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DEPOIS QUE BÁRBARA me deixa em casa, entro correndo para contar o que aconteceu a Lara e Sophi, e sinto como se fosse explodir. Mal posso esperar para falar tudo.

Sophia estava deitada no sofá, vendo tevê com Jamie Fox-Pickle no colo, e se senta quando entro na sala. Com a voz baixa, ela diz:
— Lala está chorando.

Meu entusiasmo evapora na mesma hora.

— O quê? Por quê?

— Acho que ela foi até a casa do Arthur para conversarem, e não foi bom. Você devia ir falar com ela.

Ah, não. Não era para ser assim. Eles tinham que voltar, como Bárbara e eu.
Sophi se acomoda de novo no sofá com o controle remoto na mão, seu dever de irmã cumprido.

— Como foi com Bárbara?

— Foi ótimo — digo. — Ótimo mesmo.

O sorriso surge no meu rosto sem que eu pretendesse, e paro de sorrir rapidamente, por respeito a Lara. Vou até a cozinha e faço uma xícara de chá Night-Night para ela. Adiciono duas colheres de chá de mel, como mamãe fazia para nós na hora de dormir. Por um segundo, considero colocar um pouquinho de uísque, porque vi em um seriado vitoriano na tevê; as empregadas colocavam uísque na bebida quente da senhora da mansão para acalmá-la. Sei que Lara bebe na faculdade, mas ela já está de ressaca, e duvido que papai fosse gostar da ideia. Então coloco o chá sem uísque na minha caneca favorita, e mando Sophi levar a bebida até o quarto da Lara.
Digo a ela para ser gentil. Digo que deve primeiro dar o chá para Lara e depois se aconchegar com ela por pelo menos cinco minutos. Mas Sophi reclama, porque só se aconchega se ganhar alguma coisa com isso, e também porque sei que ver Lara chateada a assusta.

— Vou levar Jamie para ela se aconchegar — diz Sophi.

Egoísta!

Quando vou para o quarto de Lara com um pão de canela, Sophi não está por perto, nem Jamie. Lara está encolhida na cama, chorando.

— Acabou mesmo, Carolina — sussurra ela. — Já acabou faz tempo, mas agora sei que é para sempre. A-achei que, se eu quisesse voltar, ele também iria querer, mas Arthur n-não quer.

Eu me deito na cama e encosto a testa nas costas dela. Consigo sentir cada respiração. Ela chora no travesseiro, e massageio os ombros de Lara do jeito que ela gosta. O importante a saber sobre Lara é que ela não chora nunca, e vê-la chorar tira meu mundo e nossa casa dos eixos. Tudo parece torto.

— Ele disse que relacionamento a distância é muito d-difícil, que eu estava certa de terminar antes de ir. Senti t-tanta saudade dele, e parece que ele não sentiu nem um pouco a minha falta.

Eu mordo o lábio, me sentindo culpada. Fui eu que a encorajei a falar com Crusher. Isso é em parte minha culpa.

— Lara, ele sentiu sua falta. Sentiu mesmo. Eu olhava pela janela durante a aula de francês e via ele lá fora, nas arquibancadas, almoçando sozinho. Era deprimente.

Ela funga.

— É verdade?

— É.

Não entendo qual é o problema do Arthur. Ele agiu como se a amasse tanto; praticamente entrou em depressão depois que ela foi embora. Agora, isso?

Lara suspira.

— Eu acho... eu acho que ainda amo o Arthur.

— Ama?

Amar. Lara disse que "ama" Arthur. Acho que nunca a ouvi dizer que amava Arthur. Talvez que estivesse apaixonada, mas não que o amava.

Lara seca os olhos com o lençol.

P.S.: Ainda amo você |ADAPTAÇÃO BABITAN|Where stories live. Discover now