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— NO QUE VOCÊ está pensando?

Bárbara bate na minha testa com a colher para chamar minha atenção. Estamos na Starbucks fazendo dever de casa depois da escola.

Coloco dois pacotes de açúcar mascavo no copo de plástico e mexo com o canudo. Tomo um longo gole, e os grânulos de açúcar fazem um barulho satisfatório enquanto os mastigo.

— Eu estava pensando em como seria bom se as pessoas da nossa idade pudessem se apaixonar como nos anos 1950.

Na mesma hora, desejei não ter dito "apaixonar", porque Bárbara nunca disse nada sobre estar apaixonada por mim, mas é tarde demais, as palavras já saíram da minha boca, então sigo em frente e espero que ela não tenha percebido.

— Nos anos 1950, as pessoas só saíam juntas, era fácil assim. Uma noite, Burt podia levar você para ver um filme no drive-in, e, na noite seguinte, Walter podia convidá-la para um arrasta-pé ou algo do tipo.

Confusa, ela pergunta:
— Que diabos é um arrasta-pé?

— É tipo um baile, como em Grease. — Bárbara olha para mim sem entender. — Você nunca viu Grease? Passou na tevê ontem. Deixa pra lá. A questão é que naquela época você não era garota de alguém até ter um broche.

— Broche? — repete Bárbara.

— É, o cara dava para a garota o broche da fraternidade dele, e isso significava que eles estavam namorando firme. Não era oficial até você ter o broche.

— Mas eu não sou de nenhuma fraternidade. Nem sei como é um broche de fraternidade.

— Exatamente — digo.

— Espere... você está dizendo que quer um broche ou que não quer um broche?

— Não estou dizendo nada disso. Só estou perguntando se você não acha legal o jeito como as coisas eram? É antiquado, mas é quase...

— Como Margot sempre diz?

— Pós-feminista.

— Peraí. Então você quer sair com outras pessoas? — Ela não parece necessariamente chateada, só confusa.

— Não! Eu só... só estou fazendo uma observação. Acho que seria legal termos novamente as saídas casuais. Tem algo de doce nisso, não acha? Minha irmã me disse que queria não ter deixado as coisas irem tão longe com Josh. Você mesma disse o quanto odiava como as coisas ficaram sérias com Heloísa. Se terminarmos, não quero que as coisas fiquem tão ruins a ponto de não podermos estar no mesmo ambiente. Eu ainda quero que sejamos amigas, aconteça o que acontecer.

Bárbara ignora a última coisa que eu disse.

— Comigo e com Rajah é complicado por causa de quem Rajah é. Não é como você e eu. Você é... diferente.

Consigo sentir meu rosto ficar vermelho de novo. Tento não parecer ansiosa quando digo: — Diferente como?

Sei que estou cavando um elogio, mas não ligo.

— Você é fácil de estar junto. Não me faz ficar maluca e nervosa; você é... — Bárbara para de falar quando olha para o meu rosto. — Que foi? O que foi que eu disse?

Meu corpo todo fica tenso e rígido. Nenhuma garota quer ouvir o que ela acabou de dizer. Nenhuma. Uma garota quer deixar o parceiro ou parceira maluca e nervosa. Isso não faz parte de estar apaixonado?

— Estou falando de um jeito bom, Carolina. Você está com raiva? Não fique com raiva. — Ela esfrega o rosto, parecendo cansada.

Eu hesito. Bárbara e eu dizemos a verdade um para o outro; é assim que as coisas são desde o começo. Eu gostaria que continuassem assim, de ambas as partes. Mas aí, vejo a preocupação repentina em seus olhos, a incerteza, e não é uma coisa que eu esteja acostumada a ver nela. Não gosto de ver. Só estamos juntas
novamente há poucas semanas, e não quero começar uma nova briga se sei que ela não falou por mal.

Eu me ouço dizer:
— Não, não estou com raiva.

E, de repente, não estou mais. Afinal, sou eu quem estava preocupada de ir longe demais com Bárbara. Talvez seja bom ela não ficar maluca e nervosa por minha causa. As nuvens no rosto dela somem na mesma hora, e fica ensolarada e alegre de novo. Essa é a Bárbara que eu conheço. Ela toma um gole de chá.

— Está vendo, é o que quero dizer, Carolina. É por isso que gosto de você. Você entende.

— Obrigada.

— De nada.

P.S.: Ainda amo você |ADAPTAÇÃO BABITAN|Where stories live. Discover now