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Querida Bárbara, 

Sinto sua falta. Só se passaram cinco dias, mas sinto como se tivessem sido cinco anos. Talvez por eu não saber se é o fim, se algum dia vamos voltar a nos falar. Tenho certeza de que vamos nos cumprimentar na aula de química e nos corredores, mas será que tudo vai voltar a ser como antes? É isso o que me deixa triste. Eu tinha a sensação de que podia  falar qualquer coisa para você. E acho que você também sentia isso. Espero que sim.  Então vou dizer tudo agora, enquanto ainda tenho coragem. O que aconteceu entre nós no ofurô me assustou. Sei que para você foi só mais um dia na vida de Bárbara, mas para mim significou bem mais, e foi isso que me deixou assustada. Não só o que as pessoas estavam dizendo sobre mim, mas o fato de ter acontecido. O quanto foi fácil, o quanto eu gostei. Fiquei com medo e descontei em você, e por isso peço desculpas. E, no recital natalino, lamento não ter defendido você na discussão com Arthur. Eu devia ter dito alguma coisa. Sei que eu te devia isso. Eu devia isso e muito mais. Ainda não consigo acreditar que você veio e trouxe aqueles biscoitos de frutas cristalizadas. Aliás, você estava fofa naquele suéter. Não estou dizendo isso só para agradar. Falo sério. Às vezes, gosto tanto de você que não consigo suportar. É um sentimento que vai crescendo e crescendo dentro de mim, e parece que vou explodir. Gosto tanto de você que não sei o que fazer a respeito. Meu coração bate muito rápido quando sei que vou ver você de novo. E aí, quando você me olha, eu me sinto a garota mais sortuda do mundo. As coisas que Arthur disse sobre você não eram verdade. Você não me puxou para baixo. Foi o contrário. Você me libertou, Bárbara. Me deu minha primeira história de amor. Não deixe  que tudo acabe agora. 

Com amor, 
Carolina Voltan.

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SOPHI PASSOU A manhã toda reclamando, e desconfio que Lara e papai estejam sofrendo de ressaca pós-festa de Ano-Novo. E eu? Eu estou com corações nos olhos e uma carta queimando um buraco no bolso do meu casaco. 

Enquanto colocamos os sapatos, Sophi ainda tenta escapar de ter que usar roupas formais e brancas para ir à casa de tia Carrie e tio Victor. 

— Olhe as mangas! Estão muito curtas! 

— É para ser assim mesmo — diz papai, de forma nada convincente. Sophi aponta para mim e para Lara. 

— Então por que o vestido delas sequer tem mangas? — pergunta ela. 

Nossa avó comprou esses vestidos para nós na última vez em que foi ao Brasil. O vestido de Lara tem um decote discreto e é amarelo, pois segundo os brasileiros trás dinheiro se usá-lo no Ano-Novo. O meu é vermelho com alças finas e também com um laço na cintura. A saia é volumosa, e pouco curta, bate na metade de minhas coxas. O de Sophi é branco com mangas cumpridas, e deveria chegar até o chão, mas termina bem no tornozelo. 

— Não é culpa nossa que você cresça mais rápido que erva daninha. E também, são estilos diferentes de vestidos — digo, ajeitando meu laço. 

O laço foi o mais difícil de acertar. Tive que assistir a um vídeo no YouTube um monte de vezes para dar o nó, e ainda parece torto e deprimente. 

— A saia do meu também está curta demais — resmunga ela, erguendo a barra. 

A verdade é que Sophi odeia usar vestidos como o dela, porque é preciso caminhar com  cuidado e segurar a saia com uma das mãos, senão ela pode tropeçar. 

— Todos os outros primos vão estar elegantes, e a vovó vai ficar feliz de ver o vestido que ela mesma deu — diz  papai, massageando as têmporas. — Caso encerrado. 

No carro, Sophi não para de repetir "Odeio o Ano-Novo", o que deixa todo mundo de mau humor, menos eu.
Lara já estava um pouco aborrecida porque  teve que acordar antes de o sol nascer para voltar para casa a tempo, pois estava no chalé da amiga. Tem também a questão da possível ressaca.

P.S.: Ainda amo você |ADAPTAÇÃO BABITAN|Where stories live. Discover now