No Ventre da Escuridão

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Queria dizer o mesmo que você,
Mas prefiro a escuridão à luz.
Essa luz que dissolve os contornos do real,
Me cega, me machuca e me reduz.

Você fala da luz como promessa,
Mas será que ela realmente nos salva?
O brilho ofusca o que é sutil,
E talvez a verdade já esteja perdida no seu calor.

Nem tudo que brilha nos traz paz,
Nem todo caminho claro é o certo.
Há beleza no silêncio das sombras,
Onde as verdades amargas se revelam sem medo.

Seguimos a luz como mariposas,
Acreditando que o brilho é tudo.
Mas a escuridão, com seus braços tateantes,
Nos lembra que o ouro pode ser profunda ilusão.

A luz traz conforto, mas também distração,
Nos prende em sonhos que nunca florescem.
E na sombra, onde tudo parece morrer,
Talvez encontremos o que realmente somos.

A caverna fria e deserta me acolhe,
Como um ventre antigo, um santuário esquecido.
Aqui, os ecos são os meus pensamentos,
E o silêncio, a verdade que sempre evitei.

Nas paredes rugosas, sinto a memória
De um mundo sem véus, sem máscaras de ilusão.
O breu não esconde, mas revela,
Desvela minha essência em sua forma mais crua.

Porque na escuridão, já não fujo de mim,
Não há reflexos distorcidos para me confundir.
É aqui que compreendo o que a luz esconde,
A liberdade de não precisar ser visto.

Você me chama para o brilho,
Mas descobri que há calor na penumbra.
Nos recônditos mais sombrios da alma,
Encontro o conforto de ser, sem ter que parecer.

A luz é bela, mas é fugaz,
A escuridão é eterna, é nossa casa.
E no acolhimento da sombra, descubro
A luz que sou, o abrigo que sempre busquei.

O Enigma do SerOnde histórias criam vida. Descubra agora