O Enigma do Ser

A sombra entre as palavras

Estranho como as coisas mudam,
Tão estranho, como se o próprio ar soubesse segredos
Que nossos pulmões não ousam respirar.
Há algo rastejando nas paredes do tempo,
Algo que escapa ao nosso olhar
Mas cujos dedos gélidos sempre nos tocam.
Intempéries vagas sussurram nomes que não lembramos,
Rostos que nunca vimos, mas que conhecemos no fundo.
O enigma por trás das coisas não é uma porta,
É um véu sutil, feito de silêncio e sombra,
Que se desfaz quando piscamos
E se recompõe antes que o possamos entender.

Não enxergamos o todo.
O que é o todo, senão uma criatura viva?
Nos observa do canto da sala, imóvel,
Um vulto na periferia da razão,
E sorrimos sem perceber, pois não sabemos.
Não observamos seus complexos,
Não porque não queremos, mas porque não podemos.
Os olhos se fecham sozinhos quando se aproximam da verdade.
Há um espaço vazio entre cada batida de nosso coração,
E é nesse intervalo que elas se movem,
Essas criaturas que nos cercam,
Essas sombras que conhecem nossos nomes
Mesmo antes de nascermos.

Não entendemos sua finitude,
Pois o fim não é onde acaba,
Mas onde começa a ausência de luz,
Onde as paredes do mundo se estreitam
E o som dos nossos próprios passos nos trai.
O horror não é o monstro que se esconde,
Mas o fato de que ele não precisa se esconder,
Ele é o próprio tecido da realidade,
Costurado com fios de medo que não sentimos
Até que seja tarde demais.

Há algo além do espelho,
Um reflexo que nunca nos mostra,
Algo que se mexe na superfície calma da água
Quando olhamos de relance.
E, quando desviamos o olhar,
Ele está lá,
Sempre esteve.

Não podemos olhar para essas criaturas que nos cercam,
Não porque são invisíveis,
Mas porque são o que sobra
Quando fechamos os olhos.
O silêncio entre nossas palavras,
O escuro atrás de nossas pálpebras,
O espaço entre o agora e o nunca mais.

Elas não esperam que as entendamos.
Elas apenas esperam.