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É O ÚLTIMO jantar de Lara antes de ela voltar para a Escócia. Papai faz costelas com batatas gratinadas. Até prepara um bolo de chocolate.

— Anda tão cinzento e frio; acho que um bolo de chocolate vai trazer um pouco de alegria —comenta ele. Em seguida, passa o braço ao redor da minha cintura e dá um tapinha na minha barriga, e, apesar de não perguntar, sei que ele sabe que tem alguma coisa bem mais séria do que minha menstruação acontecendo.

Mal tivemos chance de botar o garfo na boca e papai pergunta:
— Esse molho Barbecue está com o mesmo gosto do da vovó?

— Tipo isso — digo. Papai faz boca de tristeza, e eu acrescento depressa: — Acho que pode estar até melhor.

— Eu amaciei a carne do jeito que ela falou — diz papai. — Mas não está soltando do osso como a dela, sabe? Não se devia nem precisar de faca para comer costela quando é preparado do jeito certo. — Lara está cortando um pedaço com a faca de carne, e para na mesma hora. — A primeira vez que comi costela desse jeito foi com a mãe de vocês. Ela me levou a um restaurante brasileiro no nosso primeiro encontro e pediu tudo brasileiro e me explicou o que era cada prato. Fiquei tão impressionado com ela naquela noite. Meu único arrependimento foi vocês não ficarem na escola brasileira. — Os cantos da boca dele se curvam para baixo por um momento, mas logo ele está sorrindo de novo. — Comam, meninas.

— Papai, a Universidade da Virgínia tem um curso de português — digo. — Se eu entrar lá, com certeza vou fazer português.

— Sua mãe ficaria feliz — diz papai, e aquela expressão triste volta a aparecer no rosto dele.

Rapidamente, Lara fala:
— A costela está deliciosa, papai. Não tem comida brasileira boa na Escócia.

— Leve um pouco de torresmo — sugere ele. — E um pouco daquele chá de boldo que vovó trouxe do Brasil. Você também devia levar a panela elétrica de arroz.

Sophi franze a testa. — Como é que a gente vai fazer arroz?

— Podemos comprar uma nova. — Com um tom sonhador, ele acrescenta: — Eu adoraria fazer uma viagem de férias em família para lá. Não seria ótimo? Sua mãe sempre quis levar vocês para o Brasil. Vocês ainda têm muitos familiares lá.

— Vovó pode ir com a gente? — pergunta Sophi.

Ela fica dando pedaços de carne escondido para Jamie, que está sentado perto da mesa de jantar, nos observando com olhar esperançoso. Papai quase engasga com uma batata.

— É uma ótima ideia — ele consegue dizer. — Ela seria uma boa guia.

Lara e eu trocamos um sorrisinho. Vovó deixaria papai louco em uma semana. O que me empolga são as compras.

— Ah, minha nossa, pensem só em todos aqueles papéis de carta — digo. — E as roupas. E os prendedores de cabelo. E BB cream. Eu devia fazer uma lista.

— Papai, você podia fazer aulas de culinária brasileira — sugere Lara.

— É! Vamos pensar nisso para o verão. — Ele já está se empolgando, consigo perceber.

— E depende dos horários de todo mundo, claro. Lara, você vai passar o verão todo aqui, não é? — Foi o que ela disse na semana anterior. Ela olha para o prato.

— Não sei. Não tem nada decidido ainda. — Nosso pai faz uma expressão intrigada, e Sophi e eu trocamos um olhar. Isso só pode ter a ver com Arthur, e não a culpo. — Talvez eu consiga um estágio no Royal Anthropological Institute em Londres.

— Mas pensei que você tivesse dito que queria voltar a trabalhar em Montpelier — diz papai, com a testa franzida, sem entender.

— Ainda estou decidindo tudo. Como falei, ainda não tenho nada resolvido.

P.S.: Ainda amo você |ADAPTAÇÃO BABITAN|Where stories live. Discover now