Tempo Para Descansar

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O tic em uma narrativa estressante,
o tac anunciando os instantes,
os segundos que antecedem a morte.

Nada mais importa, nada mais será importante.
Nem conquista, nem amor—
são sombras que perseguimos, miragens.
O fato é: mesmo que possamos entender uma fração,
o todo nos escapa, é inatingível.
Não podemos opinar.

O tic a acelerar conforme o tempo passa,
o tac marcando instantes que logo se desfazem.
Como aproveitar? O que valorizar?
O tempo, que não tem preço,
o tempo que não se pode precificar,
mas ainda assim, nós o trocamos,
como se pudéssemos comprá-lo, possuí-lo.

Queremos o mundo, ansiamos por mais,
mas é ironia: não importa o que temos,
é um peso, e não há alívio.
As coisas se desvalorizam,
perdem o sentido da conquista,
como se a vontade, por natureza, fosse insaciável,
condenada a correr atrás de si mesma.

Já não sei opinar, já não quero opinar,
devo me calar—
mas desta vez, para sempre.
Preciso descansar de mim mesmo.

Essa busca que nunca cessa,
um desejo que arde e, ao toque, vira cinzas.
É como uma fome que cresce,
mesmo quando alimentada,
uma sede que se intensifica a cada gole.

O tic e o tac, ritmos impiedosos,
repetem a sentença: o querer é tortura,
uma corrente que nos prende ao vazio.
Não há paz, nem fim—só o pulsar da ausência,
um abismo onde tudo se dissolve.

A voz se cala, ecoando em silêncio:
"Deixa-me ser nada, deixa-me sumir."
Descansar de mim mesmo:
talvez seja o último desejo,
o único que possa trazer alívio.

O Enigma do SerOnde histórias criam vida. Descubra agora