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DE MANHÃ CEDO, antes da aula, vejo Crusher tirando gelo do para-brisa do carro quando corro até o meu. Papai já tirou o gelo e ligou o motor e o aquecimento. Pela aparência do carro de Arthur, ele não vai chegar à escola a tempo. Quase não vimos Arthur desde o Natal; depois de toda a situação comigo e o rompimento com Lara, ele virou um fantasma nesta casa. Sai um pouco mais cedo para a escola, chega em casa um pouco mais tarde. Ele também nunca me procurou para conversar quando aquela coisa toda do vídeo aconteceu, embora parte de mim tenha ficado aliviada. Eu não queria ouvir Crusher dizer "eu te disse" sobre o quanto ele estava certo em relação a Bárbara.

Saio de ré da entrada da garagem e, no último segundo, abro a janela e me inclino.

— Quer uma carona? — grito para Arthur. Seus olhos se arregalam de surpresa.

— Quero. Claro. — Ele joga o raspador de gelo no carro e pega a mochila, depois vem correndo. Ao entrar, diz: — Obrigado, Carolina.

Ele aquece as mãos na saída de ventilação. Saímos do bairro, e estou dirigindo com cuidado, porque as ruas estão cobertas de gelo da noite anterior.

— Você está dirigindo muito bem — comenta Crusher.

— Obrigada. Eu tenho treinado, sozinha e com Bárbara. Ainda fico nervosa às vezes, mas, a cada vez que dirijo, fico um pouco menos, porque agora sei que consigo. Só sabemos que somos capazes de fazer uma coisa se perseverarmos.

Estamos a alguns minutos da escola quando Arthur pergunta:
— Quando vamos nos falar de novo? Só me diga para eu ter uma ideia por alto.

— Estamos nos falando agora, não estamos?

— Você sabe o que eu quero dizer. O que aconteceu comigo e com Lara foi entre nós. Você e eu não podemos voltar a ser amigos como antes?

— Arthur, é claro que ainda vamos ser amigos. Mas você e Lara terminaram há menos de um mês.

— Não, nós terminamos em agosto. Ela decidiu que queria voltar três semanas atrás, e eu disse não.

Eu solto um suspiro.

— Mas por que você disse não? Foi só pela distância?

Arthur também suspira.

— Relacionamentos dão trabalho. Você vai ver. Quando ficar mais tempo com Passos, vai entender do que estou falando.

— Ah, meu Deus, você é tão sabe-tudo. O maior sabe-tudo que já conheci além da minha irmã.

— Qual delas?

Consigo sentir uma risadinha crescendo dentro de mim, mas a sufoco na mesma hora.

— As duas. As duas são sabe-tudo.

— Só uma coisa. — Ele hesita, mas prossegue. — Eu me enganei sobre a Passos. O jeito como ela lidou com o vídeo. Dá para perceber que ela é uma garota legal.

— Obrigada, Crusher. Ela é, sim.

Ele assente, e há um silêncio confortável entre nós dois. Fico feliz pelo tempo ruim da noite anterior, feliz pelo gelo no para-brisa dele esta manhã.

P.S.: Ainda amo você |ADAPTAÇÃO BABITAN|Where stories live. Discover now