O Labirinto das Sombras Inconclusas

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Nas margens turvas da vontade,
Onde o ser se dissolve em reflexos que nunca florescem,
Tece-se a trama das promessas vãs —
Mas não há fio de verdade no tear da tua língua.
Eis que o ideal, esse espectro de justiça,
Sussurra na noite de olhos cegos,
Toca, sem tocar, os dedos do poder.

Ah, que alarde feito de silêncios dissimulados,
Entrelaçados aos valores que nem chegam a ser,
Forjados no ferro frio da indiferença.
Mas no pulsar do que é a essência,
Esconde-se o lodo do interesse:
Tu não vês o abismo, pois és parte dele,
E danças à sua beira, como quem dança à luz da verdade,
Mas essa luz, ah, nunca foi tua.

Entre as sombras retorcidas,
Em que ideias incolores se debatem em vaidade,
O ideal se desmancha antes mesmo de ser pensado,
E o justo se torna eco de uma boca que não conhece o gosto.
Quem define a fome?
Quem ouve o grito abafado pelas paredes lisas
Que tu constróis com tuas certezas fugidias?

Teus gestos, tortuosos como o tempo,
Riscam no espelho formas que não têm corpo,
E, no entanto, perseguem o olhar que crê.
Serás o condutor do labirinto, ou apenas
Um cego que confunde o reflexo com o caminho?
A cada volta, a cada corredor que prometes,
Não há saída. E tu, acaso, queres encontrar uma?

O valor que pregas, tão sólido quanto névoa,
É o ouro corroído pela chuva ácida da indiferença.
Mas não te enganes:
Mesmo no labirinto onde te escondes,
Há sempre um espelho que te espera,
Ainda que ele apenas reflita
A sombra de um vazio sem nome.

O Enigma do SerOnde histórias criam vida. Descubra agora