embora. Você era a melhor entre nós do clube, e todos sabiam que sofria bullying - Soobin dá uma pausa, ponderando se deveria tocar num assunto tão delicado. — inclusive eu. Depois disso, você passou por problemas familiares e acabou indo pra Seul… Então me arrependo de não ter te ajudado aquela época, mesmo que só pudesse no máximo te dizer uma ou duas palavras de consolo, infelizmente eu era um covarde e não me mexi.

Soobin parecia realmente incomodado com isso, seu olhar transmitia isso para mim e eu podia sentir que era tudo verdade. Sorrio fechado para ele, tentando mostrar que estava tudo bem.

— Eu entendo Soobin, nós sempre fomos presas fáceis aqui, eu não ia querer que você fosse a próxima vítima por me defender. Mas eu agradeço pela sua consideração, é bom saber que tinha alguém que se importava comigo aqui.

Era verdade, por mais que eu não conseguisse enxergar na época, nem todos eram ruins. Era uma pena que não pude ter experiências boas e desfrutar de pessoas que poderiam ter sido minhas amigas, porém, agora posso ver que o inferno não era a escola em si.

— Sinto muito pela sua mãe. - ele murmura e o fito, suas mãos brincando uma com a outra num gesto de ansiedade. — Sinto muito, Yoomi.

— Obrigada, Soobin. 

Sorrio agora triste, estar aqui me fez sentir um peso ainda maior da tristeza ao ouvi-lo falar sobre minha mãe. A cidade que só brilhava quando eu estava ao lado dela de repente escureceu, sobrando só o breu das estradas asfaltadas. Sinto falta dela, do cheiro dela, da sua voz, do seu jeito e dos seus carinhos. É como se eu tivesse voltado a ser uma criança.

— Yoo Yoo?

Aquela voz me faz arregalar os olhos e procuro ao redor, vendo atrás de mim aquelas duas pessoas que eu nunca mais gostaria de encontrar.

Realmente, é como se eu tivesse voltado a ser uma criança.

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❤️ Até o próximo capítulo ❤️