NA NOITE ANTERIOR ao Dia dos Namorados, coloco na cabeça que meu cartão para Bárbara não é o bastante, e que fazer folhados de cereja seria uma ideia fantástica, então acordo antes do amanhecer para prepará-los, e agora a cozinha parece uma cena de crime. Tem suco de cereja espalhado por toda a bancada e pelos azulejos. Está um banho de sangue, um banho de sangue de suco de cereja. Pior do que a vez que fiz bolo red velvet e deixei respingar corante comestível vermelho nas pastilhinhas da parede atrás da pia. Precisei limpar o rejunte com uma escova de dentes. Mas meus folhados ficam perfeitos, como se saídos de um desenho animado, todos dourados e caseiros, com as beiradas marcadas pelos dentes do garfo e os pequenos buracos para o vapor sair. Meu plano é servi-los no almoço; sei que Bárbara, Gs e Brabox vão adorar. Também vou dar um para o Marcos. E para Chris, se ela aparecer na escola.
Mando uma mensagem para Bárbara dizendo que não preciso de carona para a escola, porque quero chegar cedo e colocar o cartão no armário dela. Há algo doce em um cartão deixado em um armário; quando pensamos bem, um armário de escola é bem parecido com uma caixa de correio, e todo mundo sabe que cartas enviadas pelo correio são bem mais românticas do que as que são entregues em mãos, sem cerimônia.
Sophi desce por volta das sete da manhã, e nós duas preparamos uma mesa linda de Dia dos Namorados para papai, com os cartões dados por mim, Sophi e Lara arrumados ao redor do prato. Deixo dois folhados para ele. Perco a grande reação porque não quero chegar à escola depois de Bárbara. Ela sempre chega em cima da hora, então concluo que vai ser tranquilo chegar só cinco minutos antes.
Quando chego à escola, coloco o cartão no armário de Bárbara, depois sigo para o refeitório para esperá-la. Mas, quando entro, ela já está lá, de pé perto das máquinas de refrigerante com... Heloísa. Bárbara está com as mãos nos ombros dela, falando com seriedade. Rajah assente, com os olhos baixos.
O que poderia ser? O que será que a deixou tão triste? Ou será que é só fingimento, um jeito de manter Bárbara perto? O Dia dos Namorados chegou, e eu sinto como se estivesse interrompendo minha namorada com a ex-namorada dela. Bárbara está mesmo só sendo uma boa amiga ou tem outra coisa? Com Rajah, sempre sinto que tem outra coisa, quer Bárbara saiba ou não. Elas trocaram presentes de Dia dos Namorados, pelos velhos tempos? Sou eu que estou sendo paranoica ou é o tipo de coisa que exnamoradas que ainda são amigas fazem?
Rajah me vê, diz alguma coisa para Bárbara e passa por mim ao sair do refeitório. Bárbara anda na minha direção.
— Feliz Dia dos Namorados, Voltan. — Então me abraça e me levanta, com um pouco de esforço. Ao me colocar no chão, diz: — Podemos nos beijar em público, considerando a data?
— Primeiro, onde está meu cartão? — digo, esticando a mão. Bárbara ri.
— Está na minha mochila. Caramba. Você é tão gananciosa.
Seja o que for, consigo ver que ela está animada, o que, por sua vez, me anima. Ela pega minha mão e me leva até a mesa onde está sua mochila.
— Primeiro, sente-se — pede, e eu obedeço. Ela se senta ao meu lado. — Feche os olhos e estique a mão.
Eu faço isso e a ouço abrir o zíper da mochila e colocar uma coisa na minha mão, um pedaço de papel. Abro os olhos.
— É um poema — diz ela. — Para você. Porque os luares tristonhos só me trazem sonhos Da linda Carolina Voltan. E as estrelas nos ares só me lembram olhares Da linda Carolina Voltan.
Levo a mão aos lábios. Linda Carolina Voltan! Mal consigo acreditar.
— É a melhor coisa que alguém já fez para mim. Eu poderia apertar você até matar de tão feliz que estou.
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P.S.: Ainda amo você |ADAPTAÇÃO BABITAN|
RomanceEm Para todos os crush's que já amei, Carolina Voltan não fazia ideia de como sair dessa enrascada, muito menos sabia que o namoro de mentirinha com Bárbara Passos, inventado apenas para fugir do total constrangimento, se transformaria em algo mais...